“Rira bien, qui rira le dernier”, assim diz o povo …
Se bem se recordam, na penúltima crónica vi-me forçado a digerir o facto de não ter podido alcançar o mítico Hoher Kosten 1.791 mts (vulgo antena), tendo explanado na referida crónica, as razões da dita indigestão.
Tentando imaginar o que me aguardava, procurei preparar-me física e mentalmente para esta aventura (os registos e comentários, falarão por si).
Uma vez que não possuo GPS, toca na noite anterior (sou noctívago por natureza, “rendo” melhor…) a idealizar um track via Google Earth, em que tomei nota numa folha A5 de todos os cruzamentos, das diferentes altimetrias, dos diferentes relevos, dos diferentes prédios etc… (mais pormenorizado era impossível).
Sabendo o sofrimento que me aguardava, queria dar por bem empregue o tempo despendido na prossecução desse objectivo “subjugar o Hoher Kosten” e acabar com o seu sorriso sarcástico.
Gosto de pessoas que lutam por objectivos, em minha opinião só assim vale a pena estar vivo, pelo que desde o dia em que pequei por Gula, muita coisa aconteceu, que eventualmente poderia negar-me atingir o meu “Nirvana”, a começar pelo meu portátil que foi atacado por um “motherfuc…” dum vírus (tive de arranjar forma de mandar vir de Portugal CDs para instalar novamente o Office e o Windows Premium, que passou para Profissional. Nada como ter amigos, já que esta malta daqui só trabalha em alemão, língua que o meu cérebro se recusa a aprender…); a seguir era o Google Earth que se recusava a arrancar ou mesmo a efectuar ligações ao servidor, não conseguindo nitidez nas imagens que me permitissem marcar um track e para finalizar o tempo, sobretudo a chuva que nesta zona da Helvécia, não tem dado tréguas.
Vamos a números:
Hora de saída da minha estância de férias: 09h30
Hora de chegada à minha estância de férias: 20h30
Nº total de kms rolados: +/- 65 kms
Temperatura do dia: entre 27 e 30º
Nº de litros de água ingeridos: perto de 4,5 Lt
Nº de litros de bebida isotónica ingeridos (no meu caso cerveja): 1,5 Lt (os mais experientes nestas andanças, sabem que a cerveja é um bom repositor dos sais minerais perdidos durante longos períodos de transpiração, que foi o caso)
Nº de “Ben-u-ron 1000” tomados: 1 (cãibras nas coxas). Quem rola em solitário, por vezes não tem consciência do grau da taxa de esforço e em grande parte dos casos, rola acima dos limites físicos.
Eis parte dos registos do dia… (restantes encontram-se na página Bravos do Pelotão, ver crónica Nº009)
A caminho de Brülisau (ponto de partida para aceder ao Hoher Kasten). Vejam se adivinham qual é o macho?
A causadora do meu desassossego.
Capela muito bonita, muito próxima do entroncamento de Plattenbödelli (1.279 mts). Como sabem para chegar aqui (vide fotos da crónica Nº007), tive de voltar a efectuar aquele penoso caminho que dá acesso ao lago Sämtisersee. O lago fica a 1 km deste local.
Caminhos fenomenais a contornar a montanha.
Caminhos a perder de vista. Como calculam, para aceder ao topo tinha de ir rodeando a montanha com o respectivo sob e desce.
Achei a ideia interessante, para quem desejar ser “pastor de abelhas”.
O que é a dor, quando comparada com a beleza das paisagens. Como dizia um camarada, “a dor é efémera, mas estas paisagens ficam eternamente gravadas na nossa memória”.
Panorâmica. Onde está o teleférico?
Pois é, vim detrás daquele morro em primeiro plano.
Água nunca faltou. Se é boa para o gado, mal não me deve fazer…Não se deixem iludir pela perspectiva.
O Ebenalp visto de um outro ângulo.
Início da “anarquização” da ordem estabelecida, neste caso de sinais de proibição ou a revolta de um Bravo. A esta altura, não sabia ainda o que me aguardava. Mais tarde vim a descobrir o que queria dizer a placa BERGLAUF Km 6.
Single fantástico. Afinal BERGLAUF quer dizer Corrida de Montanha, 12 kms para os homens e 8 kms para as mulheres e decorrem nestes trilhos de montanha. Estamos sempre a aprender…
O meu destino (Kamor e Hoher Kasten). Tirei este instantâneo com a finalidade de deixar uma questão no ar (Concurso). Porque será que o tubo que suporta as placas, à semelhança de outros encontrados nesta zona, possui ao seu redor arame farpado? O primeiro user a responder correctamente aqui no Forum BTT (a informação foi-me veiculada por um nativo com quem meti conversa em francês), verá o logo do seu grupo ser promovido na respectiva secção da página Bravos do Pelotão. Não é muito, mas não tenho verba para poder patrocinar uma vinda cá… Vá lá, quem arrisca…
Se até aqui, não tinha sido “pêra doce”, a partir daqui começa o martírio (na verdadeira acepção da palavra), durante cerca de 5 kms, em que passamos dos 1.300 mts aos 1.700 mts.
Curvas para todos os gostos. A partir de certa altura a gravilha passou a asfalto de forma a evitar-se a erosão do caminho. Que me desculpem os Gregos, mas vi-me… para cá chegar.
Já perto do Kamor (quinta ligada à criação de gado a 1.562 mts). Ou seja, vacas para todos os gostos.
Mais um sinal anarquizado. Aquelas montanhas ao fundo já fazem parte do Liechtenstein.
Säntis (antena) ao fundo. Embora estivesse um dia de sol fantástico, havia uma névoa que não permitia grande nitidez nas fotos. Paciência.
Trânsito proibido a quê? Só mesmo para chatear o pessoal. Acham mesmo que depois de todo este sofrimento, não ia prosseguir. “Até podia, mas não era a mesma coisa.”
Não me ocorrem palavras, para descrever esta imagem. Este é daqueles momentos “Zen”.
São cerca de 400 mts a subir, para superar cerca de 100 mts de desnível. Foi exactamente aqui que tive de recorrer ao “Ben-u-ron 1000”.
Sim, vim por ali.
“First shot of the other side”. Aqui um caminhante queria tirar-me uma foto ao lado da bicla. Agradeci e recusei, tendo explicado os motivos, pois os Bravos do Pelotão preferem mostrar os locais por onde vagueiam do que autopromoverem-se.
Afinal, sempre é verdade “Quem ri por último, ri melhor”. E agora, não dizes nada?
É por imagens como esta que não me canso de rolar e eventualmente sofrer. Pena a neblina.
Pormenor do lago Sämtisersee 1.209 mts. Parafraseando o Malato “Já fui muito feliz ali”.
Vejam se adivinham o caminho que segui para o regresso. Não, não é esse. Segui aquele que está à direita do utilizado para a vinda e que se embrenha na floresta. Não fosse eu um “crazy” Bravo do Pelotão, optei por percorrer 1.500 mts para um desnível de 350 mts, do que regressar pelo mesmo.
O outro lado da montanha, com o Reno a cortar a paisagem. Confesso que fiquei um pouco desiludido, enfim.
Restaurante. Não, não foi aqui que me deleitei com a bebida isotónica. Ainda havia muito para andar.
As vistas, convidam à contemplação, daí a grande quantidade de bancos.
Estamos a falar de 5.000 m2 de área e cerca de 400 variedades de plantas, todas catalogadas. Mas não foi por isso que vim cá.
A descer foi com uma “perna às costas”, passo a expressão, em grande parte do trilho, não tivesse eu tirado o curso no trilho das Minas dos Carris (Gerês).
Mais um single soberbo. Adrenalina ao rubro. Embora só, arrisquei mais do que devia e os erros aqui pagam-se caro (Desculpem, não devia dizer isto em público, uma vez que a família pode estar a ler, mas soube muito bem).
O teleférico é quase como as carraças, nunca descola, ou tive sempre sorte no momento do disparo.
Brülisau ao fundo e cruz utilizada como referência ao longo do trilho.
Sempre a descer, nem acredito.
Um último olhar, como quem diz “Adeus e nunca mais cá ponho os pés”, a não ser acompanhado, por convite de preferência.
Mais um single fantástico.
Por diversas vezes no decorrer da volta, mas sobretudo quando iniciei a subida dos famigerados cinco quilómetros, veio-me ao pensamento, abortar a mesma, pois era tanto o sofrimento, o cansaço, a solidão. Fui assolado por várias dúvidas, mas a cada metro, quilómetro conquistado, voltava a ganhar novo alento, e já só pensava na Vitória, na Conquista, na Subjugação do Hoher Kasten.
“No pain, no gain”, para mim BTT é isso mesmo, assim mesmo.
Quando estava lá em cima a contemplar as vistas, esqueci por completo tudo o que tinha acontecido, mas agora imaginem se tivesse desistido…
São estes momentos de sofrimento (voluntários) que nos fortalecem e nos permitem sempre encarar a vida com outros olhos. Obrigado Hoher Kasten.
Cheguei também à conclusão que esta será também por uns tempos a minha última tirada (a ver vamos, sou um mentiroso compulsivo, betetisticamente falando) nesta zona, mas como sempre, já descobri novos trilhos para desbravar noutra zona do Säntis e quando isso acontece começo a sentir uma comichão…
Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…
Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…