Léon – Santiago de Compostela
Este é o meu relato do passeio que realizei no passado mês de Abril com mais 5 amigos, Maurício, Ana, Rui Mota, Hugo e Miguel Nunes.
Bttistas:
José; Rui Mota; Hugo e Nunes
Viatura de apoio:
Maurício e Ana
23-04-2008 – Dia 0
Ansiedade
Está quase quase tudo lixado. Será que depois deste treino todo, de tantos planos, as bikes não vão caber no carro que alugamos para transportar o pessoal e todo o material??
Nervoso miudinho - Tão perto do inicio da aventura, os nervos começam a atacar em grande. Não podemos aguentar mais, só queremos mesmo por os pés ao caminho. Até parece que as bikes cresceram ou o carro mingou J.
Mas tudo se resolve e não tarda nada estamos a caminho. Caminho não, Camiño.
Finalmente arrancámos. A viagem para Léon foi rápida e tranquila não fosse eu o motorista J. Durante a viagem a paz P) só era quebrada pelos (gritos) fedorentos do nosso grande amigo Silvio.
Por falar no Homem, quero já publicamente, manifestar o quanto estamos agradecidos pelo que fizeste, ou seja, levar a malta a Léon e regressar ao Porto sozinho. Acredita que se não fosse a tua disponibilidade esta aventura iria ser muito difícil de concretizar. Um muito obrigado de todos.
Já em Léon, rapidamente encontramos um hotel onde descansar a primeira noite. O hotel Paris foi o escolhido. Fica mesmo juntinho á magnifica catedral de Léon.
Descarregamos tudo do carro e guardamos as bikes no hotel. Depois de jantar lá nos conseguimos livrar do Silvio J que recambiamos para o Porto.
Entre despedidas e desejos de boa viagem ainda tivemos tempo para dar uma vista de olhos á Catedral de Léon. Sem duvida uma bela obra de arte.
24-04-2008 – Dia 1
Descoberta
Com o pequeno almoço tomado no hotel, com tudo preparado, a fotografia de grupo em frente á Catedral tirada, fomos carimbar as credenciais e FINALMENTE demos inicio ao” nosso” caminõ.
Começamos a seguir as setas amarelas, o que nos levou a percorrer parte da cidade de Léon. Fiquei com pena de não ter tido mais tempo para conhecer esta maravilhosa cidade.
Poucos km depois entravamos numa zona muito rolante sempre junto á estrada principal em direcção a Astorga. Estava uma manhã solarenga, o ambiente era fantástico, as paisagens eram do melhor. Não podia pedir um inicio melhor.
Ainda durante a manhã chegamos a Astorga, uma cidade com monumentos fantásticos de uma beleza rara. Tendo sempre presente que ainda nos esperava a subida á Cruz de Ferro, resistimos á tentação de registar em foto tudo o que víamos.
Depois de Astorga fizemos uma paragem para almoçar numa pequena aldeia onde comemos uma grande sande de presunto. Já estávamos com 60km e o presunto foi sem duvida merecido.
Daqui para a frente as coisas começavam a complicar-se. Foi na subida até a Cruz de Ferro que comecei a sentir o peso da mochila nas costas. Ao fim de tantos km as costas começam a ceder, mas a vontade de chegar á Cruz de Ferro era grande. Especialmente porque eu sabia que era a única grande dificuldade do dia.
Depois de algum sofrimento lá estava eu no alto da Cruz de Ferro. Sentia-me muito feliz por ali estar mas não dava o dia como terminado, ainda tinha muito pela frente.
Depois de algumas fotos tiradas, descansei um pouco e começamos a longa descida até Ponferrada.
Não pratico btt á muito tempo ou seja, não conheço muita coisa, mas uma coisa tenho a certeza. Será para mim muito difícil voltar a encontrar uma longa descida como esta.
A descida começa mesmo no alto da Cruz de Ferro por um caminho junto á estrada mas pouco depois transforma-se num single track com alguma pedra á mistura mas com uma inclinação suficiente para a velocidade ser impressionante não permitindo qualquer tipo de erro.
Muito rapidamente chegamos a uma aldeia e paramos para retemperar forças e comentar entre nós a adrenalina sentida durante a descida. Mas ouvi – “Vamos lá que ainda estamos a meio da descida..” - e assim foi. Continuamos a descer mas agora por trilhos muito técnicos com alguma lama á mistura, mas nada que não se faça com alguma calma.
Por volta das 18:30 locais já estávamos em Ponferrada, uma cidade rodeada por montes duma beleza impressionante.
Logo á chegada fomos brindados com a visão de um magnifico Castelo. Uma coisa que reparei durante esta viagem é o cuidado que Espanha tem com os seus monumentos históricos, tudo muito bem conservado.
Ficamos alojados num hotel muito perto do Castelo. Depois do merecido duche e de ligar para a família e amigos informando que ainda estava vivo, fomos dar um pequeno passeio a pé pela cidade.
Mais umas fotos para mais tarde recordar e voltamos ao hotel para jantar. Após a sobremesa, já não tinha força para mais nada e fui direitinho para vale lençóis.
25-04-2008 - Dia 2
Sofrimento
Este dia começa como não poderia deixar de ser com um belo pequeno almoço no hotel. Preparamos o material, afinamos as maquinas e partimos.
Após alguns km comecei a perceber que tudo iria ser bem diferente . O desgaste do primeiro dia ainda não se fazia sentir mas como tínhamos pela frente o pior dia com a difícil subida a O Cebreiro os meus companheiros de viagem colocaram um ritmo muito alto logo no inicio o que me fez passar por dificuldades acrescidas pois nesse momento fiquei completamente sozinho.
Depois de passar por Villafranca del Bierzo o caminho entra numa ciclovia que vai sempre junto ao rio com uma inclinação ligeira. Uma zona muito calma onde se destaca unicamente o ruído da água do rio. Aqui comecei a desejar rapidamente a chegada do carro de apoio pois a mochila já pesava mais que muito. Ainda deu para reagrupar com o resto da malta numa pequena paragem para almoçar.
Depois do almoço começava a verdadeira dureza da subida a O Cebreiro. O calor apertava, a mochila ás costas não ajudava nada, até que o Maurício e a Ana aparecem com vontade de ajudar estes quatro malucos com a mania que são ciclistas. A primeira coisa que fiz foi atirar a mochila para o carro e beber muita agua pois já estava completamente seco.
Com as forças retemperadas entre duas de letra e mais uns goles de água, atiro-me novamente á subida. O carro segue para a frente para ajudar os restantes. Nesta altura, e após o reagrupamento para almoçar, eu já estava novamente a ficar para trás. Mas eu sabia que o que estava pela frente não era fácil. Tinha de manter um ritmo calmo para não sofrer demasiado na parte final da subida.
Depois de receber mais algumas visitas do carro de apoio durante a subida, ai estava o O Cebreiro. A Ana tinha uma surpresa á nossa espera, um excelente lanche. Não faltava rigorosamente nada.
Entre o reforço, a troca de impressões sobre os trilhos e os preparativos para a ansiosamente aguardada descida do dia , estivemos uns largos minutos parados a recuperar do que tínhamos acabado de deixar ficar para trás.
Aqui o Maurício juntou-se a nós. Depois de fazer tantos km de carro para nos apoiar ele não podia perder a oportunidade de fazer aquilo que mais adora, descer hehe
Mas estávamos completamente errados. Ainda nos aguardava dois obstáculos antes da descida, o Alto de San Roque e o Alto do Poio. Bem este ultimo… tinha uma parede engraçada. Estava a ver que nem á mão conseguia chegar ao alto.
Agora sim, ai estava o que eu tanto gosto de fazer, descer, descer, descer. Depois de tanto sofrer no raio da subida a O Cebreiro, agora parecíamos uma criança a brincar com um brinquedo novo. A alegria era perfeitamente patente na cara de todos por estarmos uma vez mais a levar a adrenalina ao máximo com o que mais parecia um voo por aqueles trilhos abaixo.
O Hugo ia á frente com o apito na boca e não parava de apitar tantos eram os peregrinos no caminho. A nossa passagem era um momento de alguma admiração pois estavam tão habituados á calmaria dos caminhos, e de um momento para o outro deparavam-se com 5 malucos a descer aquelas serras com pouca vontade de travar. Só me lembro de ver alguns a levantar a mão e a desejar um bom camiño, para dizer a verdade eu tinha vontade de desejar-lhes o mesmo, mas não tinha tempo tal era rapidez com que passávamos por estes amigos peregrinos.
Acabávamos a descida em Triacastela. Faltava ainda 11km até Samos num tipo de terreno completamente diferente do que tínhamos percorrido até aqui. Um trilho repleto de subidas e descidas curtas junto a um rio magnifico, num ambiente bem rural. Algumas aldeias tinham pouco mais do que 3 casas e alguns traços a fazer lembrar o nosso Minho rural.
Aqui o cansaço já era perfeitamente notório em mim. Ansiava pelo fim do dia como ninguém ali presente, mas infelizmente o pior do dia ainda estava para acontecer. A queda do Rui. As escoriações são bem visíveis mas como é típico dele não deu muita importância á situação e lá chegamos a Samos
Depois de um banho retemperador e enquanto fazia um teste rápido ao colchão ) fui interrompido pelo Rui que andava ás voltas com as escoriações: Estava na hora de por os meus dotes de enfermeiro em prática. Fiz os curativos necessários recorrendo á embalagem dos primeiros socorros. Ficou á maneira. Até parecia feito por um verdadeiro enfermeiro heheh.
Antes da saída para jantar ainda houve tempo para tomar no bar do hotel uma bebida bem fresca.
A viagem para o restaurante foi curta mas muito atribulada. Como o cansaço era muito decidimos ir de boleia na carrinha do Maurício, então lá fomos os quatro metidos na caixa de carga da carrinha. Quando chegamos ao restaurante e começamos a sair da parte de trás da carrinha apercebemo-nos que do outro lado da rua era a Guarda Civil Espanhola, mas para nossa sorte o Guarda que estava á porta não se apercebeu, ou seja tínhamos acabado de poupar uns trocos.
Já ouvia falar deste restaurante á muito tempo e estava curioso com o que iria ser servido. Sem duvida que foi o melhor restaurante por que passei durante esta viagem. Comi uma bela salada e de seguida veio para a mesa uma tábua com um misto grelhado acompanhado com um molho divinal. De referir ainda que a cerveja servida a jarro não ficava atrás de nada.
Voltamos ao hotel a pé aproveitando para falar um pouco de tudo o que tínhamos feito até aqui. Antes de ir dormir ainda houve tempo para dar uma vista de olhos pelas fotos retiradas neste dia. Fiquei muito satisfeito com o a quantidade e qualidade de recordações que iria ter desta aventura.
26-04-2008 – Dia 3
Verdade
Como habitual o dia começou com um excelente pequeno almoço no hotel após o qual, demos inicio ao que para mim iria ser um dia inesquecível a vários níveis.
Iniciamos o dia com uma subida por um estradão no meio de campos agrícolas. Alguns km á frente, o cheiro a bosta de vaca começava a ser intenso, indicava que já estávamos na Galiza. A partir daqui comecei a acreditar que se mantivesse a calma e não entrasse em euforias tinha possibilidades de chegar ao fim. No entanto o dia ainda estava no inicio e muito se iria passar durante este longo dia.
Entramos em Sarria todos juntos. As setas amarelas indicava para uma subida pelo meio da cidade até a uma igreja lá bem no alto. Aqui começaram as grandes dificuldades. Cada um entrou no seu ritmo e ficou para trás o sentido de solidariedade .
Logo no inicio da subida deixei de ver o resto da malta mas não podia desmotivar pois tinha ainda pela frente muitos km. O calor começava a apertar e a agua que transportava desapareceu rapidamente e por azar estava a percorrer uma zona em que não tinha a possibilidade de abastecer. Até que aparecem os incansáveis Maurício e Ana para pôr cobro ás minhas dificuldades.
Não posso deixar de admitir que foi neste momento que estive muito próximo de deitar a toalha ao chão. O calor e o facto de estar completamente sozinho, o tipo de terreno com subidas intermináveis e o desgaste acumulado dos dias anteriores estavam a pôr em causa o sentimento que tinha tido no inicio deste dia. No entanto continuei a pedalar.
Mais uns km á frente consegui reagrupar ao pessoal devido a uma paragem mais longa que fizeram para abastecer e para colocar protector solar.
Aproveitei esta paragem para me refrescar com muita água, comer alguma coisa e não perdi mais tempo. Arranquei logo de seguida para mais uns km.
Começava agora uma longa subida mas com uma inclinação menor do que outras que já tinha feito neste dia. Como em todo o lado, depois de subir há sempre uma descida. Comecei a animar pois a descida era feita sempre pelo meio de matas, atravessando ribeiros e pequenos cursos de água, o que dava uma sensação de frescura. Fiz esta descida muito calmamente porque estava repleta de peregrinos a pé, até que avistei uma ponte de que já tinha referências por fotos que tinha visto na net. Isso queria dizer que estava na cidade de Portomarín onde tínhamos combinado parar para o almoço.
Quando passei a ponte, as setas indicavam vários sentidos. Resolvi entrar em contacto com o pessoal que a esta altura já deveria ter chegado. Bem, a resposta que ouvi no radio não era mesmo nada agradável. Tinham acabado de anular a paragem nesta cidade e prosseguir. Não tinha outra saída que não fosse fazer o mesmo se não corria o risco de me atrasar muito.
Lá continuei até que entro numa subida mas desta vez com uma inclinação de cortar a respiração. A fome já apertava e eu já não podia ver barras energéticas e cubos de marmelada á minha frente, mas se queria continuar tinha de comer mais qualquer coisa, por isso, lá foi mais uma barra.
Após esta ultima subida, entrei numa zona junto á estrada onde andava o carro de apoio. Fiz mais uma pequena paragem para reabastecer de água. Nesta altura o calor e a fome disputavam o título de meu pior inimigo. Fui informado pelo Maurício que o resto da malta estava uns 2 km á minha frente e que iriam parar no próximo tasco para almoçar. Que boa noticia tinha acabado de receber, mas, para não me habituar ás boas noticias aí estava o meu primeiro furo L.
Lá tive de fazer uns metros a pé até chegar novamente á estrada onde já me aguardava o Maurício pronto para me ajudar a substituir a câmara. Furo remendado, voltei ao trilho mas em autêntico sofrimento. Mais uma vez a toalha esteve muito próximo de ir ao chão e deixar fugir o sonho de conseguir chegar a Santiago de Compostela, mas acabei por reunir forças e conseguir chegar ao tasco onde os restantes estavam a almoçar.
Nesta paragem deu para matar aquela maldita fome que me vinha fazer mossa já á alguns km. Aproveitei para recuperar um pouco pois o dia ainda estava a meio.
Depois de um bom almoço e de muitos líquidos bem frescos voltei ao Caminõ. Até ao final do dia o percurso era literalmente um sobe e desce constante, alternando zonas totalmente descobertas onde o calor ia fazendo estragos, com zonas bem frescas com ribeiros rodeados por bosques lindíssimos, onde podia apreciar a natureza duma forma aparentemente virgem.
O almoço já estava a umas horas de distância e o dia parecia não terminar. A minha comunicação com o carro de apoio estava a tornar-se mais constante pois o desgaste era imenso. Sempre que passava perto do carro aproveitava para me refrescar. O calor era tanto que até já estava com a marca das fitas do capacete bem marcadas na minha cara.
Uns km mais á frente, julgava eu que já estava muito próximo do hotel, quando fui informado pelo Maurício que ainda faltava cerca de 14km para lá chegar. Fiquei muito abatido mas pouco podia fazer. Naquele momento só pensava que se já tinha passado por tanto, agora não podia deixar fugir esta oportunidade de cumprir o meu objectivo. Mas o cansaço era tanto que até pensar era difícil, até que ouvi o Maurício, calmamente, fazer uma descrição do que eu ainda tinha pela frente neste dia. Nas suas palavras só encontrava motivação para continuar. Isso sem duvida era o que eu mais necessitava naqueles momentos.
Nesta paragem um pouco mais longa aproveitei para comer uma sandes preparada pela Ana e a partir daqui comecei a aperceber-me que não podia mesmo desistir pois a desilusão não seria só minha mas sim destes dois grandes amigos que muito ajudaram durante estes dias. Lembro-me duma frase dita pelo Maurício durante este dia antes do almoço aquando do meu furo – “Vai que este passeio agora é nosso..”
No meu pensamento estava bem patente que eu tinha que fazer um esforço para lhes poder dar aquela satisfação pessoal e sempre com isso em mente segui o meu caminho.
Mas logo depois senti uma dor muito forte na virilha que me fez recolher novamente á viatura. Depois de aplicar um pouco de spray analgésico, lá estava eu novamente a rolar e desta vez com uma vontade enorme em cumprir o meu objectivo. Mais á frente o Maurício comunica via radio dizendo que ia arrancar para Arzúa pois estávamos já muito próximos. A minha alegria agora era impar pois tinha acabado de concluir os dias mais complicados sempre cumprindo o que tinha sido planeado por todos antes da partida. O cansaço escondia a minha satisfação, mas por dentro estava a viver momentos muito bons.
Agora só queria descansar um pouco, tomar um belo de um banho e sentar-me á mesa e jantar. E assim foi, mas no meio disto tudo não podia deixar de partilhar com a minha mulher e filha a alegria que estava a sentir. Agora já só pensava em cumprir os 35km que liga Arzúa e Santiago de Compostela para poder estar com elas, pois no dia seguinte iriam sair bem cedo do Porto para se encontrarem comigo na chegada a Santiago.
27-04-2008 – Dia 4
Santiago
Como não podia deixar de ser, durante o pequeno almoço, na cara de todos era bem visível o quanto estavam desejosos de chegar a Santiago. Estes últimos 35km que faltavam não tinham grande dificuldade. A única dificuldade deste dia era sem duvida o nosso próprio corpo, principalmente o rabo.
Mas depois dos primeiros km já não sentia dores nenhumas. Já não me conseguia conter de satisfação. Tal como nos últimos dois dias, os meus companheiros de aventura tinham colocado o seu ritmo e rapidamente voltei a ficar sozinho, mas para dizer a verdade até me estava a sentir muito bem vivendo o ultimo dia daquela forma. Mas claro que o Maurício e Ana andavam sempre por perto.
Como a ansiedade estava ao rubro acabei por cometer alguns erros perdendo o trilho em algumas situações, tendo mesmo de recorrer ao apoio do Maurício que rapidamente ia ao meu encontro para me ajudar a reencontrar o camiño. Mais á frente encontrei os primeiros portugueses a fazer o “caminõ”. Era um grupo de 21 bttistas de Alcobaça.
Depois de duas de letra e desejos mútuos de bom camiño, segui em direcção a Santiago, ainda me cruzando com mais uns peregrinos portugueses. Um deles perguntou-me se era a primeira vez que o fazia, ao qual respondi que sim. Foi quando ele me disse ali á frente é já o aeroporto de Santiago e depois ia apanhar a subida ao Monte Gozo e ai já poderia dizer que estava em Santiago de Compostela.
E assim foi. Segui o camiño como tinha feito sempre nos últimos dias. A vontade de me abraçar á minha filha era enorme, já não conseguia pensar em mais nada a não ser na minha Mariana. Até que, passando junto a uma estrada encontrei o Maurício e a Ana e a alegria deles em ver-me ali também era enorme. Eu sentia isso, tinham sido incansáveis comigo e nunca colocaram em questão a minha vontade, bem pelo contrario, foram os que mais me apoiaram para eu poder estar ali a desfrutar aqueles momentos de satisfação pessoal.
Bem agora só faltava subir ao Monte Gozo e descer para Santiago, e lá parti para os últimos km sabendo já que só voltaria a ver o Maurício e Ana em Santiago.
Durante a subida para o Monte Gozo, deu tempo para pensar no porquê de eu me ter envolvido nesta aventura. O relembrar de todos os motivos ajudou a tornar aquele momento muito especial para mim. Não estava com vontade de ligar a ninguém em particular para informar do que estava prestes a conseguir, mas sim de o gritar ao mundo inteiro. Era uma vitória muito grande na minha vida pessoal, o culminar de um esforço muito grande em dar a volta a uma vida sem sentido.
Dois anos antes desta aventura, não tinha por hábito praticar qualquer tipo de desporto,. Tinha uma vida repleta de vícios que em nada me ajudavam a viver decentemente. Fumava 2 maços de tabaco por dia, pesava cerca de 126kg. Devido a isso sofria de hipertensão, arritmia cardíaca, sendo tudo agravado por ter de tomar medicação diária para proteger um rim pois o outro já não trabalha.
Passada esta fase de euforia pessoal, e depois de estar sentado um pouco no alto de Monte Gozo para acalmar todas estas coisas que me passavam pela cabeça, fiz com toda a gana a descida para Santiago de Compostela.
E ai estava finalmente a bela cidade dos peregrinos. Entramos juntos na praça. A multidão de gente é impressionante mas rapidamente descobrimos o Maurício e a Ana. Fomos ao encontro deles mas apercebi-me que a minha filha e a minha mulher ainda não ali estavam. Aproveitávamos aqueles momentos para nos felicitar-mos e agradecer ao Maurício e á Ana o apoio prestado a todos
.Quando tirávamos umas fotos de grupo ouço a minha filha a gritar pelo papá. Bem meus amigos, mas que aperto no coração. Não consigo explicar por palavras mas é algo que irei guardar para o resto da minha vida. Não é pelo tempo que tive sem ela, mas sim por tudo o que tinha vivido naqueles dias e sem dúvida pelas saudades que sentia.
Depois de tudo mais calmo era tempo para tirar muitas fotos para mais tarde recordar, de desfrutar daquele momento único que vivi juntamente com todos e de levantar a nossa Compostela.
Depois dum banho no albergue de Santiago regressamos para junto das nossas famílias para um almoço em conjunto. Claro que o prato forte foi os relatos de muitas das histórias vividas naqueles últimos dias.
E assim demos esta aventura como concluída, com esperança que se volte a repetir de preferência com mais gente.
A todos os que apoiaram, ajudaram ou pura e simplesmente torceram por nós, um grande obrigado, e sim, valeu a pena