Já que estamos numa de nostalgia, vou deixar aqui o meu desabafo.
É com um prazer enorme que vejo tanta gente a falar destas bicicletas,
que só diferem das outras nesse pequeno promenor: as mudanças!
Como disse o Indy, 17 páginas e quase 3 anos depois :shock: ainda me detenho a ver este
tópico muitas vezes, percorrendo as muitas das mensagens que por aqui se foram colocando
com um sorriso na cara por ver tanta diversidade de opiniões e a felicidade estampada
nas palavras de quem escreve sobre o assunto com conhecimento de causa!
Por muito passou este tópico, chegando a ser bloqueado e temporáriamente
removido para uma "limpeza", numa altura em que eu pessoalmente comecei a achar
que o universo de utilizadores deste fórum não estava preparado para perceber o fenómeno.
Felizmente a insistência de pessoas como o Indy, ou o sniper_pt, que desafiaram, e muito bem,
as decisões da moderação, e continuaram a falar no assunto, fizeram com que ele
se tornasse no que hoje aqui assistimos.
Acho que o tema está bem de saúde e recomenda-se.
Quanto ao meu balanço pessoal em SingleSpeed, não me lembro muito bem
das primeiras voltas, mas sei muito bem onde e como tudo começou
(aliás, o mesmo local onde começaram todas as minha pancadas ciclisticas...).
Cliente e amigo da Ciclonatur e do António Malvar há mais de 10 anos,
cedo tive contacto com as SingleSpeed.
O António foi provavelmente, juntamente com o Pedro Carvalho, a primeira pessoa em Portugal
a adoptar a SS como sua principal bicicleta.
Não sei se no 1º Portalegre já foi numa, mas se não foi no 1º, foi no 2º.
Confesso que aquilo não me fazia muito sentido, e achava que era uma parvoíce
com tanta tecnologia ao nosso serviço, para quê "andar para trás?".
Entretanto tudo passou a ter 9 velocidades e eu vi-me obrigado a mudar quase todos
os meus componentes, que costumavam durar anos, para poder continuar a ter a minha bike
em condições para andar.
Tudo isto coincidiu com a altura em que eu fazia o "clique" para o Btt, e passei a andar cada vez mais.
Passei a ir a pedalar de casa para a Serra da Arrábida e dar lá uma voltinha, em vez de levar o carro,
passei a fazer mais passeios, apareceram as maratonas... etc...
Por isso é que os componentes (agora de 9 velocidades) passaram a durar menos,
não pensem que eram assim tão melhores (até eram, alguns, mas pronto). :mrgreen:
Sem eu dar por isso, estava a equacionar passar o material (já com alguma qualidade) que tinha
na minha Kona Cinder Cone de CroMoly já com uns aninhos, para outro quadro que me
garantisse pelo menos a mesma felicidade que este tinha feito até aqui.
O aparecimento das ST e a velocidade com que as bikes e componentes mudavam sempre
me assustou, e acabei por perder a cabeça e depois de equacionar muito bem os prós e os contras
lá me decidi pelo belo quadro de titânio (bendita hora e obrigado António... mais uma vez).
Foi esta mudança que me fez decidir participar naquele que considero o "evento" de btt
mais enriquecedor que alguma vez fiz; A Travessia de Portugal em Btt.
Já estão a ver de quem foi a culpa mais uma vez.
E foi aqui que a SS surgiu como uma realidades para mim (já estavam a dizer que nunca mais lá chegava).
Eu se não visse com os meus olhos, se calhar também duvidava, mas pude constatar
para meu espanto que era possível fazer 1200 Km's, de Bragança a Sagres, em 17 dias
consecutivos a pedalar, sem ter desviadoes, cabos, manípulos, cassetes para desafinar ou avariar.
A partir daí foi um processo de amadurecimento que foi crescendo.
Muitas horas na internet e em conversas com quem percebia do assunto, foram gastas para chegar a uma conclusão viável.
A matéria prima já tinha. Muitas peças a ganhar pó e um quadro que se apresentava como
quase ideal para o efeito.
Depois foi só articular a melhor maneira de colocar em prática tudo aquilo que já sabia
(pensava eu que era muita coisa) e construir a minha SingleSpeed.
Eu admiro muito o pessoal que pega na bike velha que lá anda para a garagem,
retira toda a parafernália das mudanças, arranja um sistema qualquer para dar tensão
à corrente (ou não), e siga.
A sério que eu ás vezes penso que gostava de ser mais assim. Menos calculista e mais decidido.
Mas a minha natureza não o permite e as coisas comigo (e para mim) tem que ser "daquela" maneira.
Quem me conhece sabe do que estou a falar.
Com a SS não podia ser diferente. Se era para fazer, era para fazer bem feito. O melhor que eu sabia e podia.
"Aldrabar" nunca foi coisa que eu gostasse muito, e inventar a roda também não.
O tensor tinha que ser XPTO da marca tal, mesmo assim depressa foi à vida e deu lugar
a uma alteração específica do quadro, os velhos V-Brakes passaram à história e uns Magura
hidráulicos ocuparam o seu lugar (fiabilidade era a palavra de ordem).
A forqueta tinha que ser adaptada. Caixas de rosca eram coisa que sempre me fez confusão.
A pintura também tinha que ser algo que durasse, e já agora aproveitava-se para "actualizar"
o quadro com "passa-tubos" e a eliminação de "passa-bichas".
Mais uma carga de trabalhos com coisas a voarem dos EU (cá nem vê-las).
Enfim, um longo processo que ainda não vai ficar por aqui, mas que chegou a um ponto
que já me permite parar de pensar tanto na bicicleta e mais nos que ela me proporciona.
As vistas, as conversas, o exercício, a liberdade ....
A minha utilização desta bicicleta continua a ser limitada.
Não sou fundamentalista e também me dá muito prazer andar com mudanças.
Gosto de tecnologia. Gosto de poder constatar que as minhas escolhas quando gastei
uma pequena fortuna para ter uma bicicleta fiável e funcional foram acertadas.
Gosto de ver as mudanças XTR ou XPTO a funcionar e a suspensão com o sistema POP-LOC-ROC-AUTO-blá-blá-blá
Gosto de tudo isto, mas também gosto muito de não ter de gostar de nada disto :shock: (Ouch!)
As saídas mais frequentes começaram talvez há dois anos com algumas vindas para o trabalho
e o respectivo regresso a casa com passagem pelos trilhos, na recente transformada Cinder Cone.
Depressa se revelou uma excelente opção.
Depois foram com os passeios nocturnos que, no ano passado, se organizaram aqui pela Arrábida.
O facto de não ter que pedalar até à serra, torna a coisa mias fácil, pois o "handicap" das SS
é rolar em estradas / estradões +/- planos, como é o caso.
Também como à noite todos os gatos são pardos, e os andamentos sempre mais contidos,
não havia o problema de ficar para trás a atrasar muito os grupos, que normalmente nestas saídas
nocturnas é tudo menos homogéneo.
Esporadicamente, a minha SS entra assim nuns devaneios do dono, como foi o famoso Tróia-Sagres
feito já duas vezes sem mudanças.
Este ano, para confirmar alguma dúvida que podia permanecer, decidi fazer a maratona de Portalegre
com a típica relação 34/19 e tive uma muito agradável surpresa, chegando ao fim com a nítida
sensação que podia ter puxado um pouco mais por mim.
A verdade é que quando decidi fazer isto estava em tão má forma (achava eu), que pensei
arranjar uma desculpa para desistir ao fim de umas horas. Felizmente isso não aconteceu!
Motivado pelo sucesso :lol: resolvi fazer as etapas da Travessia de Portugal que pude este ano (6 etapas)
do mesmo modo e a coisa não podia ter corrido melhor.
No primeiro dia, a pedalar sozinho ao encontro do resto do pessoal (em sentido contrário),
passei perto de 9 horas a pedalar (e a beber Ice Tea nas esplanadas) e os Km's pareciam não fazer mossa.
Também, o Parque Natural do Douro Internacional não nos dá muito espaço para pensar em mais nada
para além das vistas de cortar a respiração.
Muitos me chamaram maluco, principalmente de V.V. de Ródão para o Marvão,
mas para quem anda de SS, ser chamado de maluco é tão normal como ser chamado
de tó-tó quando se chega à praia no início do verão com bronze de ciclista.
Hoje vou voltar aos nocturnos, e como não podia deixar de ser, a SS estará presente.
Penso que cada vez mais irei adoptar esta bicicleta como principal companheira de aventuras,
e assim que puder, talvez comece a tentar levar para a frente outro projecto que já anda aqui
às voltas desde o primeiro drop-out soldado neste quadro.
Claro que isto é coisa para durar uns valentes anos antes de ver a luz do dia,
mas isto é mesmo assim....
Sejam muito felizes!
Abraço!
JC