“Pitões das Júnias” uma das minhas eternas paixões…
Localizada em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, no bonito concelho de Montalegre, Pitões das Júnias é uma das mais tradicionais e pitorescas aldeias transmontanas, que tem conseguido manter ao longo dos séculos a sua pequena população e o aspeto medieval, de construções em pedra, sendo um dos principais atrativos turísticos desta região nos meses de Verão, contando já com algumas unidades de turismo ecológico.
A origem desta aldeia origem confunde-se com a do Mosteiro de Santa Maria das Júnias, localizado num vale isolado, consagrado à Senhora das Unhas que acabou por se tornar Senhora das Júnias. O ano de 1147 será a data provável da fundação do mosteiro das Júnias, como atesta a data gravada no muro da igreja. Sabe-se que a incorporação na importante Ordem de Cister ocorreu no séc. XIII, sendo este o estabelecimento cisterciense mais isolado que se tem conhecimento.
Desculpem a introdução, mas como cronista amador sinto-me na obrigação de os contextualizar, não vá ainda alguém pensar que esta volta gira em torno de pitões vulgarmente utilizados nas chuteiras e de Júnia a única mulher entre os apóstolos nomeada explicitamente no Novo Testamento.
Esta volta ocorreu durante o mês de julho do corrente aquando da minha curta estadia em Portugal para as férias de Verão.
Uma semana antes da volta, já sabia o que nos aguardava e em abono da verdade como poderão constatar pelas chapas, uma verdadeira volta digna dos “Bravos do Pelotão”.
Para quebrar a rotina e para que sintam um pouco do espírito que normalmente norteia as nossas saídas, permiti-me transcrever abaixo alguns emails sem o consentimento dos respetivos autores, “but who gives a damn”.
Email do nosso “trackman” Pereira, sobre a minha questão de quantos éramos:
“Boas,
Quantos somos? Não sei!
Dados da volta? Não sei! Apenas sei os dados que toda a gente sabe, através do Google!
O que é que eu sei? Às 07h45 de sábado 11/07/2014, na rotunda do ouro, estou a arrancar para Pitões!
É preciso saber mais alguma cosa? Não!!!
Quem aparecer, vai ter com certeza um dia extraordinário de btt! Não havendo azares, claro!!!
Hasta la mañana!!!“
Depois disto, palavras para quê !
Eis a resposta de um outro Bravo cujo nome não vou mencionar (só espero que não esteja a ler
).
“É oficial.
Não tenho bike para o fds. Ainda repousa em Moledo após a sua última viagem, e não consegui ir buscá-la.
Ademais, talvez mais significativo, pela leitura do track parece-me que para além de não ter bike também não tenho pernas…”
Para finalizar a resposta do bravo “Viegas”.
“Eu posso ir?! No fim há posta, certo?”
Afinal o amigo Viegas não pode participar isto porque na véspera resolveu (não sei se propositadamente
) espetar uma haste de metal com cabeça e de ponta aguçada, vulgarmente apelidado de prego (não confundir com a sande de bife de vaca) e segundo a “wifa” a coisa andou preta uma vez que “nuestro compañero no tenía la vacuna contra el tétanos en día”.
Quanto aos restantes elementos dos “Toupeirinhas do Pedal” que aceitaram o repto, apenas quero deixar aqui publicamente o meu agradecimento. Já tinha ouvido falar de vossemecês, mas “in loco” e sem tretas, pude confirmar que merecem todo o meu respeito; se um dia resolverem mudar de clube, são dignos de pertencerem aos “Bravos do Pelotão”.
Obrigado ao Barros, um dos tipos mais cool que conheço, apenas um pequeno reparo, a vida é simples, para quê por vezes complicar
Obrigado ao Pedro, um autêntico puro-sangue, pudera também era o mais jovem do grupo, mas como disse Cristo “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”
Obrigado ao Nicolau, homem de poucas palavras mas com uma força e uma genica que muitos invejarão quando tiverem a sua idade, este homem tem energia para dar e vender
Obrigado ao Filipe, pois embora debilitado, aguentou km após km, nunca tendo desistido ou mostrado quaisquer sinais de fraqueza mental
Como disse alguém “Dos fracos não reza a história” eu prefiro “Dos ausentes não reza a história”, pelo que meus amigos, não sabem o que perderam. Voltas como esta são uma dádiva.
Eis parte dos registos do dia… (restantes encontram-se na página
Bravos do Pelotão, ver crónica
Nº055).
Un petit aperçu de “Pitões das Júnias” a 1.100 mts, sendo esta uma das mais altas aldeias de Portugal, já que a sua outra concorrente “Gralheira” foi extinta em 2013.
O grupo formado por 6 elementos, Barros, Nicolau, Filipe e Pedro, todos pertencentes aos “Toupeirinhas do Pedal” e do “côté” dos “Bravos do Pelotão”, me, myself and I e o suspeito do costume, Pereira. Acreditem que não foi pera doce tirar chapas com estes senhores, é que os tipos não reduziam a cadência por mais que lhes pedisse e depois era um vê se te avias para os apanhar.
Dino Meira, cantor da minha geração costumava cantar “Meu querido mês de Agosto”, mas esta volta realizou-se em Julho. Conseguem ficar indiferentes a estes tons de verde?
Mais do mesmo.
Eu e o amigo Pereira eramos por opção os últimos, enquanto alguns “melrinhos”, aqui visíveis na foto “s’amusaient” a picar a malta. Não vou mencionar nomes amigo Nicolau e amigo Pedro!
A Serra do Gerês nunca deixou de nos acompanhar durante toda a volta.
Pereira, “El hombre” com quem eu nunca me canso de partilhar estes momentos. Ele e o BTT perfazem a simbiose perfeita.
Nicolau e Pedro em plena ação. Aqui o Speedy González teve de fazer um esforço sobre humano para chegar a ultrapassar estes senhores.
Apenas um dos primeiros obstáculos a ser ultrapassado.
Para quem não sabe, a +/- 4 kms de Pitões das Júnias, já nos encontramos em “Spagna” (não confundir com a cantora do hit “Call me” de 1987, mais infos para certos revivalistas em
https://www.youtube.com/watch?v=IRDqtdSpmLQ )
Um dia espetacular, boa companhia, que mais pode um homem desejar!
As “Gralleiras” do lado espanhol a quase 1.400 mts.
Ponto mais alto da volta a 1.340 mts. Uma descida de +/- 10 kms nos aguarda.
A caminho da albufeira de “Salas”.
“Albufeira de Salas” em pano de fundo e em primeiro plano “Serra do Pisco”.
Para nosso azar, para lá chegar ainda temos de descer um bom par de kms. Conseguem ver no meio da vegetação ao centro “La capilla de Santa María de Castro”?
Sempre a descer… Foi aqui que pude confirmar que a descer não há pai para as roda 29, independentemente do “driver” (para os mais puristas). Matei-me para conseguir seguir o Pedro, claro que o “gajo” também não é um qualquer cavalo
.
Se tivesse rodado um pouco mais para a direita tinha apanhado “Tourém”.
Aldeia de “Guntumil” ao fundo, por onde vamos passar dentro em breve.
“La capilla de Santa María de Castro”.
“Guntumil” conta com +/- 150 habitantes.
Estas já marchavam!
À chegada a “Guntumil”, Pereira, Barros e Nicolau.
Alguém me sabe dizer quantos são os Cavaleiros do Apocalipse
?
Barragem de “Salas”.
Enquanto o “Je” parava para imortalizar o momento, estes “meninos” (não levem a mal) já se encontravam no caminho visível do lado esquerdo.
A partir de agora começa a verdadeira dureza (sempre subjetiva para alguns, só mesmo para quem vivenciou). Alguns dados para justificar a minha afirmação: encontramo-nos a 817 mts e temos de subir até aos 1.226 mts para além de que nos encontramos a cerca de 26 kms do nosso destino; para finalizar, está um calor do “cara…” > a 30ºC. Como constatam estão reunidos os 3 condimentos que estes Bravos tanto adoram para a elaboração dum prato divinal.
Esqueçam o “gajo”. Quién es tu? “Casola do Foxo” Dólmen datando de 3.000 anos a.c. Não se encontra na sua posição de origem, isto é, teve de ser deslocado devido à construção da barragem.
Aqui começam os nossos problemas, o trilho tinha simplesmente sido “englouti” pela vegetação.
“Coto das Galleiras” em pano de fundo. Uma das minhas fotos favoritas pois para além do enquadramento tem um significado muito especial quanto ao sofrimento sofrido para aqui chegar.
Compreendem agora porque adoro tanto o Gerês!
Sabia de antemão que gráficos de altimetria em forma de serra são f.d.. Obrigado Pereira, tornaste-te num “trackman” digno desse nome! Obrigado pela dureza, sal da vida e da camaradagem!
Chegada à aldeia abandonada de “Salgueiro”.
Pelos vistos para se poder visitar tem de se pedir previamente uma autorização em “Lobios”, mas nada como uma visita “à la sauvette”. Quando se entra na aldeia, “on a la chair de poule”, tal é a beleza.
Um último adeus a “Salgueiro”.
Hei-de cá regressar sempre que me for possível. Esta volta merece.
“Gracias por estos paisajes!”
Para os que não puderam participar, esta foto assim como a próxima são só para meter asco
.
Não quiseram vir, então tomem lá que é para aprenderem. Não sabem o que perderam!
Viemos de longe, de muito longe mesmo!
Dados da volta: distância 44 km, acumulado de subida 1.350 mts, altitude máx. 1.340 m, altitude min. 817 mts.
No final e porque já passava das 15h00, retemperamos energias em Pitões das Júnias, no restaurante Dom Pedro (pena não ter website), onde nos deleitamos com umas “balentes” postas, umas alheiras, morcelas, etc.. tudo isso regado a preceito com um bom “binho” da casa.
Agora que olho para estas chapas tiradas há um bom par de meses, “je me rends compte” que para mim nada é mais importante que estes momentos vividos com estes camaradas de armas; enche-se me a alma de uma certa nostalgia, não de tristeza, mas sim de alegria pelas paisagens, pelas agruras passadas e superação das mesmas e sobretudo pela camaradagem e espírito de grupo vivenciado.
Para finalizar em beleza vou fazer minhas palavras de alguém, que é como quem diz, vou citar
o meu grande amigo Pereira “A partilha descritiva desta fantástica viagem, com um provável leitor, por meras palavras, fica muito aquém de qualquer emoção ou sentimento vivencial, somente possível aos bem-aventurados que responderam “Presente!” e deram o seu contributo para mais um dia memorável de btt”.
Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…
Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…