@
Joao.T
Venho apenas aqui comentar as tuas declarações sobre o uso dos meios apropriados relativamente às vitimas de abuso de autoridade. Na teoria isso é tudo muito bonito, mas
na prática o cidadão comum pouco ou nada consegue fazer contra esses abusos. Seja por falta de meios, recusa das autoridades ou porque a palavra de um policia prevalece sempre contra a do cidadão. Aliás, em tribunal a palavra do policia é a "verdade" e tem que ser o acusado a provar a inocência, numa inversão total da lógica legal e abrindo espaço a todo o tipo de abusos.
Embora não seja uma pessoa de me meter em confusões, posso contar-te cinco casos passados comigo e que demonstram bem o que se passa com as autoridades neste país. Já têm algum tempo mas penso que todos esses policias se mantêm ainda hoje ao serviço.
O mais grave passou-se comigo e com o meu irmão em que fomos agredidos por um grupo de tipos em plena festa popular na zona do palco durante um concerto. Nunca cheguei a perceber o motivo do ataque, mas a dada altura disseram que me tinham confundido com alguém. Não sei se isso é verdade, ou se foi apenas um acto de iniciação daquele grupo/gangue. A verdade é que havia no local policias, nomeadamente junto ao palco, e quando uma amiga os foi chamar não estava nenhum, em lado algum. E posso dizer-te que toda a gente no local assistiu ao que aconteceu. Aliás, segundos antes eu tinha visto um carro da policia estacionado e no final já lá não estava.
No dia seguinte, fui apresentar queixa nomeadamente contra a falta de acção da policia. Fui levado ao gabinete do comandante onde acabei por ser gozado e não me aceitaram qualquer queixa. Vim mais tarde a saber, que um dos membros do gangue (o mais perigoso e que exibiu uma arma durante as agressões para nos impedir de fugir) era filho de uma determinada pessoa.
Como não tinha dinheiro para advogados, tudo ficou por aqui e todos se safaram menos nós.
O segundo caso passou-se na vinda de um jogo de futebol, em que um mafioso tentou assaltar um meu amigo que estava bastante alcoolizado. Perante a situação, e ao ver que um policia estava a passar por nós chamei-o e pedi ajuda, ao que me foi respondido que já não estava de serviço e que me desenrascasse! Não fosse um militar a passar por nós e a aperceber-se do que se estava a passar ajudando-nos, e não sei como tudo terminaria.
O terceiro caso caso refere-se à violência dentro das esquadras, e foi-me dito por um alto graduado. Referindo-se aos Punks disse: "Esses levam pouca porrada na esquadra, levam..."
O quarto, passou-se no Bairro Alto em Lisboa. Vinha a descer a rua com uns amigos à noite e a conversar
normalmente quando dois policias com ar extremamente agressivo nos ameaçaram (sim ameaça, e não foi de multa) por irmos a falar "alto". Ficámos calados pois já sabíamos do "prazer" que os policias no Bairro Alto tinham em manter a "ordem". Mas ficámos a olhar para trás a vê-los passar serenamente pelas portas de bares com imensa gente alcoolizada na rua, a falar aos berros e a beberem ainda mais como se nada fosse. Se calhar as "relações" deles com os donos dos bares eram mais "cordiais" que connosco... Ou aquela zona tinha isolantes sonoros invisíveis...
Por último e relativamente ao ciclismo, posso contar o caso de um GNR meio alcoolizado que implicou comigo, pois durante uma viagem de bicicleta de vários dias parei numa zona ajardinada à volta de uma rotunda para almoçar. Estava sentado num banco virado para a rotunda e a bicicleta encostada por trás do banco para não impedir a passagem das pessoas no passeio. O GNR, com tom ameaçador (que novidade...) disse que tinha que sair dali ou então colocar a bicicleta encostada aos painéis publicitários DENTRO DA ROTUNDA! Que não podia ter a bicicleta a pisar a relva! O outro GNR mais novo até ficou de boca aberta e ainda o tentou demover, mas como era o superior... O pior é que na altura estava com um casal alemão que estava a fazer a mesma viagem mas em sentido contrário e na mesma situação. Havias de ver o ar de assustado deles sem perceber a razão porque estavam a ser alvo de uma atitude descontrolada daquelas por parte deu agente da autoridade. O que achas que aconteceria se fosse ao quartel apresentar queixa? Acabámos por ir para outro lado onde ainda encontrámos uma pequena sombra, pois isto foi no final do Verão no interior Algarvio.
Por isso, as coisas não são como se costumam pintar. Não tenho nada contra as autoridades, e sou dos que discorda da degradação das condições de trabalho, o mau salário, a desautorização que sofrem e até as penalizações severas apenas por cumprir o serviço e tentarem proteger a população como em casos muito mediáticos do passado recente. Mas há muitos maus profissionais, e a população está muito desprotegida contra esses pelo corporativismo herdado do fascismo e falta de meios económicos.