[Crónica] Eu e a minha Bike em Itália

abanix

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Preparativos para a Viajem a Itália
Todo o Itinerário, locais de alojamento e datas, foram começando a ganhar forma cinco meses antes.
Em Fevereiro foram compradas as passagens de avião e alguns acessórios e roupas, sempre pesando em todas as gramas e acrescentando á lista.
Fiz um quadro em acrílico, para agarrar os mapas, montei conta kilometros e luz á frente.
O treino foi feito com o peso aproximado ao que vim a ter durante a viajem. Cerca de 27 kilos compostos por um dos meus filhos que assim me faziam companhia e passeavam até ao Guincho e outros locais.
A revisão á Bicicleta veio trazer alguma angustia, pois o cubo da roda traseira não estava em condições e a sua substituição levou tempo que atrasou os treinos, para os 500 km que tinha planeado.
Fiz um desenho alusivo aos locais por onde ia passar, e mandei estampar numa t-shirt que se pode ver nas fotos.
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Na parte de trás por sujestão de uma amiga, a Oração do ciclista, são Cristovão e uma foto de cada um dos meus filhos.
A uma semana, já toda a bagagem estava sobre uma mesa, parecendo que estaria operacional. Mas a três dias da viajem, a bagageira foi montada na Bicicleta e sobre ela os alforges foram cheios e carregados para o teste final. Foi uma situação aflitiva, a bagageira e os alforges, comprada na Decathlon não estavam a deixar a roda traseira rodar. Um defeito gravíssimo na concessão da bagageira, inclinava os alforges no sentido dos raios da roda. Depois de algumas horas, cheguei á conclusão, que a solução seria torcer os ferros mal concebidos de forma a desviar os alforges dos raios.
Uma caixa de cartão de um plasma, foi preparada para embalar a Bicicleta durante a viajem de avião, e outra para a mochila, os alforges, saco cama, colchão e tenda. As caixas foram dobradas e presas á bicicleta, tal como toda a bagagem. Pois o Itinerário contava com 10 km, de casa até ao aeroporto.

Dia da Partida
Dia 11
de Maio 2009, 2horas da madrugada. Com tudo atado, na bicicleta, saí de casa sem se quer ir á janela. Quando cheguei á porta do prédio, deparei-me com uma chuvada que me deixaria as caixas de cartão desfeitas e não seria possível agarrar a fita cola. Telefonei para o meu Amigo Filipe Vassalo, que tem uma carrinha grande e pedi que me levasse ao aeroporto. Desmanchei a Bicicleta e comecei a embrulhar. Pouco depois ele chegou, ajudou-me e arrancamos.
Fiquei espantado pois o aeroporto estava com muito pouca gente. Enquanto esperava para fazer o check-in, bebi um sumo de fruta que triturei umas horas antes, já com receio de algumas dores musculares que iria ter.
Ás 5h15 fiz o check-in e despachei a Bicicleta, que me custou 50€.
Ás 6h00 passei no detector de metais. Tive de descalçar os ténis porque tinham os clics de metal. Na minha bagagem de mão, levava uma mochila na qual me tinha esquecido de tirar as ferramentas, e por causa delas, tive de voltar atrás e despachar a mochila para o porão.
Ás 7h25 levantei voo num A319, que a TAP baptizou como "Silveira da Silva".
Já em Roma, ás 10h30, mais uma do que em Portugal, recebi a minha bagagem. A Bicicleta estava impecável e na mochila não faltava nada.
Montei a Bike, carreguei tudo e saí do aeroporto. No quadro dos mapas, tinha o itinerário para Roma, que se encontrava a 32 kilometros, mais a nordeste.
Entrei em Roma, e dei uma volta por uma parte pouco turística. Fiz alguns kilometros a descer por uma ciclovia, vi algumas Ruínas e Igrejas.
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Por volta das 5h45, tive receio de não dar muito bem com o hostel, e pus-me a caminho, pois sabia que ainda tinha de sair da cidade pela zona mais a norte. Tive algumas dificuldades de interpretar o mapa e de me localizar nele. Perguntei numa gelataria, qual o melhor caminho para a via Tiberina. A resposta foi: "não podes ir daqui para a via Tiberina de Bike é muito longe. Não dei importância, e segui pelo caminho que achava melhor. Foi então que percebi que, apesar de existirem milhares de bikes em Roma, ninguém se desloca nelas, muitos kilometros. As bicicletas que eles têm, são antiquadas e pouco dinâmicas, pela falta de mudanças e manutenção.
Ás 7h30 cheguei ao Hostel, com algumas dores no joelho direito, que para mim já não são novidade. O Hostel "Tiber" estava inserido num parque de campismo muito bom. Havia vários quartos cada um deles com 2 beliches. No quarto que me deram, estava uma mochila e uma cama feita, mas não vi ninguém. Quando fui tomar banho, apercebi-me que o parque tinha óptimas condições, nem estava á espera de tanto por tão pouco. Vale a pena pesquisar bem, na net, pois nem sempre o barato significa pior.
Quando voltei ao quarto, estava lá o dono da mochila, um Americano da Geórgia, com cerca de 28 anos que andava a viajar sozinho. Disse-me que se chamava Peter, que tinha terminado a Faculdade, não tinha emprego e decidiu sair para conhecer o mundo. Falamos bastante e fomos até ao bar, que tinha net á borla, boa musica e óptimo ambiente, onde também conheci outros e outras Backbakers.
AS FOTOS DESTE DIA, SOFRERAM UM ACIDENTE.

No dia 12, acordei por volta das sete horas. Comi e pedalei para Roma. Sempre tive calma a subir, sem ultrapassar os 10 km/Hora, e a descer, fiz uma pedalada forte mas devagar, para recuperar a dor no joelho e aguentar até ao ultimo dia de passeio. Comecei por visitar a Galeria de Arte Moderna, um Lago e outras belezas da Vila Burguesa.
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Encontrei este atrelado para vender candeeiros e muitos outros negócios que para nós não são convencionais. Depois desci para a Vila Albani e pela Castro Pretorio fui até a Estação Central de Comboios. Encontrei uma cidade com muita gente a deslocar-se de todas as formas possíveis, o mais parecido que já vi, com um formigueiro. O transito é muito intenso e por vezes desorganizado. Quando param num sinal, só esperam que o transito contrário passe, e depois arrancam mesmo que o sinal esteja vermelho.
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O Coliseu é o monumento mais Simbólico de Roma, mas o que achei mais bonito foi, o Panteão, o estado de conservação e o clarão de luz que desce do centro da cúpula deixou-me embasbacado.
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A Piazza Navona e o Campo de´Fiori são sítios muito agradáveis onde passei algum tempo. Mas de Bike as deslocações foram muito rápidas e não demorei muito tempo a ter a cidade toda vista (sem entrar em nenhum monumento)
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e depois de ver as pontes e a ilha Tiberina, contra aquilo que tinha pensado ver, fui até ao Vaticano (lugar que não me diz nada) com o pensamento positivo que pelo menos aquele não terá sido feito por escravos.
Vi um grupo de cicloturistas num passeio guiado.
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De volta ao Hostel, conheci mais um Backbaker que também estava no mesmo quarto.
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Um Mexicano com cerca de 31 anos, que viajava com dois amigos Chinês e um Sul Africano. Conversamos tanto que quando demos conta eram uma da manhã.


No dia 13, ao contrário do que tinha planeado, já não voltei a Roma, optando de imediato por seguir em direcção de Poggio delle Cavaliere. Uma pequena aldeia junto do Lago di Vicolo. O itinerário mandava-me rodar por uma estrada SS2, como já tinha usado essa via para entrar e sair de Roma, achei normal. Alguns kilometros á frente tive a sensação de estar na auto-estrada, mas como havia, outras vias a dizer auto-estrada e aquela não dizia, fiquei despreocupado.
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O Itinerário mandava-me sair, e virar á direita, mas umas obras tornaram tudo mais confuso. Perguntei a um motociclista, e ele disse que para aqueles sítios que o meu papel dizia, tinha de virar á esquerda. Virei e andei 8 kilometros a descer. Depois vi que estava a entrar em Roma, pela entrada mais a noroeste, não queria acreditar, tive assim, 16 kilometros a mais do que queria. Não era um bom começo, ainda mais porque nesse dia queria fazer 120 kilometros, e não podia perder tempo. Parei num supermercado e abasteci de agua e comida, para o dia. Cheguei a Poggio Dell´ellra e subi uma serra para Campagnamo di Roma, ai tive a sensação que estava mais uma vez enganado, pois a estrada tinha acabado e eu estava num caminho de cabras.
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Voltei a trás cerca de 500 metros e falei com um homem que me disse que eu estava bem, aquela era a Via Fontana Latrona. Espantado com tamanha diversidade obtida no Itinerário da ViaMichelin, continuei. O caminho voltou-me a levar para a SS2, sem perceber porque tinha saído e voltado a entrar, segui durante tanto tempo que fez-se horas de almoçar. Sai para o efeito, e parei no primeiro lugar á sombra. Estava á porta de um condomínio fechado, e quando estava a cortar o salame italiano para dentro do meu tacho de massa, apareceu o guarda do condomínio. Eu levantei-me e caminhei até ele, quando reparei que tinha na mão o canivete aberto. Voltei atrás para o pousar e cheguei-me perto do guarda, que só me queria dizer que não deixa-se lixo no chão. Depois de almoçar passei por Gabelletta e por Manetti até que cheguei a Poggio delle Cavaliere com 75 kilometros percorridos. Passando assim o sitio que tinha, inicialmente planeado dormir, continuei na esperança de chegar ao Parque de Campismo de Montalto di Castro. Por um dos trajectos mais bonitos que passei, vi uma Reserva Natural e o Lago di Vicolo, várias quintas agrícolas fantásticas e paisagens lindas.
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Depois de passar por Monte Romano encontrei Tarquinia outra bela aldeia que me deixou encantado.
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Mais uma vez, todas as indicações me levavam para a SS2, mas desta vez as coisas não davam margem para erro, pois a facha de rodagem terminava numa berma e o sol já tinha desaparecido do horizonte. Tinha 132 kilometros percorridos e a placa anunciava, só faltarem 19 quando desisti por força de uma buzinadela de camião. Sai da SS2, e segui pela única estrada que vi.
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Já era de noite e não havia qualquer luz que me guia-se. Estava bem fisicamente, mas comecei a sentir raiva, porque achei que a sorte me tinha abandonado. Depois de um dia maravilhoso, estava a ter uma provação ás minhas próprias capacidades de suster o medo e solucionar o problema de não ter um sítio seguro para dormir. Já tinha visto a carcaça de um animal, em que os ossos estavam ruídos, de tal forma que as costelas, tinham ausência de pele ou carne. Era um sinal de animais selvagens, num país que eu desconhecia o tipo de nível de existência de vida animal. O tempo foi passando e eu não via ninguém na rua, a não ser em carros que passavam sem abrandar.
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Ás 23 horas, vi cinco ou seis casas, e parei. Toquei á campainha, e pedi que me ajudassem, porque estava perdido. O Sr. disse-me que eu estava na estrada que ia para Tuscania, e que devia voltar para trás. Como não gosto de voltar para trás, optei por a segunda hipótese que ele me sugeriu. Continuar, e virar na próxima localidade. O que aconteceu logo após vinte minutos, mas depois, a rota parecia andar paralela á que tinha feito, até então. E muito tempo se passou, até que vi uma povoação. Estava completamente esgotado, e decidi, que não iria procurar o Parque de Campismo, pois não me deixariam entrar. Parei no primeiro quintal que encontrei. Montei a tenda e entrei um pouco, ficando com a cabeça e as pernas de fora. Enquanto comia, passou uma carro de policia carabinieris, mas como eu estava meio escondido eles não me viram. Adormeci, quando já passava da 1 hora da manhã. Percorri 186 kilometros, em 15 horas e 30 minutos.


No dia 14, acordei várias vezes durante a noite, pensando que a policia ou algum morador me mandasse sair dali. Por volta das 7h15, saí da tenda, arrumei tudo e zarpei. Nesse momento, vi que estava a 1,5 kilometros de Montalto de Castro. Ainda procurei o Parque de Campismo, para tomar um banho, mas as placas mandavam-me seguir em frente, quando já estava a sair daquela Aldeia, e eu não tive para pedalar mais. Fui para a estação de Comboios e esperei três horas e meia por um comboio, (que não estava destinado apanhar) e segui para Orbetello.
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Quando lá cheguei, comprei um bilhete de comboio para Siena, que passava 3 horas depois e foi nesse tempo que visitei a Ilha de Orbetello.
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Comprei conduto para fazer massa, mas algumas centenas de metros á frente não encontrei uma fontana, para tirar agua, e decidi ver os preços numa pizzaria no largo da aldeia. Bem dita a hora. As fatias de pizza, custavam 1 euro, uma terça parte do habitual. comprei 3, mas não resisti e ainda fui lá buscar mais uma.
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Já no Comboio para Siena, passei muito calor. A falta de um banho e o desgaste físico, estavam a deixar-me desesperado. Aproveitei os factos de, não ter quase ninguém no comboio e haver casa de banho, para lavar o corpo e os pés, e trocar de roupa. Quando cheguei a Siena, devo confessar que não tinha vontade de andar de bicicleta.
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Fui direito ao Hostel, tomei um banho e sai. A Bicicleta ficou na rua, com 3 correntes, e eu fui até á zona Histórica, que ficava a uns 5 kilometros talvez. Cometi o erro de não calçar os chinelos, e fui com os ténis da Bike. Pior é que por ter lavado as palmilhas, enfiei uma meia no fundo de cada téni, para não me doer os pés, nuns buraquinhos quadrados que o scott tem. Não valeu de muito, pois fiquei com umas bolhas, que me morderam no caminho de regresso, todo.
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No hostel só tinha mais uma pessoa, no mesmo quarto. Mas ao contrário dos camaradas do primeiro hostel, este foi antipático. Vestia roupa de princês e tinha uma mala de pele de cobra. Quando cheguei, ele estava a dormir, acendi a luz e ele começou a refilar. Disse-lhe que ele tinha de ter calma, que eu já apagava.

Dia 15
O Hostel tinha boas condições. Tal como um hotel, este tinha sido construído, para o devido efeito. Como tinha pequeno almoço incluído, fui logo ao refeitório. Um tipo simpático, com ar de solitário cumprimentou-me. Já com o tabuleiro na mão, dirigi-me á mesa dele, e sentei-me. Tivemos uma daquelas conversas engraçadas. Como não podiam faltar, as cinco perguntas da praxe: DE ONDE ÉS? DE ONDE VENS? PARA ONDE VAIS? HÁ QUANTO TEMPO ESTÁS A VIAJAR? QUAIS OS LUGARES ONDE JÁ TIVESTE?
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Existe muita vontade de conhecer outros viajantes e principalmente competitividade, para ser o que mais lugares conhece. Estas grandes "amizades" são devidas unicamente devidas á cumplicidade, das pessoas (que falo) ,serem viajantes.
O pessoal desse hostel, era muito antipáticos. Para além do preço ser 20€/c/peq.almoço (o que é caro), a net era a 3€/20minutos, a garrafa de cerveja 33 cl/4€. Ainda queriam que os hospedes trouxessem a roupa da cama para baixo. Como não estava ninguém na recepção quando lá cheguei, ao entregar a chave, o rapaz perguntou: «já pôs ai os lençóis?». Ao que eu respondi: « Claro, pus sim». (lixei o gajo)
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Como se pode ver na foto, estava a 71 kilometros de Florença. Mas se vocês repararem, diz SS2. Em vez de ir de comboio como tinha planeado, decidi ir de Bike. Entrei nessa estrada, e fiz alguns kilometros, quando um carro da policia no sentido inverso, liga a sirene e barafusta comigo, dizendo que eu não podia estar ali. Aproveitei que não estava longe da próxima saída e saí. Começava agora a circular numa zona rural, onde não havia placas a indicar a direcção de Florença, mas sim das pequenas aldeias.
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Em Poggibonsi encontrei um Italiano que vinha do norte de Itália e estava a caminho de Siena, para pernoitar, a meio de uma viagem que tinha intenção de acabar em Napolis, daqui por um mês.
Após este bom encontro, desci, voltei a subir, voltei a descer e subi novamente.
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Uma grande subida levou-me á mais bela Aldeia que os meus olhos vislumbraram. Barberino Val D´Elsa, uma aldeia quase toda em pedra, do mais limpo e arranjado que vi por lá.
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Tinha apanhado alguma chuva, mas não tinha frio mesmo com manga curta. Aproveitei para almoçar, mais uma das minhas massinhas. Comprei um copo de vinho, que me custou 2 euros, e 2 salsichas de Salame Italiano, que me custaram 1,95 euros.
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Sobre uma pipa liguei o meu fogão, quando uma Senhora colocou as chaves á porta, mesmo ao lado da pipa.
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Parou, olhando para o que eu estava a fazer. Voltou a trás e entrou na loja , onde eu tinha estado. Depois saiu e perguntou-me: «you speak English?» , ao que eu respondi: «non parlano in italiano, che ho capito.» Ela «vogliono una insalata che mi offrono». Eu- «Se eu quero? Claro que sim. Agradeço-lhe muito.» e como se não basta-se ofereceu-me, mais um copo de vinho e um bom bocado de pão. Como podem ver na foto.
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Ao abandonar o local, deixei ficar os meus óculos de sol, o que valeu foi não me ter demorado muito a lembrar e por sorte ainda estavam lá.
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Em Romita parei para lanchar. Vi muitos miúdos a sair da escola, e fiquei com muitas saudades dos meus. Queria me controlar mas a sensação era mais forte que eu. Desatei a chorar, e tentei-me esconder.
Já em Bargino , perguntei numa oficina qual o melhor caminho para Troggi. Dois homens discutiram um com o outro até que chegaram á conclusão que o melhor caminho era no sentido de Greve. Depois na estrada para Antella, vi várias prostitutas. Cheguei a Troggi ás 8h40, e aproveitei para jantar numa pizzaria. Mas as pizzas custavam o dobro das de Orbetelo e tinham metade da qualidade. Entrei no parque Il Poggetto, que tinha sido aconselhado por o meu amigo Luis Vaz. Ele tinha razão, fazer campismo ali era como estar num hotel.

No dia 16, comecei por lavar a minha roupa, com sabão azul e branco. Como ia ficar no parque de campismo mais dois dias, esta era a altura certa para pôr o vestuário em ordem.
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A roupa que levei para esta viajem, foi: 5 t-shirt, 1 Swet, 1 camisa, 1 polar, 1 bermudas, 1 calças, calção de banho, 6 boxers, 11 meias e 1 corta-vento, 1 par de chinelos e uns ténis com clics.
Depois de 356 kilometros, em apenas 4 dias, este foi para descansar. Passei o dia na piscina, mais a boiar do que a nadar. Aproveitei também para arrumar a bagagem, que durante as deslocações, se baralham e tornam tudo uma bagunça. Não me privei de levar nada. Tinha um carregador de pilhas de telemóvel e de câmaras, uma extensão de 5 metros que servia para ligar tudo. No corpo levava: capacete, luvas, óculos de sol, ténis, bermudas, t-shirt, meias e boxer. Na bike: 2 Alforges, 1 bagageira, luzes, conta kilometros, quadro de mapas, papel e caneta, 3 cadeados e cordas. Uma mochila com: telemóvel, cartão com tipo de sangue, multibanco, bilhetes, lanterna de cabeça, medicamentos, câmara fotográfica e de filmar, alguma comida e agua. Nos alforges: 1 bolça de Higiene c/ 1 shampoo, 1 gel banho, pasta e escova de dentes, gilete, cotonetes, papel higiénico, desodorizante, perfume, corta-unhas, creme hidratante. Isqueiro, fogão, tacho, talheres, esfregão e detergente da loiça e da roupa, café, açúcar, azeite, massas instantâneas, bolachas e chocolates. Espero que isto ajude alguém a não deixar ficar em casa nada que faça falta para um passeio como este.
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Foi um dia simples sem muito para dizer. O bar era mais virado para jantares, por isso não me sentia com muita vontade de lá ficar. Fui dormir por volta das 10h30.

No dia 17, levantei-me cedo, e fui para Florença. O caminho, já me era familiar, até ao sétimo kilometro, quando cheguei ao cume da serra onde passei por San Donato in Collina.
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Daí por diante foi só descer 12 kilometros até entrar na cidade. Comecei por visitar, uma parte menos turística. Os Campos de Jogos, Jardins e

Onde vi RODAS de BICICLETA presas, e a Bike já era.
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Vi também pessoas a fazer a sua vida de bicicleta como
vemos na foto.
BREVEMENTE :roll:
Existiam milhares de bicicletas.
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E Ciclovias quase boas.
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Digo quase porque tinham ressaltos, curvas apertadas e ziguezagues. Também haviam boas ciclovias, em que eu
circulava na estrada, tal como eu acho que deve ser.
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Vi a Chiesa Badia Fiorentina naquela bela Piazza dall Signoria, com aquela linda fonte de Neptuno, e todos os
outros maravilhosos monumentos.
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As pontes sobre o rio Arno, têm brasões, esculturas e outros apetrechos, que
fazem delas algo mais do que passadiços. A que eu julgo estar mais mal preservada, é a mais fotografada e
deslumbrada, pelos turistas... a Ponte Vecchio.
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As casas penduram-se nela, com o auxilio de estacas, e no seu
interior, existem muitas lojas de ourivesaria, que têm um aspecto de um forte.
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No meio três arcos, fazem-nos perder a noção do tempo, pois só apetece ficar ali a desfrutar da paisagem.
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Por falar em paisagem, toca a subir até à Piazzale Michelangelo. De onde podemos tirar esta foto.
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Subindo mais um pouco, temos a Chiesa di San Miniato al Monte.
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Com uma Vista mais a oeste.
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A esta altura, pensei em continuar a subir para voltar para o Parque de Campismo, mas o caminho era tão mais
longe que preferi descer e fazer o caminho que tinha feito para Florença. Assim voltei a passar por Bagno a
Ripoli, Osteria Nuova para regressar a troggi. Quando cheguei ao parque, tive uma surpresa. Como era domingo
a piscina, estava repleta de jovens, e num socalco superior estava uma banda de amadores a dar umas guitarradas.
Até foi engrassado, pois até cantaram uma musica que eu gostei, porque dizia: "any day any way".
No final do dia, depois de jantar uma sopa de creme de marisco, dei uma caminhada e de seguida fui dormir.

No dia 18, tive a piscina só para mim, e gozei um sol maravilhoso até ás 11 horas.
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Tomei um bom duche, fiz mais uma vez a barba. Quando era perto do meio-dia, saí do parque. Agora carregado, subi os sete kilometros até San Donato in Collina. Comprei um frasco de Capperi, e um pão, e dirigi-me á fontana para encher a garrafa de água.
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Desci até Florença, onde me perdi para chegar à Estação Central. Comprei os bilhetes para Pisa, e corri para apanhar o comboio que estava para partir.
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Junto aos maquinistas, existia um sítio próprio para bicicletas. Fizeram-me pendurar a bicicleta, nuns ganchos. O mesmo não fizeram á bicicleta de duas Italianas, que também lá estavam. É que elas não tinham comprado o bilhete para a bicicleta,(que custava 3,50€), então numa paragem a seguir, uma delas saiu, e prendeu a bicicleta a um poste, e voltou a entrar.
Eu também tive problemas, mas a minha questão foi diferente. Quando entrei, vim tão à pressa que não obliterei os bilhetes. Logo, o maquinista que também era revisor disse que eu tinha de lhe pagar o bilhete outra vez. Depois de muita recusa da minha parte e de ameaças da parte dele, mostrei que por acaso não tinha os 6 euros que ele me estava a pedir, e ele deixou-me ir obliterar os bilhetes a correr, numa estação por onde paramos.
Em Pisa, por volta das 14 horas, fotografei a Torre Inclinada e o pouco mais.
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A esta altura, já me faltava alguma disposição e comecei a venerar a ideia de voltar a abraçar os meus filhos.
De volta à estação, tive muita dificuldade em encontrar alguém que soubesse quais os bilhetes que tinha de comprar para Barcelona. Escolhi os mais económicos que foram os comboios regionais. Apanhei tantos comboios que perdi-lhe a conta.
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Dia 19.
Já á 1 hora da noite, cheguei a Ventimiglias. O próximo comboio seria ás 5h40. Fui até ao posto de policia que existia na estação, mas eles estavam a fechar. Entrei no edifício da pequena estação, e vi um cenário negro para as próximas horas. Haviam alguns sem abrigo, uma família israelita, bêbados, dois jovens que provavelmente tinham perdido o ultimo comboio (estavam apenas com chinelos, calção de banho e uma toalha cada um) Finalmente vi uma rapariga com quem eu me identificava. Era mais uma Backbaker, com a sua grande mochila, que estava num canto, entre dois grandes pilares. Aproximei-me, e disse-lhe em português que ia sentar-me junto ao outro pilar. Quando me preparava para sentar, apareceu um tipo com uma estrutura ligeiramente inferior á minha, a dizer «what you want?» e quase a empurrar-me. Em português disse-lhe que só estava a dizer á moça que me ia sentar naquele canto, qual era o problema dele. Então ele disse «tu fala português cara?» - Ia falo, e tu és brasileiro? –«sim sou» -Estou á procura de um canto com mochileiros, e como vi a mochila, achei que era a quem me devia juntar. Ele disse-me que fiz bem e deu-me autorização para ficar. –«meu nome é Inácio e ela é a Susana». Depois vieram mais dois mochileiros, um casal de chineses, que não me peçam para lembrar como se chamavam. O Inácio contou-me as suas viagens e eu fiquei a conhecer outra realidade dos mochileiros. Ele não tinha dinheiro nem pais ricos. Por vezes tinha de trabalhar e dependia de alguns amigos aqui e ali. (nesse momento vi, que era melhor não lhe dar o meu endereço de e-mail, pois corria o risco de ficar com o sofá da sala. ocupado) a Susana estava a namorar com ele, mas aconteceu depois de ter sido enviada para ter com ele, por um amigo a quem disse que queria conhecer a Europa.Enquanto falávamos, acendi o fogão para nos aquecermos. A conversa foi animada e fiquei a saber muita coisa que faz falta para quem anda assim desprotegido. Quando eles seguiram caminho para pisa, houve a despedida mais difícil de todas até então. Às 5h40 apanhei mais um comboio e depois mais outro, até Nice, onde tive de comprar mais bilhetes. Aproveitei para investir em comboios rápidos, mas na bilheteira não me arranjavam bilhetes para a bike por não haver comboios com espaço próprio. Decidi arriscar e entrei em um TGV e outros que não era permitido, mas tive sorte de não me mandarem sair. Num deles duas raparigas revisoras abordaram-me, dizendo que não podia ter ali a bike, indicaram-me a carruagem de cargas, eu até suspirei. Nessa dita carruagem existia um escritório para cobrar bilhetes aos que não tinham comprado. As cobradoras levavam os que iam a bem, para os que fugiam ou se negavam a vir existiam cinco policias e um cão. Vi dezenas de pessoas a vir á força. Muitos ilegais na Europa, mas não desconhecedores da lei Francesa. Evocavam os direitos de andar de comboio até ao destino pretendido, e as cobradoras decretavam-mos devedores ao estado Francês. A um casal de ilegais, que ela estava grávida e ele trazia um saco de plástico como única bagagem deles, dei pão e chocolate. Perguntaram-me para onde eu ia e se era bom para negócio. Numa paragem fui á rua mas fiquei a olhar pela janela o sitio onde estavam as minhas coisas. Vi o indevido a sair do comboio, entrei logo, ela estava a tentar roubar-me, mas não lhes guardo rancor. Mesmo pessoas legais na França eram apanhadas e pediam que lhes fosse enviada a conta para casa, que quando tivessem dinheiro pagavam.
Em Montplier tinha um comboio rápido para Barcelona, sem sítio próprio para a bike. O maquinista espanhol não me deixou entrar. Fui obrigado a apanhar um comboio regional para a fronteira e a seguir outro para Barcelona. A chegada a Espanha, muitos policias cercavam as pessoas e perguntavam pela identificação e o que traziam. No ultimo comboio, estava tão sozinho que por vezes o segundo maquinista passava para ver se ainda estava alguém e por fim perguntou-me para onde eu ia. Quando cheguei a Barcelona as saudades dos meus filhos era tanta que não pensei em mais nada. Perguntei o caminho para o aeroporto, mas aconselharam-me a não ir de bike porque já era meia-noite. Tentei entrar com a bike num autocarro, mas o motorista não me deixou. Voltei á estação por que tinha luz.
Como não tinha uma caixa de cartão para embrulhar a bike. Abri a minha tenda no chão, pus a bike e embrulhei com fita cola. Voltei á paragem e entrei no autocarro e fui para o aeroporto.
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No dia 20, às 4 horas da madrugada, dirigi-me para a bilheteira que estavam prestes a abrir. O bilhete que comprei meses antes, custou 47 euros. Fiquei danado quando me dizem que só para antecipar 2 dias, teria de pagar mais 170 euros. Depois de uma irritação, diz-me que por mais 85 euros, tinha um voo às 12h30. Paguei esse roubo, e fui procurar um cantinho para dormir. Juntamente com outras pessoas, também com bom aspecto, deitei-me no chão com o meu colchão e saco cama, e dormi até às 9 horas. Quando me levantei, fui à casa de banho, fazer a minha higiene matinal, de seguida tomei o pequeno-almoço, e fiquei a fazer tempo para o check-in, que só aconteceu às 10 horas. Fiquei mais uma vez à espera e às 12 horas dirigi-me à porta 38, depois mudou para a 34, mas por fim lá estava, tudo certinho.
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O voo correu bem. Adormeci nos primeiros minutos e só acordei quando ouvi papel a rasgar. Sarapantado espreitei, e vi já tudo a morfar, pedi logo a minha parte. Aproveitei para comprar um perfume que a TAP tem no catálogo, e até achei bem em conta. Depois de aterrar, ao receber a bagagem, foi uma corrida até ter tudo montado. Tudo não, pois o pior guardou-se para este momento. Com a pressa, e com a falta de dormir, ao desmontar o drop-out, tinha deixado o parafuso na estação de Barcelona. Não fiquei muito danado com a situação. Parece que já sentia o abraço dos meus filhos, e isso deu-me uma força e uma ideia. Puxei do descravador de correntes e montei um sistema single-spid, atei o desviador ao quadro, e lá fui eu só com uma mudança, que por acaso foi a 12ª. E com este único problema técnico, acabou uma viagem cheia de emoção, saudades, suor, alegria, e aprendizagem. A nossa experiencia de vida constrói-se a cada dia, se enfrentarmos os desafios dependendo das nossas capacidades, enriquecemo-nos, e mais ficamos mais preparados para os que vierem a seguir.
 

Myrage

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Re: EM CONSTRUÇÃO Eu e a minha Bike em Itália

Agora entendo a demora na Crónica :wink:

MUITO BOM.

MY
 

root

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Re: EM CONSTRUÇÃO Eu e a minha Bike em Itália

Fantástico :shock: :shock: :shock: :shock: :shock: :clap: :clap: :clap: :clap: :clap: :clap: :clap: :clap:
 

coelhone

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Re: EM CONSTRUÇÃO Eu e a minha Bike em Itália

pxxeeiiii :shock:
é preciso muita DETERMINAÇÃO e CORAGEM.
ADOREI
 

Un4s33n

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Re: EM CONSTRUÇÃO Eu e a minha Bike em Itália

Aquela parte da noite impõe respeito... andar 20/30km sem quase ver um padeiro e sem ter a mínima noção de onde se está... bolas!!!

Já estive em Florença e em Veneza, mas em Veneza não te governavas de bicicleta :mrgreen: , só mesmo de barco!

Há uma falha grave na tua análise - as Italianas... :lol: :lol: :lol:

Uma aventura para a vida, sim senhor!!!
 

Goncalo_Noverca

New Member
Re: EM CONSTRUÇÃO Eu e a minha Bike em Itália

:shock: :shock: :shock: :shock:

OMFG

:shock: :shock: :shock: :shock:


TU mereces isto: :#1: :podio:

Parabens!! :cheers: :cheers:




:venia: :venia: :venia: :venia: :venia: :venia: :venia:
 

desmo13

New Member
Re: EM CONSTRUÇÃO Eu e a minha Bike em Itália

Amigo, depois disto já não preciso de ir de férias... Parabens pela viagem / aventura, mas acima de tudo obrigado por partilhares. :wink:
 
Re: EM CONSTRUÇÃO Eu e a minha Bike em Itália

Caro Confrade

Isto sim, é outro nível do BTT. Parabéns.

1 abraço e um queijo da serra
Miguel K2 Sampaio
 

Tico

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Re: EM CONSTRUÇÃO Eu e a minha Bike em Itália

Bela aventura, só me deixa com mais raiva de não poder pedalar com esta chuva :twisted: :twisted:
 

leo_delibes

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Re: Eu e a minha Bike em Itália

gostava de ter os meios para fazer algo do género mas, acima de tudo, gostava de ter a vontade e a coragem.
parabens
 

floopi

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Re: Eu e a minha Bike em Itália

Parabens, toda a tua viagem foi simplesmente fantástica.

É preciso muita força, muita coragem e muita determinação para fazer o que fizeste.

Andar de noite em sitios que nem conheces, dormir no meio do nada, dormir na estação, por aí onde calha... :shock: :shock:

Reafirmo o que já disseram :clap: :clap: RESPECT
 

quimis

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Re: Eu e a minha Bike em Itália

Boas,
Parabens pela viagem :clap: :clap: :clap:
Italia é o meu pais de eleição e Florença, Siena,Luca São Cidades fantasticas :wink:
Toda a Toscana é do outro mundo, gosto tanto que ainda este mês volto la para reviver, pena é não ser de bike :(

Quimis
 

Leonix

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Re: Eu e a minha Bike em Itália

Parabéns pela viagem e pela crónica!

Estas viagens são sem dúvida uma lição de vida!
 

ze_zaskar

New Member
Re: Eu e a minha Bike em Itália

Boas
Excelente reportagem, daquela que deve ter sido uma excelente viagem.
Só uma questão, que plataforma de carga usaste?
:wink:
 

pin7as

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Re: Eu e a minha Bike em Itália

espectacular!!!!

sem dúvida de um gajo ficar :drool: :drool: :drool: :drool:

pah, tiveste muita coragem e determinação...

realmente: :venia: respect :venia:
 
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