Tu não és um bttista

Nozes

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Oh Rui,obrigado mas não sou nem quero ser um "guru" como queres fazer crer com as tuas palavras. Nem exijo mais respeito ou seja o que for só porque ando cá há mais tempo que os outros,sou tão importante como alguém que comprou uma bike hoje à tarde.
O que tenho a mais é experiência,já vi muito neste desporto,e espero cá continuar para ver muito mais. O que escrevi,embora alguns não tenham apanhado o verdadeiro sentido,foi para tentar pôr as pessoas a pensar,e pelos vistos foi conseguido.

Coutada,obrigado pela tua resposta. Há muitos que certamente vieram aqui,leram o texto e não disseram nada,provavelmente porque não conseguiam encontrar as melhores palavras para se expressar.
Há coisas que se calhar não percebeste no meu texto. Como tu,eu faço competição.Ui,se faço competição! Desde 1993,cerca de 310 provas,entre XC,DH,maratonas,e mais recentemente Enduro btt.
E também tenho bike de estrada,e uso-a! Aliás,este Inverno tenho-a usado bastante.

Comecei na competição porque queria ver como era mas principalmente porque queria pedalar com mais gente,porque andava quase sempre sozinho (e ainda ando!). Ainda lá continuo porque é algo que já faz parte de mim.Não treino todos os dias,não disputo nenhuma Taça mas vou a todas as provas que o meu horário por turnos me permite,há algumas que não dispenso,as que sei que me vou divertir e são desafiantes em técnica.

Se releres o texto,deves perceber que mais do que apontar o dedo e dizer "este é bttista,aquele não é",o mesmo serve apenas para alertar pessoas como tu que existe muito mais btt do que apenas treinar e competir por esses estradões fora. Não disse que não podes ser feliz assim,mas digo que tu ou outro como tu pode descobrir que o nosso desporto tem muito mais para dar.
Entretanto,bons treinos,e os melhores sucessos no ano que agora começa. ;)
 

SeteGu

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O conceito de btt assenta num principio básico: bicicleta todo o terreno. Claro que a definição que o Nozes adotou não será igual à minha nem a minha igual à definição adotada por muitos outros users e daí surgir este tópico existir e com alguns conflitos de opinião. O Nozes afirma que "tu não fazes btt" segundo a sua definição de btt e aí é perfeitamente legitimo que o diga.

Falando agora da minha verde experiência (tenho 20 anos; como uns 10 de BTT) para ajudar a perceber o que é para mim o BTT:

Em 2000 a minha Avó comprou-me a primeira bicicleta roda 26" supostamente para me durar a vida toda (tal como a que deu à minha mãe que ainda "dura"). A bicicleta era (ou é) uma FS reles (suspensão RST Omega 80mm - 1" | Amortecedor de mola - single pivot | 7v | 16,5 kg, etc...). Mas sabem uma coisa? O quanto eu me diverti nesta bicicleta...
Nos primeiros anos nem sabia o que era o BTT... sabia sim o que era andar de bicicleta no "bairro" com os meus amigos. Mas eu gostava... aliás adorava... mas comecei a sentir que o meu "bairro" já não me satisfazia.
Comecei a combinar voltas mais longas com os meus colegas. Íamos ali, íamos acolá descobrir aquele caminho de terra que ia dar àquela descida ou aquelas curvas (hoje chamo-lhe singletrack). A minha vontade de andar de bicicleta era tanta que já não tinha amigos/colegas que satisfizessem a minha vontade de pedalar: "agora só queres andar de bicicleta" ou "epá hoje vamos fazer outra coisa" etc... Por vezes ainda hoje oiço isso de alguns amigos e rio-me. Quando perguntam o que vamos fazer a minha primeira sugestão é sempre andar de bicicleta seguida de jogar futebol.

Infelizmente não faço tanto btt como antes (quase todos os dias). Tenho mais (alguma :mrgreen: ) responsabilidade (estudar) e ganhei outras prioridades (namorada).

Este fórum veio-me mostrar uma nova perspetiva. Não digo que seja pior mas diferente... embora não me identifique muito com ela. Após um período de indecisão/reflexão cheguei à conclusão que não me divirto mais ou sou mais feliz por ter menos 1kg na bicicleta... para mim, a diversão está no trilho e nos percursos que mais gosto de fazer... Aliás adoro trilhos que "me ponham à prova" e, por vezes, gosto de arriscar (no risk, no fun). Também já me magoei a sério mas isso também faz parte... sempre se ganha algum juízo. :mrgreen:


Curiosamente nunca paguei para andar de bicicleta. É uma ideia que não me agrada... de todo... e realmente a auto-suficiência e das coisas que mais prazer me dá no BTT... liberdade. Digo isto apesar de não gostar tanto de andar sozinho (faço sempre voltas muito mais curtas quando assim é) e não quer dizer que não participe numa prova... aliás já esteve para acontecer algumas vezes a convite de amigos e apenas não participei por mera ocasionalidade.

Resumindo limitem-se a pensar no que vos faz feliz (não só... mas também) em cima de uma bicicleta desde que não prejudiquem ninguém. A vossa definição de BTT não será mais certa nem mais errada que nenhuma outra.
 

Rui Marçal

New Member
Boas Nozes,

Podes não querer ser um guru, mas és. E aqui na comunidade do fórum há muita gente que sabe que sim...

Além disso, escreves sempre com muita humildade como acabaste de fazer. Isso é de alguém que além de ser educado não tem nada a provar a ninguém nem anda aqui com paneleirices (perdoem-me a expressão) nem com caganças (como se vê muito por essas maratonas fora). Basta ver como escreveste...

Já pedalei contigo e já o disse várias vezes, até me ensinaste várias coisas. Muita malta, o que faz é calar-se e rir-se da malta que anda pior. No passado, fora da competição não havia nada disso, só interajuda.

Há cerca de 22 anos atrás comprei a 1ª bike de BTT (se é que se poderia chamar assim). Tinha 21 velocidades de marca Órbita. Sem suspensão. Não fazia nada do que faço hoje, limitava-me ao estradão, alcatrão e por algumas vezes carreiros de cabras (ainda não havia a designação single track). Não havia conta km, por isso não faço ideia do que fazia. Mas, no verão, ia com os amigos dar uns mergulhos e para alguns sítios mais longe chegávamos a fazer cerca de 25km, ir e vir, para os dias de hoje nada de especial.

Não havia carneiras mas os selins de 500grs eram confortáveis.

As rodas pesavam 3 kgs e empenavam muito facilmente, bastava um ou outro pião em alcatrão e já ficava torta, lol...

A bike, para mim era o meu meio de transporte para todo o lado. Até tinha matrícula porque na altura quem não tivesse matricula, a GNR passava de Jeep e carregava a bike para o posto, depois iam lá os pais pagar a multa e levantar a bike. Os tempos eram outros, muito diferentes.

Agora como diz o Nozes e bem, muita coisa mudou, não para pior, talvez nem para melhor, é a evolução. Mas essa evolução pode ser boa para quem gosta de competir, para mim é indiferente, até posso dizer que ganho com isso. porque as organizações das maratonas arranjam novos trilhos, limpam os trilhos e mais cedo ou mais tarde acabamos todos por usufruir deles.

O que mais condeno e o que o Nozes também deve condenar é o canibalismo que a competição obriga, não todos os participantes, mas muitos deles. A sede de ganhar a todo o custo, se necessário metem "material" para ganhar potência, tomam-se comprimidos para as dores para aguentar mais e enganar o organismo. Treina-se dia e de noite só para ganhar, o quê? Nada, só se for auto-estima...

E as organizações que começaram a fazer maratonas para as massas, para o povo, para ter centenas de participantes, fazem coisas com pouco sentido, sem técnica. E quando acaba deixa as fitas, as placas e o lixo espalhado pelo chão. Há códigos de conduta que o bttista deve cumprir, e, este é um deles. Respeitar a natureza.

Revejo-me muito nas palavras do jovem SeteGu.

Boas pedaladas malta.
 

wawando

Member
Apesar de ser um post um bocado lamechas (diria mesmo até a roçar o panisgas) é sempre bom revisitar e ler o que a malta escreve.
Parabéns Nozes. Top, é este o espírito!
 

Mach 4

New Member
Um dono de uma loja muito conhecida aqui no Porto, com larga experiência no mundo do btt, uma vez disse-me que tinha deixado de ir a fóruns de btt exactamente porque, segundo ele, já não se aprende nada e que muita gente quer ensinar o que não sabe, assim como outros dizem bem ou mal de algo sem nunca ter experimentado ou feito alguma coisa sobre o que estão a argumentar.
Concordei com ele em parte, mas discordei nalguns pontos. No entanto, e já no fim da nossa conversa, ele acrescentou uma coisa em que eu concordei a 100%. Ele apenas virou-se para mim e perguntou-me :

"Sabes quem é que gosta mesmo de BTT??...

Não são os que compram muito material...
Não são os que só vão ao fórum ver os resultados/rescaldos das provas...
Não são os que criticam as organizações, a fraca comida ou a água fria dos duches...
Não são os anoréticos que padecem compulsivamente da "doença" das gramas...
Não são os que tem 6 ou 7 bicicletas ou uma btt de top de 7.000,00eur...
Não são os que treinam e competem e que andam apenas a tentar ganhar tempo ao tempo...
Não são os que sujam a bike só para mostrar na ciclovia que foram para o monte...

Os que REALMENTE gostam de fazer btt são :

...os que gostam de escrever as suas crónicas para mostrar aos outros por onde andaram
...os que perdem tempo a tirar fotos das magnificas paisagens e dos trilhos por onde passaram
...os que perdem tempo a filmar/montar/editar os seus videos
...os que relatam com prazer as suas aventuras e depois partilham os tracks do seu GPS
...os que ensinam e incentivam os outros para praticarem melhor esta modalidade.

A competição matou o espirito do btt - e isto sou eu que o afirmo.
 
concordo com o Mach 4 acho que está muito bem dito, o Sr. Venceslau a mim também me disse para eu não me preocupar tanto com os km que faço mas sim com o tempo que ando e para fazer treinos sempre de 2 horas no mínimo. Também me disse que o mais importante não é a bicicleta nem os seus componentes mas sim as pernas do bttista.

São estas pequenas frases que nos entram na cabeça e ficam.
 

j.santos

New Member
Olá a todos!
Tenho acompanhado este tópico mas ainda não tinha encontrado a melhor forma de me expressar relativamente a este tema.

Antes de mais gostava de dar os parabens ao autor do topico. Muitos o consideram um GURU... Ao qual o mesmo recusa, caracteristica da
sua humildade como pessoa.
Eu proponho que se lhe toque com a espada no ombro e que seja nomeado como Sir Nozes.

Gostava também de me expressar em relação ao meu conterraneo Mach4. Não que eu seja adepto do bairrismo, mas porque admiro a forma como encara
o BTT e como se expressa em relação à pratica do mesmo. Não sei se alguma vez me cruzei contigo mas gostava de um dia pedalar ao teu lado.
Num post anterior mencionas (entre muitas outras coisas):

"Os que REALMENTE gostam de fazer btt são :
...os que ensinam e incentivam os outros para praticarem melhor esta modalidade."

Pegando nesta frase gostava de relatar que vivenciei hoje um acto de puro altruismo (relacionado com o BTT)
Todo o mérito vai por inteiro para um grupo de amigos que se juntam no concelho da Maia/Porto. Os MeetingPointBTT.

Sendo eu novo nesta prática, sinto necessidade de me juntar a grupos para por um lado, conhecer caminhos novos como também, "beber"
do seu entusiasmo.
Já não é primeira vez que me junto a este grupo, mas hoje o convite veio com a promessa de uma surpresa.
Ao chegar ao PE estava um elemento com uma bike bastante humilde... bem... era um bike de ferro pintada à mão, sem suspensão, quase sem travões, pneus carecas...
O dono da mesma partilhava da mesma humildade mas o que ele queria era pedalar junto dos amigos, independentemente da condição da sua bike.
Vi aquilo como uma grande lição de humildade. Enquanto muitos andam a mostrar a suas Scott, Ghost, Canondale, FOXes, Rockshox´es... ele andava
com a bike mais humilde que eu já vi. E deviam ver o quanto ele curtia!!!
A melhor parte vem agora! Ele (o Vitinha, como todos o tratam) fez anos ontem. Qual foi a surpresa da volta de hoje? O grupo juntou-se e ofereceu-lhe uma
bike novinha em folha com material mais que razoavel. Para além de material diverso para a pratica do BTT.
Tenho a certeza que a diversão do Vitinha será a mesma, mas agora vai andar seguro, confortavel e em estilo.


Querem maior exemplo do que é ser um verdadeiro Bttista?
 

commendatore

New Member
Há boa gente em todo o lado. Esse é um gesto sem preço.
Já dizia a minha mãezinha: "come e não reclames porque há quem não tenha nada para comer". Hoje em dia essa realidade tão distante, está nos lares ao lado do nosso...
A educação, humildade, reconhecimento nunca ficaram mal a ninguém.

Algures li que alguém disse que a bicicleta era a melhor invenção do mundo. Eu não concordo, mas no fundo...até podia ser.
Só depende da nossa vontade, para andar. Se há sensação de liberdade, seja em criança, seja em adulto é poder estar a sentir o vento na cara e saber que o que nos está a transportar é controlado por nós...seja numa estrada acabadinha de alcatroar, seja numa ravina junto ao mar a ser passeada â mão.
Só nós é que lhe damos o destino que quisermos. Ela é um meio para lá chegarmos.
Admiro a força de vontade de muitos que treinam para ser os "melhores" naquilo em que competem. Admiro porque conseguem traçar os seus objectivos, são metódicos nos seus treinos, conseguem saber exactamente o ritmo a que vão, elevação, e agora com GPS's coordenadas em tempo real.

Por outro lado, sinto saudades dos tempos em que me perdia sem saber bem onde estava, só porque na véspera tinha visto um carreiro de terra batida que "tinha de ir dar a algum lado".
Se há treta que gosto é da Natureza. A selva urbana onde tenho de viver e trabalhar ensina-me a apreciar os momentos que tenho sózinho. Todos temos problemas na vida, e quando pedalo, penso em tudo menos neles.

Há dias em que saímos e a mais mísera descida ou trilho novo descobertos por acaso, é uma dádiva divina e ficamos com um sorriso de orelha a orelha por passarmos num sitio que o dono queria alcatroado ou "em condições" à dezenas de anos.

Tanta porcaria que fazemos ao planeta, tanto tempo da nossa vida que é perdido a trabalhar, em chatices, tretas, que não são nada... e nem temos tempo ou lembrança de olhar o céu e ver como somos pequenos...insignificantes.

A bicicleta permite andar por todo o lado... não faz barulho, não polui, e é para mim uma medicina alternativa.
 

carrixo

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O Vitinha nem queria acreditar quando viu tal presente e diz ele "isto é tudo pra mim?? tens a certeza??" tal humildade deste jovem..
Eu fiquei emocionado no acto da entrega do presente ao Vitinha, sem duvida um acto de louvar..
 

bluffer

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Fiquei sensibilizado com a cena do Vitinha :bompost:

Imagino o bem que o pessoal se deve ter sentido.

Mas passemos à minha interpretação do BTT.

Desde pequenino que o meu sonho era ter uma bicicleta, lembro-me que o sonho passou por uma pasteleira, depois veio a BMX com amortecedor ao meio e então apareceram as bicicletas de montanha com as quais se podia subir a rampa que passava em frente à minha casa sempre sentado :O. Mas durante os meus primeiros 24 anos de vida, não passou disso mesmo...de um sonho. Os meus pais nunca tiveram possibilidade de me comprar uma bicicleta. Houve uma altura em que o meu avô me prometeu que me oferecia uma, chegou mesmo a comprá-la e depois...deu-a antes ao meu primo. Não sinto rancor nenhum por isso, foi apenas o adiar do sonho.

Quando fui estudar para a Universidade, sai de casa dos meus pais e claro, tive que sustentar os estudos, o que me levou a ter que arranjar trabalho. Depois de estar algo estabilizado, obviamente, o que fiz foi concretizar o meu sonho, comprar uma bicicleta. Comprei uma daquelas dos hipermercados, 28 contos na altura. Desci oprimeiro passeio com ela e a roda empenou. O cabo do travão rebentou, levei-a a uma loja de bicicletas e iam-me excomungando por apresentar aquilo ali para arranjar...aquilo era "apenas" o meu sonho. A custo lá me arranjaram a roda e o travão e levei-a para casa...nesse fim de semana roubaram-ma das escadas do prédio.
Fiquei de rastos tive a bicicleta uma semana... resolvi adiar mais uma vez esta parte da vida.
Uns anos mais tarde, vi uma bicicleta linda na montra da loja lá do bairro. Era linda (para mim). Era em aço e custou-me 149€. Como o Sr. da loja me disse que era boa, siga de a comprar...e aquilo é que foi andar, sempre sozinho pois ainda não conhecia ninguém no meio, mas que prazer sentia quando ia andar de bicicleta e chegava a casa todo "cagado" de lama.
Entrei na minha primeira prova com ela, e que emocionante que foi, tanta gente de bicicleta à minha volta...cheguei em último na Internacional de Idanha. Deu para perceber o que era aquele meio. Havia gente para competir e outra para curtir e a entreajuda estava sempre presente :)
Certo dia, ao terminar uma das minhas voltinhas, ainda hoje agradeço a sorte que tive, pois foi a 200m da loja das bicicletas, rebentou-se aquilo tudo, transmissão, carreto, etc :eek: tudo a rebolar na estrada. Levei-a à mão até à loja e o Sr. Zé disse que mais valia comprar uma nova porque o valor do arranjo daquilo ia ser superior ao valor da bicicleta. Estava lá uma tão linda que fiquei logo apaixonado... 10 vezes sem juros 750€...sigaaa.
Era a minha Merida Matts 2009, bem mais levezinha que a outra. Participei em muitas provas e passeios com ela, demo-nos sempre muito bem, e já não chegava sempre em último, só algumas vezes. Mas dava para ver, em todas as provas, o espírito das provas. Como ia chegar nos últimos, de todas as maneiras. Parava sempre que via alguém sozinho em apuros, ajudar a trocar pneus, caimbras, etc. Posso considerar que sou um verdadeiro expert a trocar pneus dos outros :). E aqui entra o Karma. A ùnica vez que me esqueci de levar bomba de ar, foi quando eu próprio tive um furo... e tanta gente que passou e nem ai nem ui, até que houve um rapaz que levava a namorada e mandou-a ir andando que ele já a apanhava. E lá ficou a ajudar-me a dar à bomba. Eu já tinha tido aquela atitude de ajudar o outro tantas vezes e ainda não tinha compreendido o grato que se fica estando do outro lado...
Depois desta prova, caí de mota e parti uma perna. Fiquei uns tempos sem o prazer de pedalar. Mas, ainda não estava totalmente recuperado e ainda andava em fisioterapia, houve uma XCR em Castelo Branco, e eu, coxo fui participar, tal era a fome com que andava. A meio da segunda volta ia eu a pé e vem atrás de mim um rapaz que tinha tido um furo, ele vinha a correr com a bicicleta à mão. Passou-me toda a minha vida de bicicleta à frente e perguntei-lhe :"Queres levar a minha roda?" Ele olhou pra mim e perguntou se estava a brincar eu disse que não, que estava ali só pelo fun. Ele aceitou a minha oferta e disse que estaria na meta à minha espera. Ainda faltavam 4Km para a meta e eu coxo e fiz aquilo tudo a pé. Ainda antes de chegar, passou o colega de equipa do rapaz (estavam a participar em dupla) e agradeceu a minha atitude. Quando cheguei à meta lá estavam 5 ou 6 pessoas à minha espera. Muito gratos e senti-me tão bem, mas tão bem.

Isto tudo para dizer que temos que ter o espírito aberto, porque há gente que entra para competir e outros entram para testar limites e outros ainda entram pela diversão e pelo prazer que é andar de bicicleta. Temos que respeitar todas essas formas de estar e não catalogar as pessoas só porque tiveram determinada atitude, ou porque têm objetivos diferentes dos nossos.
Eu ando porque gosto, quer me considerem BBTista ou não :)
 

Blue85

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@ j.santos - bonita história! grande atitude dos teus amigos!

Ainda no outro dia presenciei também uma situação que me deixou bastante impressionado.
Aqui na minha terra há dois miudos que praticam downhill com bicicletas já bastante razoávies e que costumam por vezes andar no meio da cidade a fazer "avarias".

Um destes dias, estava eu à espera dos meus amigos para seguirmos a nossa voltinha de fim de semana, e lá aparecem os dois miudos do costume a fazer os seus saltos e truques, mas desta vez vinham acompanhados por um outro miúdo, bem mais novo do que eles (não teria mais do que 12 anitos). Este 3º elemento aparentava ser um rapazote de origem bastante humilde, não estava bem vestido, trazia umas normais calças de ganga e um casaco que para o frio que estava nem era nada adequado. Infelizmente o miúdo não deve ter posses para mais.
Pois bem, lá andavam os dois artistas do downhill com as suas joelheiras e capacetes integrais no meio da cidade a dar saltos, e o outro miúdo seguia-os para todo o lado montado na sua bem velhinha BMX de amortecedor ao centro, com os pneus bem vazios e já com muita ferrugem à mistura. Lá andava o miúdo super divertido na sua bicicleta bem humilde!

Aquela cena impressionou-me bastante e fiquei a pensar naquilo. CHeguei inclusive a pensar dizer ao miudo que passasse por minha casa um dia, e teria todo o gosto em dar-lhe um quadro de btt que tenho encostado em casa bem como mais alguns componentes que para mim já são apenas "sobras"...
Tenho pena de não ter visto mais o miúdo, pois teria todo o gosto em dar-lhe o material para ele poder eventualmente montar uma bicicleta melhor para ele! Entretanto não mais o voltei a ver e também suponho que depois não teria possibilidades para completar a montagem da bicicleta!

Mas acho que aquele espírito do miúdo representa tudo neste mundo das bicicletas! Muito boa gente com Scotts, Cannondales, e Specializeds devia pôr os olhos na alegria daquele miúdo com uma bicicleta tão má!!

Ele sim era o mais puro dos BTT'istas!!
 

Rui Marçal

New Member
Boas bluffer,

Gostei do que li. Muito bom...

És da zona de Castelo Branco? E nasci e cresci numa terreola chamada Envendos, um bocado antes de Castelo Branco.
 
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