Etapa 0: A ideia, os preparativos, a viagem e a chegada a León
Tudo começou como qualquer outra nossa aventura... “e que tal fazermos o caminho Primitivo de Santiago!?”; “Hmmm....”; “(...) então e se fosse o de S. Salvador mais o Primitivo!? ”.
O caminho Primitivo foi escolhido por ser o caminho utilizado pelos primeiros peregrinos e por ser um dos mais duros, o de S.Salvador por passar na cordilheira Cantábrica tornando-o complicado por natureza.
O desafio estava lançado para a primeira semana de Outubro e o Pedro, o Fernando, o Daniel e o Kemp abraçaram esta aventura épica sem grandes hesitações. Os preparativos começaram a ser feitos com bastante antecedência, marcação de férias, planeamento das etapas, estadias, material/equipamento necessário, etc, etc... O tempo foi passando e a data da partida estava cada vez mais próxima.
Contudo começámos a ter alguma dificuldade em arranjar transporte e quando faltavam 2 dias para iniciar a viagem depois de várias tentativas sem sucesso lá conseguimos arranjar transporte e motorista para León. Havia sempre a alternativa comboio e/ou transporte próprio como última hipótese mas graças ao amigo Raúl esta acabou por não ser opção fazendo o grande favor de nos ir levar a León numa carrinha alugada. Assim foi, no sábado à hora combinada lá estava o Raúl pronto para nos levar e o nosso colega Luís que fez questão de se vir despedir de nós e desejar um “buen camiño”.
A viagem foi longa mas a boa disposição esteve sempre presente.
A meio da manhã parámos em Castro Daire para beber um café e para enganar o estômago e seguimos viagem até Chaves onde parámos para almoçar aquela que seria a última refeição portuguesa nos próximos 6 dias. Ao almoço o Daniel lembrou-se que deveríamos levar as cores da nação durante a nossa peregrinação e assim foi comprámos um lenço para o efeito e seguimos viagem. A última paragem já foi em terras espanholas para beber um “café solo” e esticar as pernas.
Depois do Raúl nos deixar em León começou a nossa aventura. A primeira coisa que fizemos foi procurar a catedral para o primeiro carimbo da jornada.
Depois de algumas fotos da praxe fomos procurar o albergue onde iríamos ficar.
O Albergue não era mau mas aparentava ser pouco sossegado...
Depois de deixar as mochilas e guardar as bicicletas fomos procurar um local calmo para jantar. Não foi fácil pois era sábado à noite e a cidade já estava repleta de vida.
O jantar foi um prato combinado típico dos nuestros hermanos.
Antes de regressarmos ao albergue ainda demos uma pequena caminhada pela zona histórica da cidade.
Muito bonita, bem iluminada e com muita vida!
Regresso à base e ZZZZzzzzz.... ????
Naaa! Afinal o albergue era mesmo muito pouco sossegado!
Foi complicado dormir nessa noite! Muito complicado....
Etapa 1 - 02 Outubro: León - Pajares
Depois de uma noite mal dormida o pequeno almoço tinha que ser reforçado para equilibrar a balança mas o albergue não tinha nada que pudesse satisfazer as necessidades nutritivas de um ciclista como tal procuramos uma mercearia onde compramos pão, queijo, fiambre, sumo, água e fruta e fomos até um sitio calmo e sossegado para comer.
Após o pequeno almoço fomos até à Catedral de León para darmos inicio à nossa aventura e tirarmos algumas fotos. Seguimos as conchas e deixamos para trás a zona histórica e urbana da cidade. Percorridos alguns kms de asfalto já fora da cidade entramos numa zona de trilhos com pouca vegetação e solos secos. Foi então que apareceram as primeiras subidas maioritariamente curtas mas com alguma inclinação e os primeiros single-tracks.
Tínhamos previsto que esta seria a etapa rainha da nossa aventura e aos poucos fomos andando e passando por várias vilas e aldeias abastecendo água nas várias fontes que fomos encontrando pelo caminho. Andámos cerca de 30kms por vales sempre na margem esquerda do rio Benesga e seguimos caminhos e estradas de menor dimensão. Ao chegarmos à Estrada Nacional 630 parámos junto a uma fonte para comer algo mais consistente com os mantimentos que tínhamos comprado de manhã.
Até ao momento tínhamos feito a parte mais fácil da etapa. Se até aqui o terreno tinha sido acessível tecnicamente daqui para a frente as coisas iam mudar.
Ao chegar à aldeia de Buiza tínhamos duas hipóteses de seguir o camiño. Uma delas é desaconselhada no inverno (a vermelho) por causa da neve e porque passa em locais de difícil acesso.
Como estava bastante calor e o que nos move é a aventura (e um “pouco” de insanidade) seguimos exactamente por esse trilho.
A partir daqui a pedra começou a ser predominante nos trilhos, quer a subir quer a descer, a média baixou de forma significante e passado algum tempo chegamos novamente a uma outra aldeia chamada Rodiezmo.
Mais uma vez havia alternativa e desta vez até era por estrada, apenas 9kms!
Mas não, nós tínhamos ido fazer o caminho de Santiago e era pelo caminho que íamos continuar e lá seguimos pelo trilho até ao topo da montanha, até que a determinada altura este deixou de ser ciclável! (Até mesmo para quem fosse percorrer a pé era complicado)
Ou seja, durante cerca de 5km os papéis inverteram-se e tivemos que ser nós a transportar a bicicleta pela montanha.
5km podem parecer pouco mas no topo da montanha percorrer esses kms e carregar com a bicicleta é uma experiência única!
O silêncio era quase total, não havia nada a não ser montes de perder de vista, à medida que chegávamos ao fim de um monte começávamos a descobrir o outro.
As placas que indicavam o camiño eram em ferro, altas para puderem ser vistas quando há neve. Podia-se facilmente constatar que aqueles caminhos eram percorridos por muito poucos peregrinos. O que tinha de perigoso tinha na mesma proporção de grandioso e magnífico. A natureza no seu estado mais puro!
Com muito esforço chegámos ao topo da montanha, o caminho para descer era um single track que desaparecia nalgumas zonas.
Lá fomos nós com bastante cuidado até chegarmos a uma zona menos complicada.
Nessa altura o sentimento de alivio era mútuo, a parte pior estava feita! Já era tarde, tínhamos pouco mais de 1h de luz e ainda não sabíamos onde íamos ficar. Apenas sabíamos que não íamos cumprir o planeado que era chegar a Pola de Lena! Com isso em mente descemos o resto do trilho até Puerto de Pajares.
Após algum tempo tínhamos finalmente chegado ao asfalto. Naquela localidade não havia albergue e tivemos que ir até Pajares 400mts de desnível mais abaixo. Tivemos que descer por estrada. Foi uma descida vertiginosa com curvas apertadas onde a velocidade alcançada era tão grande que chegava para ultrapassar os carros. Ficámos com um sorriso de orelha a orelha!
Chegámos à aldeia de Pajares e fomos procurar o albergue, graças às indicações dos habitantes locais lá encontrámos o sitio. À porta estavam outros peregrinos que nos disseram que a responsável não estava presente e que tínhamos que lhe ligar para saber se havia camas vagas. Os mesmos alertaram-nos para o facto de que ali na aldeia não havia nenhum local para jantar e que eles tinham combinado com a responsável do albergue e que ela traria jantar para eles. Nessa altura ficámos preocupados mas houve camas e jantar para todos! Após um dia muito duro nós merecíamos!
Por fim os alongamentos....
Lições aprendidas:
Podemos concluir que a distância é sempre relativa, terminámos o dia com cerca de 70kms e 1500mts de acumulado numa etapa muitíssimo dura num terreno bastante complicado com muita pedra e subidas de todo o género. Para compensar a dureza desta etapa percorremos trilhos fantásticos extremamente divertidos pudemos apreciar paisagens fantásticas e tivemos um contacto único com a natureza. Outro factor chave foi o calor, que provocava desidratação e perda de sais muito rapidamente. Foi necessário beber muita água e muitas bebidas isotónicas.
Foi um desafio gerir o esforço físico e mental!
Um conselho para quem queira fazer esta etapa, não optem pelo caminho de inverno se tiverem menos de 2h de luz.
Tudo começou como qualquer outra nossa aventura... “e que tal fazermos o caminho Primitivo de Santiago!?”; “Hmmm....”; “(...) então e se fosse o de S. Salvador mais o Primitivo!? ”.
O caminho Primitivo foi escolhido por ser o caminho utilizado pelos primeiros peregrinos e por ser um dos mais duros, o de S.Salvador por passar na cordilheira Cantábrica tornando-o complicado por natureza.
O desafio estava lançado para a primeira semana de Outubro e o Pedro, o Fernando, o Daniel e o Kemp abraçaram esta aventura épica sem grandes hesitações. Os preparativos começaram a ser feitos com bastante antecedência, marcação de férias, planeamento das etapas, estadias, material/equipamento necessário, etc, etc... O tempo foi passando e a data da partida estava cada vez mais próxima.
Contudo começámos a ter alguma dificuldade em arranjar transporte e quando faltavam 2 dias para iniciar a viagem depois de várias tentativas sem sucesso lá conseguimos arranjar transporte e motorista para León. Havia sempre a alternativa comboio e/ou transporte próprio como última hipótese mas graças ao amigo Raúl esta acabou por não ser opção fazendo o grande favor de nos ir levar a León numa carrinha alugada. Assim foi, no sábado à hora combinada lá estava o Raúl pronto para nos levar e o nosso colega Luís que fez questão de se vir despedir de nós e desejar um “buen camiño”.
A viagem foi longa mas a boa disposição esteve sempre presente.
A meio da manhã parámos em Castro Daire para beber um café e para enganar o estômago e seguimos viagem até Chaves onde parámos para almoçar aquela que seria a última refeição portuguesa nos próximos 6 dias. Ao almoço o Daniel lembrou-se que deveríamos levar as cores da nação durante a nossa peregrinação e assim foi comprámos um lenço para o efeito e seguimos viagem. A última paragem já foi em terras espanholas para beber um “café solo” e esticar as pernas.
Depois do Raúl nos deixar em León começou a nossa aventura. A primeira coisa que fizemos foi procurar a catedral para o primeiro carimbo da jornada.
Depois de algumas fotos da praxe fomos procurar o albergue onde iríamos ficar.
O Albergue não era mau mas aparentava ser pouco sossegado...
Depois de deixar as mochilas e guardar as bicicletas fomos procurar um local calmo para jantar. Não foi fácil pois era sábado à noite e a cidade já estava repleta de vida.
O jantar foi um prato combinado típico dos nuestros hermanos.
Antes de regressarmos ao albergue ainda demos uma pequena caminhada pela zona histórica da cidade.
Muito bonita, bem iluminada e com muita vida!
Regresso à base e ZZZZzzzzz.... ????
Naaa! Afinal o albergue era mesmo muito pouco sossegado!
Foi complicado dormir nessa noite! Muito complicado....
Etapa 1 - 02 Outubro: León - Pajares
Depois de uma noite mal dormida o pequeno almoço tinha que ser reforçado para equilibrar a balança mas o albergue não tinha nada que pudesse satisfazer as necessidades nutritivas de um ciclista como tal procuramos uma mercearia onde compramos pão, queijo, fiambre, sumo, água e fruta e fomos até um sitio calmo e sossegado para comer.
Após o pequeno almoço fomos até à Catedral de León para darmos inicio à nossa aventura e tirarmos algumas fotos. Seguimos as conchas e deixamos para trás a zona histórica e urbana da cidade. Percorridos alguns kms de asfalto já fora da cidade entramos numa zona de trilhos com pouca vegetação e solos secos. Foi então que apareceram as primeiras subidas maioritariamente curtas mas com alguma inclinação e os primeiros single-tracks.
Tínhamos previsto que esta seria a etapa rainha da nossa aventura e aos poucos fomos andando e passando por várias vilas e aldeias abastecendo água nas várias fontes que fomos encontrando pelo caminho. Andámos cerca de 30kms por vales sempre na margem esquerda do rio Benesga e seguimos caminhos e estradas de menor dimensão. Ao chegarmos à Estrada Nacional 630 parámos junto a uma fonte para comer algo mais consistente com os mantimentos que tínhamos comprado de manhã.
Até ao momento tínhamos feito a parte mais fácil da etapa. Se até aqui o terreno tinha sido acessível tecnicamente daqui para a frente as coisas iam mudar.
Ao chegar à aldeia de Buiza tínhamos duas hipóteses de seguir o camiño. Uma delas é desaconselhada no inverno (a vermelho) por causa da neve e porque passa em locais de difícil acesso.
Como estava bastante calor e o que nos move é a aventura (e um “pouco” de insanidade) seguimos exactamente por esse trilho.
A partir daqui a pedra começou a ser predominante nos trilhos, quer a subir quer a descer, a média baixou de forma significante e passado algum tempo chegamos novamente a uma outra aldeia chamada Rodiezmo.
Mais uma vez havia alternativa e desta vez até era por estrada, apenas 9kms!
Mas não, nós tínhamos ido fazer o caminho de Santiago e era pelo caminho que íamos continuar e lá seguimos pelo trilho até ao topo da montanha, até que a determinada altura este deixou de ser ciclável! (Até mesmo para quem fosse percorrer a pé era complicado)
Ou seja, durante cerca de 5km os papéis inverteram-se e tivemos que ser nós a transportar a bicicleta pela montanha.
5km podem parecer pouco mas no topo da montanha percorrer esses kms e carregar com a bicicleta é uma experiência única!
O silêncio era quase total, não havia nada a não ser montes de perder de vista, à medida que chegávamos ao fim de um monte começávamos a descobrir o outro.
As placas que indicavam o camiño eram em ferro, altas para puderem ser vistas quando há neve. Podia-se facilmente constatar que aqueles caminhos eram percorridos por muito poucos peregrinos. O que tinha de perigoso tinha na mesma proporção de grandioso e magnífico. A natureza no seu estado mais puro!
Com muito esforço chegámos ao topo da montanha, o caminho para descer era um single track que desaparecia nalgumas zonas.
Lá fomos nós com bastante cuidado até chegarmos a uma zona menos complicada.
Nessa altura o sentimento de alivio era mútuo, a parte pior estava feita! Já era tarde, tínhamos pouco mais de 1h de luz e ainda não sabíamos onde íamos ficar. Apenas sabíamos que não íamos cumprir o planeado que era chegar a Pola de Lena! Com isso em mente descemos o resto do trilho até Puerto de Pajares.
Após algum tempo tínhamos finalmente chegado ao asfalto. Naquela localidade não havia albergue e tivemos que ir até Pajares 400mts de desnível mais abaixo. Tivemos que descer por estrada. Foi uma descida vertiginosa com curvas apertadas onde a velocidade alcançada era tão grande que chegava para ultrapassar os carros. Ficámos com um sorriso de orelha a orelha!
Chegámos à aldeia de Pajares e fomos procurar o albergue, graças às indicações dos habitantes locais lá encontrámos o sitio. À porta estavam outros peregrinos que nos disseram que a responsável não estava presente e que tínhamos que lhe ligar para saber se havia camas vagas. Os mesmos alertaram-nos para o facto de que ali na aldeia não havia nenhum local para jantar e que eles tinham combinado com a responsável do albergue e que ela traria jantar para eles. Nessa altura ficámos preocupados mas houve camas e jantar para todos! Após um dia muito duro nós merecíamos!
Por fim os alongamentos....
Lições aprendidas:
Podemos concluir que a distância é sempre relativa, terminámos o dia com cerca de 70kms e 1500mts de acumulado numa etapa muitíssimo dura num terreno bastante complicado com muita pedra e subidas de todo o género. Para compensar a dureza desta etapa percorremos trilhos fantásticos extremamente divertidos pudemos apreciar paisagens fantásticas e tivemos um contacto único com a natureza. Outro factor chave foi o calor, que provocava desidratação e perda de sais muito rapidamente. Foi necessário beber muita água e muitas bebidas isotónicas.
Foi um desafio gerir o esforço físico e mental!
Um conselho para quem queira fazer esta etapa, não optem pelo caminho de inverno se tiverem menos de 2h de luz.
in Geotrilhos
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