Eu também estive presente nesta coisa. E desta vez saiu-me a fava :s
O dia até começou bem. O pessoal compareceu todo a horas e a chuva dos últimos dias parecia ter cedido a vez aos raios de Sol,
embora o tempo continuasse frio. Pareciam estar reunidas as condições ideais... para a palhaçada! Após poucos kms de pedalada já havia gente a saltar muros com a bicicleta às costas e o Óscar improvisava caminhos que nos deixavam 2km desviados do trilho previsto :roll:
E perguntam vocês: mas quem diabo é o Óscar? Pois bem, é este tipo sorridente:
Introduziu-se sub-repticiamente na nossa comunidade ao longo dos últimos meses e contou-nos uma história sobre um maravilhoso pão-com-chouriço a sair, quentinho, directamente do forno, que estaria à nossa espera caso nós aceitássemos o desafio de pedalar ao longo de 80km através dum conjunto de trajectos que ele havia cozinhado.
O trajecto previsto podia ser dividido em 4 etapas, de acordo com a origem dos trilhos. Logo a primeira era da autoria do CEVA, basicamente um trajecto essencialmente ascendente que nos levava da Vila das Aves até Lustosa:
Tudo estava a correr bem até os meus colegas insistirem em fazer um desvio habitual por um trilho que não é particularmente do meu agrado, ali para os lados do Mosteiro de Singeverga (esse mesmo, o do Frei Hermano da Câmara). Eles chamam aquilo um single-track, eu prefiro chamar-lhe esgoto (não, não é o Trilho da M**da, que esse é bem fixe). Lá me conformei e seguia à frente a abrir caminho quando enterro a roda numa espécie de pântano e quase saio a correr por cima do guiador :evil: Eventualmente acabámos por sair dali, comigo a resmungar, claro.
Mas o feitiço estava lançado e numa subida à saída duma zona de lama a transmissão começou a trabalhar mal. O desviador traseiro apresentava um ângulo um pouco fora do habitual... ou seria impressão minha? Não me tinha apercebido de nada que pudesse ter provocado aquilo. Problemas mecânicos, aquilo que me consegue verdadeiramente chatear :evil: Pedi aos meus companheiros que continuassem. Tê-los ali à minha espera não ajudava nada e além disso prefiro resolver os problemas sozinho, à minha maneira. Troquei rapidamente o drop-out e afinei o desviador mas a posição do desviador ainda não me convencia. Bom... esperaria para ver como se comportava.
Rapidamente apanhei o pessoal que tinha teimado em esperar por mim um pouco mais à frente. Mas na subida seguinte, ao tentar transpor em esforço uma zona técnica... novamente as mudanças a saltar. Desapertei a roda que com um soco irritado voou logo para fora do quadro e preparava-me para fazer um pouco de força não fosse dar-se o caso de ser o próprio desviador empenado... O Óscar, sempre prestável mas sabendo como sou cioso das intervenções mecânicas na minha bicicleta, pediu com toda a delicadeza que deixasse que ele me ajudasse. Acedi, relutante. Ele começa a fazer força e... CRÁÁÁSSSSSS! Drop-out partido! A cara de pânico do moço: "Ui, isso parte assim?". A minha reacção oscilou entre a vontade de o chutar penedo abaixo ou simplesmente conformar-me de que o dia não estava a correr bem. Optei pela opção civilizada e simplesmente pedi ao pessoal que DESAPARECESSE DALI PARA FORA e me deixasse tentar resolver aquilo em paz.
Retirei o drop-out antigo da mochila e voltei a monta-lo. Apesar de tudo talvez a intervenção do Óscar tivesse ajudado... depois de montado o conjunto o desviador apresentava agora um ângulo mais próximo do normal. Voltei a apanhar o grupo, que tinha aproveitado uma zona um pouco mais técnica para um "registo multimédia". Desço descontraído, afinal já ali havia passado tantas vezes, e... CRASHHH! A roda da frente havia-me escorregado e estatelara-me :grrr: Doía-me todo o lado esquerdo mas, principalmente, a alma. A face do Major transbordava de felicidade :evil:
Não gosto nada destes contratempos mas o que restava da subida até Lustosa acabou por correr normalmente, com a nova subida técnica que eu e o ET descobrimos na véspera de Natal a fazer mais uma vez as delícias do pessoal, e o ânimo lá acabou por regressar
Em Lustosa preparava-me para ir a uma mercearia comprar pilhas para o GPS, que me havia esquecido de trazer. O Óscar insistiu em que ficasse com um conjunto que tinha a mais. Isto iria ter consequências mais para o fim do dia...
Entrámos na segunda "etapa", Lustosa-Lousada. O percurso foi replicado dum passeio de BTT de praticantes ali da zona. Já o conhecia, pois tinha-o percorrido há 15 dias atrás. Essencialmente descendente, embora tivesse duas ou três zonas de subida mais puxada, tinha algumas zonas interessantes, uma das quais situada num penedo granítico onde toda a gente tentava arranjar um bom "boneco":
Até Lousada apenas a registar:
-A reparação dum furo na roda da frente, provocado por um enorme pedaço de vidro. Como o Tico também teve um, quase ao mesmo tempo, na roda de trás, não se desperdiçou muito tempo :roll:
-O ET a gemer depois duma tentativa frustrada de tentar transpor um tronco, manobra só ao alcance de "ciclistas tecnicamente evoluídos" 8)
-E o Major a fazer uma demonstração de GAM, recordando os tempos em que dava recruta aos soldados a caminho das praias da Normandia: :lol:
Estávamos agora na 3ª etapa, Lousada-Penafiel. Antes porém uma pausa num café para alimentar e hidratar. Discutia-se o adiantado da hora e já se falava em atalhar a 4ª etapa. Pessoalmente, embora concordasse que não estávamos a cumprir o horário, custava-me um bocado a ideia de não cumprir o trajecto planeado. Tentei então forçar um bocado o ritmo para ver se ao chegar a Penafiel ainda daria para arriscar continuar pelo percurso traçado.
O percurso revelou ser essencialmente estrada e na companhia do Plus, do Tico e do ET formámos um grupito que rapidamente chegou a Penafiel. Parámos junto ao Estádio 25 de Abril e concordámos entre nós que era de arriscar avançar para a 4ª etapa, Penafiel-Cabeça Santa. Como o restante grupo ainda estava a alguma distância, o Tico telefonou para o Óscar a avisar que nós íamos avançar.
Passado uns kms comecei a sentir algum arrependimento pela decisão. Cabeça Santa ficava, supostamente, algures para sudoeste e nós avançávamos para nordeste :| E depois de já termos trepado algumas subidas bem inclinadas ainda fomos brindados com uma "parede" incompatível com o cansaço que já tínhamos acumulado e, se calhar, com o momento de forma desta época invernal.
A pé ou montados, lá fomos avançando, mas mais apreensivo fiquei quando vi que estávamos... nos arredores de Marco de Canaveses :shock: O que vale é que os meus companheiros ainda são mais parvos que eu :lol: e encaram com fleuma estas situações. E felizmente que a partir dali a próxima subida era um estradão que se subia com relativa "facilidade", ao que se seguiu uma zona bastante rolante.
No entanto nem tudo poderia ser rosas e eis senão quando... "ah, p**a que os pariu!"... Um pouco antes o Plus tinha dito que, pelas contas dele, deviam faltar uns 100m de acumulado de subida, ao que retorqui "100m... provavelmente a precisar de cordas...". Pelos vistos o meu prognóstico não estava muito longe da realidade: :lol:
Não há dificuldade que sempre dure. Mais uns trilhos, mais uma descida... e mais uma subida. Pois, as dificuldades podem não durar eternamente... mas podem repetir-se eternamente no tempo :lol: Felizmente que por aquela altura o famoso chainsuck já teimava em apoquentar a minha pedaleira pequena o que me obrigava a desmontar naquelas subidas mais duras :wink:
Eis senão quando... Lembram-se das pilhas que o Óscar me havia cedido em Lustosa? Pois... acabaram! :twisted:
Obrigado, Óscar:
-Por me teres partido o drop-out.
-Por te teres escapulido enquanto nós andamos aqui à beira do empeno.
-E por me teres arranjado pilhas gastas!!!! :twisted:
Com amigos destes, quem precisa de inimigos? :lol: :lol: :lol:
Lá nos orientámos, ligando o GPS a espaços para ter uma noção da direcção a seguir, e passado um pouco chegámos a uma estrada. Ainda tentámos parar alguns automobilistas para obter informações mas estas notícias recentes do carjacking tornam as pessoas assustadiças e ninguém se prestou sequer a abrandar. Descemos umas centenas de metros até uma aldeia onde perguntámos a uma menina indicações para Cabeça Santa. Ficámos a saber que estávamos perto, a cerca de 3km. A menina lá nos indicou o caminho... que nos levou até ao interior dum quintal! :mrgreen:
Recuperado o rumo, rapidamente atingimos o objectivo:
Na casa da D. Rosa Faneca fomos simpaticamente recebidos. Lá já se encontravam os restantes companheiros de viagem, lavadinhos e arranjadinhos, mas não era a eles que queríamos ver. Queríamos sim o famoso pão-com-chouriço a que, depois daquele esforço, considerávamos ser nosso por direito :wink:
O meu agradecimento aos meus fantásticos companheiros de pedalada e em especial ao Óscar, o autor da ideia, e a toda a família da Princesa dele que tão bem nos receberam. Aquele pão era mesmo bom!
Mais fotos aqui:
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