(...) Voltemos a Salvaterra do Extremo e à história que o antigo contrabandista José Joaquim convenceu o ex-patrão Ti-Chico a contar. "Pois uma vez", começa Francisco Jacinto, 88 anos, "um guardia civil descobriu-me o barco e ficou à minha espera. Eu garanti-lhe que nunca mais o encontrava. A partir daí, prendia o barco com uma corda, afundava o barco com pedras e enterrava o cabo".
Mais dois exemplos do desenrascanço dos contrabandistas e descemos em direcção ao rio Erges, debaixo de um sol picante antes de tempo, pelo mesmo caminho que Francisco e José Joaquim percorreram tantas vezes, de noite, às escuras e com um grande saco de café aos ombros. As ruínas do Castelo de Peñafiel (que hoje serve de casa a abutres) olham-nos do cimo da encosta em frente, do lado espanhol. Três grifos sobrevoam um rebanho de cabras, na esperança de que uma perca o equilíbrio e se esmague no sopé das falésias. Ou talvez estejam apenas a mostrar-se para turista ver, para emprestar ao Leste português um pouco do velho far west americano. A verdade é que esta região é a que, em Portugal, mais se aproxima da imagem de Natureza deixada à solta. Onde os abundantes sinais de trânsito com um veado dentro, a alertar para que um possa surgir a qualquer momento, são mesmo para levar a sério.
- Texto retirado da revista Visão, Edição Nº 837 de 19 de Março, reportagem sobre o Tejo Internacional. Aconselho a leitura, até falam lá do João e da Casa do Forno.
Para complementar o texto deixo esta belíssima foto (tirada pelo nosso companheiro Vaitu63), e que ilustra perfeitamente o que se pretende dizer...