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Travessia Alentejana!
No belo fim de semana Pascal de 2011, os duros do SSD resolveram fazer a Travessia Alentejana. Cerca de 300km, 3 dias, desde Marvão até Minas de S. Domingos. S. Pedro trocou-nos as voltas, acabámos por fazer os mesmos 300km mas acabados em Serpa, ao som de tambores e procissão.
1º dia, Sexta-feira Santa, dia 22 de Abril. 4h30 da manhã, hora do pessoal da zona de Sintra e Cascais levantarem os traseiros ainda frescos e pouco massacrados da cama para o rendez-vous na Caparica em casa do Zé Carlos…transfer de bikes e os 3 mosqueteiros seguem no Citroen a caminho de Vale de Cavalos, para encontrar com o 4º mosqueteiro Tiago e respectiva mosqueteira adjunta honorária Tânia. Primeiro reforço alimentar, transfer de bikes e seguida para Marvão City. Partida de Marvão City às 9h15m como previsto…já com os fatos de mergulho e debaixo de chuva torrencial. Aproveitando a paisagem da fantástica serra de S. Mamede, sempre na vertente Este junto à fronteira, passando por vários pontos de beleza ímpar. Passamos por trilhos, matagal amazónico, pinturas rupestes, e finalmente chegando à hora do reabastecimento nos 3 Aferidos, com um belo arroz de marisco e (muitos) rissóis que estavam uma delícia. Mas como a nossa vida não é comer (supostamente…), voltamos à carga e seguimos novamente na serra até chegar à civilização nabeirense de Campo Maior, onde se vislumbravam vinhas e, claro, a famosa fábrica Delta. Mais umas pedaladas chuvosas e chegamos a Elvas, onde aterramos numa simpática pensão. Banhito quente ou semifrio, consoante a sorte, roupa lavadinha e lá vamos nós jantar. 4 marmanjos de barba por fazer, havaianas e calções de praia em Elvas à noite com 12ºC …claro que no restaurante tiraram-nos o retrato e o atendimento deixou muito a desejar. Mas não se comeu mal de todo e a gorjeta de 1 cêntimo pode ter servido de incentivo para próximas vezes…Em resumo…um óptimo dia de início!
2º dia…Sábado 23/04. LAMA!!!! Um dia desastroso…fazer BTT é diferente de lavrar campos…para isso há tractores. Saída de Elvas em direcção ao Rosário, onde supostamente estaríamos às 13h00 para o Tiago ser apanhado para os seus compromissos sociais – casórios, baptizados, etc. No entanto, após saltar 15 vedações farpadas, nesse dia ainda não havia eléctricas, e após uma interessante conversa tête-a-tête com o dono duma herdade por nós trespassada, só conseguimos chegar a Mina do Bugalho às 15h30, rendez-vouz alternativo ao Rosário, bem depois do previsto. Já sem a voz da consciência do Tiago para nos relembrar os kilómetros que faltavam, resolvemos parar nessa bela terriola para umas bifanas, batatas, colas e tudo o que conseguíamos apanhar à frente. Isto quando em som de fundo ouvimos as conversas dos locais que estavam sentados a beber as suas minis e jogar à bisca…”Marvão…Elvas…Mourão…Minas…há gente mesmo tarada!!!!”. É sempre um incentivo! De qualquer modo, o Zé já tinha aterrado no banco e pensava que estava numa praia nas Caraíbas…solzinho fantástico, bifanas….é que ninguém o tirava de lá. Mas com esforço lá voltámos a pedalar…para passados 5km apanharmos uma brutal chuva de granizo que nos fez parar de emergência numa bomba de gasolina e finalmente…acabar no Alandroal, bem ensopados, no ponto de chegada deste dia. No Alandroal sim, muito bem atendidos, pensão fantástica – para nós que vínhamos todos rotos, molhados e enlameados, parecia um SPA! – e um belo jantar com migas à alentejana, ensopado de borrego e carne de porco à alentejana (que segundo consta trazia amêijoas…)…bem regados pelo Convento de Vila, vinho DOC de Borba
do melhor. Já para não falar nos “nogados” da pensão…uma raridade gastronómica da doçaria alentejana! Foram 67km a pedalar para ficarmos a 31km do ponto de partida…coisa estranha. Mas enfim, dia mais difícil mas vale sempre a pena!
3º dia, Domingo de Páscoa…muitos kilómetros para recuperar. Partimos cedo para chegar logo a Mourão assim que possível, 50km de estrada a bom ritmo. Em Mourão regressámos aos trilhos, e à lama. Mais umas vedações para saltar e, em particular, uma dessas vedações era eléctrica...bom, um relógio de pulso e um poste de alta tensão também são coisas “eléctricas”…mas não são tão parecidas assim. Seja por falta de conhecimento e/ou humildade perante as leis da física, ao passar a bike por cima da vedação o Ricardo e Tiago foram brindados com uma ferroada da dita cuja em que só faltou verem-se os esqueletos e ficarem com o cabelo em pé a deitar fumo…10.000volts muito simpáticos. Vaca, ovelha e BTTista sofre… em desespero de causa, e para evitar novos esticões similares, de regresso à estrada. De registar a bela vila de Póvoa de S. Miguel, terra mistério onde a ASAE nunca entrou. 3 cafés, 1 só serve bebidas (dispensador de minis…), outro não tem nada que se coma, só bolos manhosos, e o outro servia almoços “mas ia fechar”. É a crise, em pleno Alentejo. E nós cheios de fome…enfim. Valeu a simpatia dos locais, que pararam de jogar a bisca e beber as minis para olhar de lado os 4 forasteiros vestidos de Lycra laranja, alguns até a pôr protector solar…foi o momento mais gay da nossa travessia. Valeu também uma cena onde no meio do nada nessa povoação, na estrada deserta, se vêem 2 carros parados com uma condutora a dar de mamar à criança enquanto chega a GNR para fazer o auto. Muito bom. Parecia tirada dum filme do Emir Kusturica tipo “Gato preto, gato branco”…. Enfim…e a saga continuou! A partir daí foi só pedalar na estrada, sempre a 30km/h até ao destino – Serpa – onde chegámos ao som de tambores e cortejo. Até pensávamos que era para nós, nada mais natural, mas afinal parece que era em honra da Nª Sraª de Guadalupe…enfim, são critérios. Acaba-se a travessia em beleza com 2 travessas de caracóis e 2 imperiais cada, ao sol alentejano de Abril. Muito bom!
Foi uma experiência fantástica, a repetir seguramente. No entanto, lições a tirar:
1. Não deixar a lata de cola que se está a beber perdida na casa de banho da associação recreativa da Mina do Bugalho.
2. Não levar boiões de vidro.
3. Nunca dizer aos donos das herdades: "andamos perdidos..." quando temos um GPS enorme agarrado ao guiador.
4. Respeitar sempre as cercas eléctricas…são para vacas! 10.000Volts ainda doem para caraças....
5. Quando vestidos de lycra preta e cor de laranja, não colocar creme protector ao entrar numa terra de machos alentejanos agarrados às minis.
6. Não pensar que os cafés no alentejo servem comida a estranhos em menos de 20-25 minutos.
7. Aliás, não pensar que os cafés no alentejo servem comida a estranhos, ponto. Só minis.
8. Aliás, não pensar que os cafés no alentejo servem comida, ponto. Só servem mesmo minis, parecer ser o (único) alimento regional.
9. Não pensar que por queimarem 15000 calorias em 3 dias se podem comer 20000.
10. Não perguntar 312 vezes qual a logística dos carros. Aceitar apenas.
Autor:Rvintem