AFP70
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Regresso atribulado à “l’Argentine”...
Francis Bacon escreveu certa vez “Os homens sábios, para declinarem a inveja que possa incidir sobre os seus méritos, usam atribuí-los à providência e à fortuna (sorte); porque assim podem falar deles, e, além disso, é honroso para o homem ser benquisto dos poderes superiores.”
Vem isto a propósito da nossa visita à “L’Argentine” em Setembro de 2015 pela segunda vez. Se bem se recordam já lá tinha andado bem perto com o Natercio em Agosto de 2015, ver post 594 da página 60, mas na altura ficamo-nos pelos 1.463 mts “Refuge de Solalex”.
Desta vez fui acompanhado pelos amigos Natercio, Angel e Luís. Tal como da última vez o dia prometia, sol q.b. Até à quarta foto nada de novo, exceto talvez a vaca que se atravessou no nosso caminho ...
A partir dos 1.463 mts aguardava-nos uma subida e que subida meus amigos, esta metia respeito, só para terem uma ideia, sobe-se em cerca de 3,3 kms +/- 450 mts de desnível, foi por isso que da última vez as nossas pernas se recusaram ...
Bem ou mal, mas no meu caso, mesmo muito mal (um dia dir-vos-ei porquê!), lá chegamos ao “Refuge Giacomi” a 1.891 mts, mas quando achávamos que as subidas tinham acabado, eis que para continuar, tínhamos de subir ainda até aos 2.046 mts e passar pela “Cabane Barraud”.
Se até aos 1.891 mts a malta até foi mugindo, ganindo, mas sempre bem-disposta, mal notaram que tinham ainda de passar a barreira dos 2.000 mts, o semblante mudou completamente, passaram por todos os estados, mas lá foram teimando; afinal duros e bem duros.
Confesso que a culpa foi toda minha, passo a explicar, na ânsia de ir lá acima, saquei o track do Wikiloc e estava lá bem mencionado que este era exequível de bicicleta, aliás no Google Earth eram bem visíveis os caminhos por onde iriamos passar; bem, pensei eu, que “singles” fantásticos e nem a altimetria e declives (era a descer) abruptos me demoveram da ideia dos percorrer.
O problema que se coloca hoje em dia quando sacamos tracks sem conhecermos minimamente a zona é que o energúmeno que colocou este track online, esqueceu-se de mencionar que SIM, podemos efetuar o track de bicla, mas não em cima dela; ou seja acabamos por efetuar cerca de 4 kms com a bicla às costas para quase 400 mts de descida.
Pelo meio acabamos por cruzar um grupo de +/- 20 “gajas” (havia para todos os gostos, gordas, magras, bonitas, feias, altas, baixas, etc...), mal passamos por elas, começaram logo a mandar bocas. Pena já se fazer tarde, senão tinha-mos aviado algumas. Parem com isso suas mentes pecaminosas, digo, tínhamos aviado umas valentes loiras, NÃO, ainda não é isso que estão a pensar, falamos de reposição de líquidos, “well”, não vale a pena a gente discutir convosco, vocês levam sempre para aquele sítio ...
Não sei se repararam, mas nas fotos encontro-me a cerca de 500 mts de distância dos meus companheiros, foi feito de propósito, em primeiro lugar porque assim não tive de aguentar a má disposição do grupo, subir já de si é fo.., mas com ela à mão, ainda pior; em segundo lugar porque desejava transmitir-vos a perspetiva do quão pequenos nós somos, relativamente à grandiosidade das paisagens calcorreadas.
Claro que para complicar ainda mais a coisa, o tempo foi fluindo e a pouco e pouco um pequeno mal-estar foi-se apoderando da minha pessoa, isto porque o GPS estava a ficar sem bateria, aliás acabou por morrer quando atingi aquele vale visível na 5ª foto a contar do fim; para além disso o telemóvel em alta montanha não tem qualquer utilidade, pois não temos rede.
Ao longo da minha curta carreira em alta montanha já passei por algumas situações complicadas, mas sempre sozinho, o que quer dizer que em caso de problema, este é só meu, aqui a situação era diferente, os meus amigos quando se apanharam naquele vale, ao invés de aguardarem por mim como ditam as boas regras da camaradagem betetistica, abalaram a quinhentos à hora, nunca mais os vi. Bem, pensei eu cá para com os meus botões “Que se fuck! Espero que tenham o discernimento suficiente para esperarem por mim no “Alpage de Vare” a 1.758 mts”, é o amontoado de casas que se vê na 3ª e 4ª foto a contar do fim.
Quando cheguei lá “nickles, niente”, aí é que a porca torce o rabo como se costuma dizer, pois já passavam das 18h30. Como o GPS tinha dado as últimas, eis que chego a um cruzamento e aí meus amigos coloca-se a terrível questão, esquerda ou direita? Com isso a matracar-me a moina, saco do telemóvel numa última tentativa de ver se tinha rede e não é que para minha surpresa, tinha. Ligo a um, nada, ligo a outro, gravador, por fim ligo ao terceiro e este como que por milagre, tinha rede.
Sem vergonha do que vou escrever e porque já estava passado dos carretos, preocupado com eles, as minhas palavras foram as seguintes (sem tirar, nem por):
“Caralho, pá, que mer** é esta, um gajo aqui preocupado convosco e vocês no cara*** mais velho, nem tugem, nem mugem e um gajo que se fo**, para a próxima venho só, porque vir convosco é a mesma merda”.
“Como é, cá em cima é para a esquerda ou para a direita?” Ao que ele respondeu que era à direita. “Façam favor de me esperar, para que ao menos possamos acabar esta mer** juntos”.
Passado nem 1 km lá estavam eles à minha espera. Como não podia deixar de ser, pusemos os pontos nos iiis (na boa, sem “stresses” de maior), dissemos todos, tudo o que tínhamos a dizer e daí abalamos juntos numa fantástica descida de quase 8 kms e +/- 700 mts de desnivel (-) até chegarmos a “Plans-sur-Bex” a 1.072 mts.
Não sei se já repararam que o tempo, embora seja o tempo, sempre igual a si mesmo, por vezes passa mais depressa ou mais devagar, é como se este escolhesse a forma como quer correr, e no caso em apreço, não parava mesmo; daí até chegarmos à estação de “Bex” a 424 mts ainda tivemos de efetuar cerca de 10 kms, por sorte quase sempre a descer ...
Eis parte dos registos do dia… (restantes encontram-se na página Bravos do Pelotão, ver crónica Nº074).
No final a volta saldou-se em 45 kms, 850 mts (+) e 2.172 mts (-). Nestes quase 6 anos de aventuras, esta foi a primeira vez que apanhei um comboio tão tarde de regresso a casa (já passava das 19h00).
Como diria Ralph Emerson, “Homens superficiais acreditam na sorte... Homens fortes acreditam em causa e efeito” e eu afirmo que a própria vida encarrega-se do resto ...
Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…
Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…
Francis Bacon escreveu certa vez “Os homens sábios, para declinarem a inveja que possa incidir sobre os seus méritos, usam atribuí-los à providência e à fortuna (sorte); porque assim podem falar deles, e, além disso, é honroso para o homem ser benquisto dos poderes superiores.”
Vem isto a propósito da nossa visita à “L’Argentine” em Setembro de 2015 pela segunda vez. Se bem se recordam já lá tinha andado bem perto com o Natercio em Agosto de 2015, ver post 594 da página 60, mas na altura ficamo-nos pelos 1.463 mts “Refuge de Solalex”.
Desta vez fui acompanhado pelos amigos Natercio, Angel e Luís. Tal como da última vez o dia prometia, sol q.b. Até à quarta foto nada de novo, exceto talvez a vaca que se atravessou no nosso caminho ...
A partir dos 1.463 mts aguardava-nos uma subida e que subida meus amigos, esta metia respeito, só para terem uma ideia, sobe-se em cerca de 3,3 kms +/- 450 mts de desnível, foi por isso que da última vez as nossas pernas se recusaram ...
Bem ou mal, mas no meu caso, mesmo muito mal (um dia dir-vos-ei porquê!), lá chegamos ao “Refuge Giacomi” a 1.891 mts, mas quando achávamos que as subidas tinham acabado, eis que para continuar, tínhamos de subir ainda até aos 2.046 mts e passar pela “Cabane Barraud”.
Se até aos 1.891 mts a malta até foi mugindo, ganindo, mas sempre bem-disposta, mal notaram que tinham ainda de passar a barreira dos 2.000 mts, o semblante mudou completamente, passaram por todos os estados, mas lá foram teimando; afinal duros e bem duros.
Confesso que a culpa foi toda minha, passo a explicar, na ânsia de ir lá acima, saquei o track do Wikiloc e estava lá bem mencionado que este era exequível de bicicleta, aliás no Google Earth eram bem visíveis os caminhos por onde iriamos passar; bem, pensei eu, que “singles” fantásticos e nem a altimetria e declives (era a descer) abruptos me demoveram da ideia dos percorrer.
O problema que se coloca hoje em dia quando sacamos tracks sem conhecermos minimamente a zona é que o energúmeno que colocou este track online, esqueceu-se de mencionar que SIM, podemos efetuar o track de bicla, mas não em cima dela; ou seja acabamos por efetuar cerca de 4 kms com a bicla às costas para quase 400 mts de descida.
Pelo meio acabamos por cruzar um grupo de +/- 20 “gajas” (havia para todos os gostos, gordas, magras, bonitas, feias, altas, baixas, etc...), mal passamos por elas, começaram logo a mandar bocas. Pena já se fazer tarde, senão tinha-mos aviado algumas. Parem com isso suas mentes pecaminosas, digo, tínhamos aviado umas valentes loiras, NÃO, ainda não é isso que estão a pensar, falamos de reposição de líquidos, “well”, não vale a pena a gente discutir convosco, vocês levam sempre para aquele sítio ...
Não sei se repararam, mas nas fotos encontro-me a cerca de 500 mts de distância dos meus companheiros, foi feito de propósito, em primeiro lugar porque assim não tive de aguentar a má disposição do grupo, subir já de si é fo.., mas com ela à mão, ainda pior; em segundo lugar porque desejava transmitir-vos a perspetiva do quão pequenos nós somos, relativamente à grandiosidade das paisagens calcorreadas.
Claro que para complicar ainda mais a coisa, o tempo foi fluindo e a pouco e pouco um pequeno mal-estar foi-se apoderando da minha pessoa, isto porque o GPS estava a ficar sem bateria, aliás acabou por morrer quando atingi aquele vale visível na 5ª foto a contar do fim; para além disso o telemóvel em alta montanha não tem qualquer utilidade, pois não temos rede.
Ao longo da minha curta carreira em alta montanha já passei por algumas situações complicadas, mas sempre sozinho, o que quer dizer que em caso de problema, este é só meu, aqui a situação era diferente, os meus amigos quando se apanharam naquele vale, ao invés de aguardarem por mim como ditam as boas regras da camaradagem betetistica, abalaram a quinhentos à hora, nunca mais os vi. Bem, pensei eu cá para com os meus botões “Que se fuck! Espero que tenham o discernimento suficiente para esperarem por mim no “Alpage de Vare” a 1.758 mts”, é o amontoado de casas que se vê na 3ª e 4ª foto a contar do fim.
Quando cheguei lá “nickles, niente”, aí é que a porca torce o rabo como se costuma dizer, pois já passavam das 18h30. Como o GPS tinha dado as últimas, eis que chego a um cruzamento e aí meus amigos coloca-se a terrível questão, esquerda ou direita? Com isso a matracar-me a moina, saco do telemóvel numa última tentativa de ver se tinha rede e não é que para minha surpresa, tinha. Ligo a um, nada, ligo a outro, gravador, por fim ligo ao terceiro e este como que por milagre, tinha rede.
Sem vergonha do que vou escrever e porque já estava passado dos carretos, preocupado com eles, as minhas palavras foram as seguintes (sem tirar, nem por):
“Caralho, pá, que mer** é esta, um gajo aqui preocupado convosco e vocês no cara*** mais velho, nem tugem, nem mugem e um gajo que se fo**, para a próxima venho só, porque vir convosco é a mesma merda”.
“Como é, cá em cima é para a esquerda ou para a direita?” Ao que ele respondeu que era à direita. “Façam favor de me esperar, para que ao menos possamos acabar esta mer** juntos”.
Passado nem 1 km lá estavam eles à minha espera. Como não podia deixar de ser, pusemos os pontos nos iiis (na boa, sem “stresses” de maior), dissemos todos, tudo o que tínhamos a dizer e daí abalamos juntos numa fantástica descida de quase 8 kms e +/- 700 mts de desnivel (-) até chegarmos a “Plans-sur-Bex” a 1.072 mts.
Não sei se já repararam que o tempo, embora seja o tempo, sempre igual a si mesmo, por vezes passa mais depressa ou mais devagar, é como se este escolhesse a forma como quer correr, e no caso em apreço, não parava mesmo; daí até chegarmos à estação de “Bex” a 424 mts ainda tivemos de efetuar cerca de 10 kms, por sorte quase sempre a descer ...
Eis parte dos registos do dia… (restantes encontram-se na página Bravos do Pelotão, ver crónica Nº074).
No final a volta saldou-se em 45 kms, 850 mts (+) e 2.172 mts (-). Nestes quase 6 anos de aventuras, esta foi a primeira vez que apanhei um comboio tão tarde de regresso a casa (já passava das 19h00).
Como diria Ralph Emerson, “Homens superficiais acreditam na sorte... Homens fortes acreditam em causa e efeito” e eu afirmo que a própria vida encarrega-se do resto ...
Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…
Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…