«Que está a ser feito das últimas zonas verdes com dimensão e significado na Área Metropolitana do Porto? A resposta é simples: em certos casos, estão esses derradeiros bastiões entregues ao esquecimento e, o que é pior, à voracidade das operações imobiliárias - sem que ao menos a opinião pública tenha uma ideia clara sobre o que se está perdendo. E isto passa-se no momento em que mais se fala de "requalificar", de defender o ambiente e de ordenar o território. Algum dia - certamente já tarde de mais - lamentaremos amargamente a perda de espaços que tornariam possível a qualidade de vida e a verdadeira humanização das cidades!
A Quinta de Marques Gomes é um desses espaços, porventura dos mais importantes. Estendendo-se entre S. Paio e o Cabedelo, e da marginal do Douro até aos pontos mais altos de Canidelo, aí se guardam matas e terras cultivadas, pastagens e prados selvagens, num conjunto notável, como que emoldurando o belo cenário estuarino, com a sua paisagem bela e surpreendente. (ver foto aérea) Vila Nova de Gaia poderia contar com tal património natural para criar o "Parque da Cidade" tão necessário e diversas vezes proposto. Mas não. A Quinta, e tudo o que ela significa como "pulmão" de Gaia e da zona do Porto, está em grave risco de se perder.
Foi recentemente anunciado o que a aguarda: a sua transformação num "agregado com cerca de 1100 casas, totalizando mais de 148 mil metros quadrados de habitações - com uma cércea , em média, de quatro andares -, e 10 mil de escritórios, a que acrescem 70 mil metros quadrados de estacionamento subterrâneo".
Uma tão pesada ocupação significa, sem apelo nem agravo, a transformação da Quinta numa saudade, certamente com resultados lucrativos, mas que se duvida possam ser de interesse público.»