SilvaJeans Team, Porto - Santiago 24 a 27JUN12

pedromadrugo

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Apesar de haver muita literatura similar, não queria deixar de partilhar aqui a minha experiencia...

Ao meu filho e à minha mulher, as pessoas que mais amo neste mundo!

Há já bastante tempo que pensava nisto…

Avanços e recuos, vamos, não vamos… percalços e alterações… combinações e desencontros… os meses foram passando, os anos até!
Em 2011 tive a oportunidade da realização… mas motivos de força bem maior fizeram-me desistir quase em cima do acontecimento. Desistir não!!! Adiar… sim porque a ideia permanecia em mim! Agora como nunca, por motivos vários e mais um e o principal!
Até chegarmos a 2012, onde surgiu um convite mais sério para este desafio! Cabeça novamente em ebulição, combinações e contactos, conversas e “autorizações”… e eis que mais uma vez a “missão” teria que ser adiada… no entanto desta vez não por muito tempo. Apesar dos actores terem sido alterados, os moldes e a forma como se iria desenrolar a aventura estavam ainda em discussão… quem vai e não vai…
Certo dia, de pancada mesmo, num telefonema como o amigo Carlos, lancei-lhe o desafio em jeito de “queres ir comigo?”, mais ou menos assim: Oh meu e se fossemos assim naquela sem passar cavaco a mais ninguém? Apenas 2 ou 3 manos… mochila às costas e siga… Em autonomia!!!
A resposta, como sempre aliás, foi pronta: “Bora nessa… tenho que ver primeiro como estou em termos de trabalho…”
Os dias foram passando e a coisa começou a ganhar forma, marquei a data de saída – 24JUN12.
Entretanto em conversa com o amigo Consta, chegamos à conclusão que também ele iria estar de férias nessa altura e que alinharia também na aventura… ainda demos um toque ao Marco que também ficou com a pulga atrás da orelha, mas infelizmente não nos poderia acompanhar desta vez. As férias não permitiam… Fica para a próxima!
A ideia inicial foi sermos apenas um grupo muito, muito restrito. Em primeiro lugar pelas condições que se iam encontrar, o desconhecido, a menor logística possível e depois pela razão mais importante para mim: Os motivos que me levaram a este desafio! Assim, três eram o ideal!
Mais noticias desanimadoras… o Carlos afinal, por motivos estritamente profissionais, não nos poderia acompanhar… Confesso que fiquei triste e desolado, pois o meu “rival” mais próximo, o meu “asa” dos passeios, a minha dupla habitual… não poder ir comigo nesta aventura épica era uma coisa que ansiava e na qual tinha o maior gosto!
Tinha ainda como companheiro o Consta, que quando diz que vai, vai! E assim foi…
Já pedalámos muitos quilómetros juntos, direi até que fui eu o responsável pela doença dele pelas bikes e pelo BTT em particular! Conhecemo-nos à anos, desde putos… Portanto estávamos em “família”.
Tratei dos documentos “oficiais” necessários para a expedição!
Tudo orientado, mochilas compradas, sacos cama, barras energéticas, roupas, equipamentos, ferramentas, etc, etc.
Fiz questão de manter a coisa quase em “segredo”, não que tenha que justificar seja o que for a quem for, mas porque entendi que esta era uma “coisa” mais reservada! Nunca escondi de ninguém que tinha intenções de um dia destes fazer esta aventura ou desafio ou Peregrinação! Muita gente soube… nunca deixei de falar disso fosse onde fosse… apenas não fiz publicidade, não era esse o intuito nem a necessidade!
Tudo planeado, etapas a percorrer, locais onde pernoitar, refeições… tudo transcrito apenas num papel de rascunho num dos serviços que fiz e que me valeram uma das folgas para poder percorrer estes caminhos!
Grande dia está mesmo aí!!
Tive ainda a oportunidade e o gosto de poder fazer, na semana antecedente, um belo treino para o empeno que me esperava. Participei na XXXI Peregrinação Militar Nacional, tendo percorrido o Caminho do Tejo desde a Ota até Fátima. Fi-lo a convite do “meu” pessoal da Ota com muito gosto. Obrigado a todos pela companhia! Para terminar a semana em beleza, com a companhia sempre presente dos meus “asas” Consta e Carlos percorremos o Raid de Minde 2012.
Uma semana inteira sem sequer “olhar” para a bike, com as sessões do Ar Puro TFM a decorrerem na normalidade o descanso necessário teria que ficar para depois do regresso…
Tudo a postos…24jun12 - 13h30, hora marcada na Pia do Urso, onde nos iríamos despedir das famelgas, carregar o carro do Consta (foi o escolhido) com as bikes e mochilas para nos deslocarmos até ao Porto. Local de inicio desta epopeia. Tempo ainda para nos cruzarmos com os nossos amigos de longa data: Paulinho e Pedro que chegavam nesse momento da sua super aventura da semana… juntamente com o amigo Tó João, percorreram então o percurso 6 do Centro de BTT da Batalha – Pia do Urso.
Estava, oficialmente, iniciada a nossa aventura! Deslocávamo-nos para o Porto, onde ambos conhecíamos precisamente o mesmo, pelo menos no centro… a aventura tinha mesmo começado… depois de uns telefonemas para um amigo residente na cidade lá nos orientámos e conseguimos dar com a Sé Catedral do Porto! Local de inicio da nossa peregrinação!
A medo estacionámos o carro nas traseiras da Sé… e garantidamente que nos primeiros minutos de pedal, apesar de nada termos dito um ao outro, ambos pensávamos se o carro lá estaria quando regressássemos uns três dias depois?....
Pois bem, carimbo na credencial a atestar que iniciávamos ali a nossa “caminhada”, foto da “praxe” com a fachada granítica da velha Sé do Porto como pano de fundo lá demos as primeiras pedaladas… não tardou 500 metros e eis que surge o primeiro engano ou falta de atenção às excelentes marcações em todo o caminho, e aparece também o gasto do primeiro crédito… catrapuz!!! Sapato no pedal, mochila ainda não “calibrada” nas costas, guiador muito “torcido” e ai vai o rapazinho “provar” o empedrado de granito!!! Nada de grave, apenas uma queda para o lado…
Seguíamos agora por entre ruelas e becos, descidas íngremes, e degraus, e escadarias que me fizeram querer largar os travões e gozar aquelas escadarias como outras que fizera na semana antes – Minde. Mas não dava, mesmo, desta feita tinha que “ter mais juízo” e lembrar-me que levava mais uns 8 quilos em cima, literalmente.
Rompemos o Porto, dirigíamo-nos ao nosso objectivo diário – São Pedro de Rates, teríamos que percorrer 37 km. Planeara sairmos do Porto às 16h00, não estava mal, estávamos apenas “desfasados” uns meros 60 minutos! Nada de alarmante… apesar de ser tudo novidade à nossa volta, nada de muito interessante do ponte de vista paisagístico nestes primeiros kms. Assim que nos íamos afastando da urbe o cenário foi-se alterando, aparecendo verde aqui e ali… até que chegamos a um local que recordo… não me lembro do nome… mas era uma ponte antiga com um riacho com aguas límpidas a correr-lhe por baixo… parei de imediato e fotografei! Absorvi a calma que ali se fazia sentir naquele fim de tarde de domingo, terá sido aqui que verdadeiramente encarei o espírito que me levara a percorrer este caminho… Uns habitantes locais desfrutavam, mais à frente, daquela paisagem bela, cumprimentámo-nos com alguma alegria… estava realmente um fim de tarde esplêndido! Uns metros mais à frente, é certo, a alegria e entusiasmo que levávamos se viria a desvanecer… apresentava-se-nos ali uma subidita… talvez a primeira da aventura… não mais de 500 metros até alcançarmos à nossa direita uma Capelinha muito bem arranjadinha, com um jardim igualmente bem cuidado. Parámos mais uma vez, fotografámos! Não sei se como “desculpa”, pois do outro lado da rua que teríamos que cruzar continuávamos a subir uma rua, igualmente, de calçada! Passamos ainda por mais uma ponte antiga, talvez irmã da anterior, pois faz igualmente parte de um percurso pedestre de pequena rota à semelhança da primeira.

(Rates é uma freguesia portuguesa do concelho da Póvoa de Varzim, com 13,93 km² de área e 2 505 habitantes (2011). Densidade: 180,5 hab/km². Foi restaurado o estatuto de vila em 2 de Julho de 1993, sob o nome de São Pedro de Rates, muito embora a freguesia e a vila sejam conhecidas apenas por Rates.
Era um ponto de passagem de uma via romana, e aí começa um dos trilhos dos caminho de Santiago em Portugal. No livro «As Mais Belas Vilas e Aldeias de Portugal», é descrita como uma das mais formosas povoações portuguesas.
É nesta vila que está sediado o Albergue de Peregrinos de São Pedro de Rates, o primeiro albergue de peregrinos do Caminho Português de Santiago a abrir em Portugal.)

Fim daquela que defini como primeira etapa – São Pedro de Rates, desembocámos num entroncamento onde do outro lado da estrada podemos ver um mapa com os vários caminhos, albergues e outras informações importantes e necessárias!
Chegámos, finalmente, ao final da tarde, quase noite a S. P Rates, eram umas 20h00, entrei na igreja onde, por alguns momentos, rezei e agradeci por ter chegado ao fim da primeira etapa!
Encaminhámo-nos, depois, para o albergue local, o primeiro onde iríamos pernoitar, onde fomos excelentemente recebidos pelo António, um homem baixo com o pouco cabelo rapado, que nos recebeu com um: “então só agora??!” Ao que respondemos no mesmo tom: “pois claro, acho que ainda é a horas não??!!” A empatia foi imediata, a simpatia e a tranquilidade com que nos recebeu foi como que um prémio destes primeiros e apenas 37 kms. Guiou-nos depois pelo albergue, indicando-nos tudo o que precisávamos de saber: quarto; wc; cozinha; arrecadação para as “burras” etc, etc. Explicou-nos ainda que o albergue encerrrava às 22h00, mas que a “porta” ficaria encostada… (ou não)!
Sugeriu-nos, por nosso pedido, um local para retemperar-mos as forças e deglutirmos um belo repasto…
Banho tomado e roupa lavada, estávamos prontos para ir à janta! Subimos a rua de calçada ao longo duns 500 metros e lá encontrámos o café/restaurante que o António nos indicara…
já passava das 21h00 e, confesso, a receio perguntei ao homem atrás do balcão se poderíamos jantar… com um gesto quase automático e de uma resposta pronta chamou a sua esposa que nos explanou verbalmente a “carta do dia”! Simpatia, mais uma vez nesta terra… fomos recebidos muito bem! Escolhemos comer carne de porco à alentejana! Entretanto sorvemos uma jola para começar a repor os líquidos perdidos…
Bem servido o jantar, regado com um Alandra tinto, de onde a sra. Disse que podia beber o que quisesse que só pagaria o que bebesse! Onde é que isto ainda existe? Abrirem uma garrafa para uma pessoa apenas e poder beber um copo simplesmente…
Regressados ao albergue para xonar, ou pelo menos tentar, deparámo-nos que afinal o portão daquele edifício, outrora casa de quinta, estava fechado… Batemos, batemos, batemos… até que uma das peregrinas, que certamente já dormia, nos veio abrir a porta… agradecemos! Ao que ela respondeu na língua dos “camones” que toda a gente ali já estava a dormir! Não eram mais de 23h00…
Primeira noite passada, quase toda sem pregar olho… ou era o trânsito infernal naquela vila de ruas de calçada, onde o ruído dos pneus ganha outra dimensão com a noite, ou era o camarada do lado a tentar imitar um tractor! Enfim, manhã cedo, 6h30 já estávamos a modos de começar a etapa do dia! Esperavam-nos, para aquela manhã que se adivinhava quente, cerca de 50 km totalmente desconhecidos… Procurámos algures ali um local para tomar o pequeno almoço, mas aquela hora, ainda noctívaga, estava tudo encerrado! Pedalámos cerca de 30 a 40 minutos até encontrarmos um café já aberto onde “enfardámos” uma sandocha de fiambre e um compal de pêra!
Já com a energia reposta, lá nos fomos deslocando… Passados poucos quilómetros iríamos entrar na terra do nosso amigo Paulo Ribeiro – Barcelos!

(Barcelos é uma cidade portuguesa no Distrito de Braga, região Norte e sub-região do Cávado, com cerca de 20 625 habitantes.
É sede de um município com 378,7 km² de área e 120 391 habitantes (2011)[1], subdividido em 89 freguesias, sendo o concelho com maior número de freguesias em todo o país. O município é limitado a norte pelos municípios de Viana do Castelo e Ponte de Lima, a leste por Vila Verde e por Braga, a sueste por Vila Nova de Famalicão, a sudoeste pela Póvoa de Varzim e a oeste por Esposende.
O ponto mais elevado do concelho situa-se no alto de São Gonçalo, a 488 metros de altitude, na freguesia de Fragoso.)

Não passava muito das 8h00 quando atravessámos a ponte que liga Barcelinhos a Barcelos, mais uma paragem para fotografar as ruínas do palácio medieval, a igreja e o famoso galo… ou melhor um dos muitos espalhados por toda a cidade! Telefonemas para casa para tranquilizar os que ficaram, se é que isso é possível!
Mais a frente ligámos ainda ao Paulo para lhe dizer que estávamos a atravessar a sua cidade berço… ahhh e meter um bocadinho de inveja também!!!
Pedalávamos agora debaixo dum calorzito já consideravél, o nosso destino matinal era Ponte de Lima, onde iríamos almoçar!
Comentava eu com o Consta que bom, bom… era chegarmos a Ponte de Lima e tomar um duche no albergue local, trocar o equipamento e depois sim almoçar…
Circulamos por entre ruas e ruelas feitas de videiras de onde certamente brotam uvas milagrosas que se transformarão em vinho verde… típico e gostoso desta região minhota!
Alcançámos, enfim, cerca das 11h30 aquele corredor belíssimo formado por choupos, ali beira rio Lima! Percorremos aqueles metros a absorver a paz e tranquilidade que aquele lugar me transmite, pese embora ser apenas a segunda vez que ali estava, tive a mesma sensação de serenidade que tive na primeira…
A preocupação agora era descobrir o albergue de Ponte de Lima, tentar tomar um duche retemperador e mudar de equipamento. Essa era sem duvida o nosso desejo… no entanto dirigi-me ao posto de turismo local para colher informações da localização! A resposta não foi a que mais desejávamos, pois o albergue estava, aquela hora, encerrado…
Posto isto, demos umas “voltas” ali mesmo no centro da vila, atravessámos a ponte antiga, tiramos mais umas fotos… o Consta interpelou um transeunte local para lhe pedir uma sugestão de local para almoçarmos! A simpatia do nosso povo é, sem dúvida, uma constante! Este senhor, apesar de nunca nos ter visto, disponibilizou-se de imediato para nos ajudar. Indicou-nos o Restaurante “O escondidinho”, para onde nos deslocámos de imediato, pois, apesar de faltarem ainda alguns minutos para o meio dia, o almoço já cabia bem!
Sentámo-nos na esplanada duma das ruas paralelas ao rio Lima, na zona pedonal desta vila acolhedora, onde prontamente a moça do restaurante nos recebeu! A jola da ordem para repor os electrólitos… e a escolha do repasto de hoje… arroz de sarrabulho, rojões, feijoada à moda do porto… a escolha não era fácil uma vez que a oferta era de tal forma sugestiva que estivemos ali alguns momentos na indecisão! Finalmente lá nos decidimos, tendo em conta a sugestão sábia do amigo António do albergue de Rates! Dizia ele: “…ao almoço em Ponte de Lima comam qualquer coisa leve…” “…a Labruja dá que fazer e se forem com a barriga cheia a coisa torna-se mais difícil…”

(Em pleno coração do Vale do Lima, a beleza castiça e peculiar da vila mais antiga de Portugal esconde raízes profundas e lendas ancestrais. Foi a Rainha D. Teresa quem, na longínqua data de 4 de Março de 1125, outorgou carta de foral à vila, referindo-se à mesma como Terra de Ponte. Anos mais tarde, já no século XIV, D. Pedro I, atendendo à posição geo-estratégica de Ponte de Lima, mandou muralhá-la, pelo que o resultado final foi o de um burgo medieval cercado de muralhas e nove torres, das quais ainda restam duas, vários vestígios das restantes e de toda a estrutura defensiva de então, fazendo-se o acesso à vila através de seis portas.
A ponte, que deu nome a esta nobre terra, adquiriu sempre uma importância de grande significado em todo o Alto Minho, atendendo a ser a única passagem segura do Rio Lima, em toda a sua extensão, até aos finais da Idade Média. A primitiva foi construída pelos romanos, da qual ainda resta um troço significativo na margem direita do Lima, sendo a medieval um marco notável da arquitectura, havendo muito poucos exemplos que se lhe comparem na altivez, beleza e equilíbrio do seu todo. Referência obrigatória em roteiros, guias e mapas, muitos deles antigos, que descrevem a passagem por ela de milhares de peregrinos que demandavam a Santiago de Compostela e que ainda nos dias de hoje a transpõem com a mesma finalidade.
A partir do século XVIII a expansão urbana surge e com ela o início da destruição da muralha que abraçava a vila. Começa a prosperar, por todo o concelho de Ponte de Lima, a opulência das casas senhoriais que a nobreza da época se encarregou de disseminar. Ao longo dos tempos, Ponte de Lima foi, assim, somando à sua beleza natural magníficas fachadas góticas, maneiristas, barrocas, neoclássicas e oitocentistas, aumentando significativamente o valor histórico, cultural e arquitectónico deste rincão único em todo o Portugal.)

Escolhemos então uma bela feijoada, coisa leve e de fácil digestão, o mais aconselhável para quem tinha que pedalar mais uns 40 kms depois de almoço até alcançarmos Valença!
Depois de bem comidos e refastelados… ainda sugeri que ficássemos ali por Ponte de Lima mais uns momentos, para remoer a pançada! Mas não, decidimos continuar a nossa viagem, agora em pedal bem lento para que o almocito se mantivesse no estômago!
Atravessámos mais uma vez a ponte para a margem direita e lá seguimos… agora por um trilho espectacular, teria sido muito melhor se a temperaturas estivesse uns 20 graus mais baixo… mas era o que tínhamos! Tínhamos que roer a corda…
Rolámos uns 10kms até chegarmos à última paragem antes da tal Serra da labruja! Pelo que li teríamos ali que fazer para um bocadito! Pelo que nos disseram, seria melhor descansar uns minutitos ali na tasca da pacata aldeia de Revolta, antes de iniciarmos a ascensão ao ponto mais alto! Pois foi mesmo o que fizemos… o meu estômago não queria de todo digerir a feijoada do almoço, devíamos ter atendido à sugestão do António de Rates… Comida leve! Lá nos refastelámos uns minutos no café/mercearia/ponto de encontro daquela pacata e tórrida aldeia neste início de tarde de verão! Alguns habitantes já com muitas luas passadas descansavam igualmente na esplanada, lá nos foram mandando uns bitytes e concelhos e locais onde beber água fresquinha durante a etapa que se nos avizinhava!
Refrescamo-nos como umas bebidas, eu uma aguinha das pedras e uma frize-limão para ajudar a feijoada a desfazer-se e o amigo Consta mamou uma jola fresquinha para dar força para a subida.
Na realidade, estava algo expectante acerca daquela “coisa” a que muitos chamam a dificuldade maior do Caminho… Serra da Labruja! Os primeiros 2 a 3 kms apesar de serem em asfalto, a inclinação fazia-se sentir…
Subitamente desaparece debaixo das rodas o asfalto que se transforma em terra batida, mais subitamente ainda, o chão liso, apesar de inclinado, transforma-se em calhaus e degraus que as bikes, teimosas, persistem em galgar… esforço inglório! Tinha mesmo que ser! Trocamos, pela primeira vez, de posição com as nossas montadas! Degraus intransponíveis, pedra solta e raízes e calhaus e calor e falta de força e mochilas e bikes… tudo isto misturado, fez chover torrencialmente debaixo do capacete! Alguns metros mais acima, poucos é certo, novo estradão e monta novamente!
Rapidamente me convenci que toda aquele alarido, que se fazia acerca da Labruja, se resumia pura e simplesmente a uns escassos 100 metros de caminho impraticável, pois encontrava-me novamente a pedalar serra acima…
Não demorou mais que uns meros 1000 metros e novo corte à esquerda veio mostrar-me que afinal a razão do alarido não era o troço anterior mas sim aquele que se apresentava à nossa frente! Não consigo descrever bem o que senti… lembro-me de respirar fundo umas quantas vezes e dizer para mim próprio: “Bem! Chegaste até aqui… temos que subir até ao fim!
O caminho era agora de pedra solta, grandes, medias, pequenas de todos os tamanhos e feitios a formarem degraus e declives e inclinações e paredes e a dificultarem a nossa progressão! O clima ameno fez chover novamente… sorte que, de vez em quando, os pinheiros vizinhos ofereciam uma ou outra sombra, onde aproveitamos para descansar uns segundos…e seguir o caminho!
Trepo agora serra acima com a bike em “modo de descanso” ali lado a lado comigo como se efectivamente, só ali, tivesse a noção de dupla que fazemos!
Alcançamos a cruz dos franceses… estamos quase no inicio da etapa ainda… subimos mais e mais até à casa do guarda-florestal, onde alguns funcionários reparam o tanque de agua ali existente. Reabastecemos de água fresca, bebemos uma quanta e siga que agora é a descer!
Descemos agora num caminho onde varias vezes tive a noção de que não havia caminho, parecido com a subida que tínhamos galgado… mas desta vez a descer, brutal, perigoso e matreiro, mas brutal… deu para adormecer os pés!
Estávamos agora em Rubiães!
(Rubiães é uma freguesia portuguesa do concelho de Paredes de Coura, com 8,95 km² de área e 512 habitantes (2011). Densidade populacional: 57,2 h/km².
Sectores laborais: Agricultura, pecuária e pequeno comércio.)

Parámos junto à igreja e retemperámos novamente as forças com uma banana e uma barra energética, água e descanso de minutos…
Tínhamos percorrido cerca de 18kms depois de almoço! O objectivo estava ainda a uns 20 e tal… até Valença!

(Valença do Minho é uma cidade portuguesa no Distrito de Viana do Castelo, região Norte e sub-região do Minho-Lima, com cerca de 8 000 habitantes. Valença foi outrora sede de bispado.
É sede de um município com 117,43 km² de área e 14 127 habitantes (2011[1]), subdividido em dezasseis freguesias. O município é limitado a leste pelo município de Monção, a sul por Paredes de Coura, a oeste por Vila Nova de Cerveira e a noroeste e norte pela Galiza (município de Tui).
Recebeu foral de D. Sancho I, sendo então designada de Contrasta. Mudou para o actual nome em 1262. É designada por vezes por Valença do Minho.
Foi elevada a cidade em 12 de Junho de 2009.)

Força no pedal sempre bem controlada, pois as pernas tinham que ser poupadas, tínhamos que percorrer o Caminho…
Dei por mim, algumas vezes e durante algum tempo, a pensar no que me tinha levado ali, a fazer este Caminho, as razões e os motivos, as intenções e os desejos, a necessidade e a obrigação, a fé e o sacrifício, a vontade e o sofrimento, as pessoas que me encorajaram e as que me tentaram demover, os que queriam estar ali e os que nunca pensariam em tal coisa, os crentes e os não crentes. Por todos eles, algumas vezes, rezei em silêncio, durante a pedalada certa!
A chegada a Valença foi sofrida, muito sofrida, a àgua no bidon já não era água mas sim chá, quente! As pernas não respondiam à chamada… a mochila pesava imenso… o calor era infernal naquele fim de tarde de segunda-feira… o selim já não queria contacto algum com os calções e vice-versa… Por fim lá vislumbramos a rotunda principal de Valença! Perguntamos a um transeunte onde era o albergue! Respondeu-nos com simpatia, já típica destas gentes do norte, e indicou-nos o caminho a tomar!
A nossa recepção no albergue de São Teotónio em Valença foi, à semelhança da anterior, acolhedora! A senhora, simpática e prestável, indicou-nos o caminho dos nossos aposentos e efectuou o registo no seu “diário”, carimbou-nos as credenciais, fundamentais para termos acessos aos albergues do peregrino espalhados ao longo do trajecto!

(São Teotónio (Ganfei, Valença, 1082 - Coimbra, 18 de Fevereiro de 1162) foi um religioso português do século XII, tendo sido canonizado pela Igreja Católica.
Formado em teologia e filosofia em Coimbra e Viseu, tornou-se prior da Sé desta última cidade em 1112. Foi em peregrinação a Jerusalém, e ao regressar quiseram-lhe oferecer o bispado de Viseu, o que recusou.
Tornou-se um dos aliados do jovem infante Afonso Henriques na sua luta contra a mãe, Teresa de Leão, dizendo a lenda que teria chegado a excomungá-la. Mais tarde, seria conselheiro do então já rei Afonso I de Portugal.
Entretanto, foi de novo em peregrinação à Terra Santa, onde quis ficar; regressou porém a Portugal (1132), desta feita a Coimbra, onde foi um dos co-fundadores, juntamente com outros onze religiosos, do Mosteiro de Santa Cruz (adoptando a regra dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho), do qual se tornou prior. Esta viria a ser uma das mais importantes casas monásticas durante a Primeira Dinastia.
Em 1152, renunciou ao priorado de Santa Cruz; em 1153 Papa Adriano IV quis fazê-lo bispo de Coimbra, o que uma vez mais recusou.
Morreu em 18 de Fevereiro de 1162, que é ainda hoje o dia em que é celebrado pela Igreja Católica. Foi sepultado numa capela da igreja monástica que ajudou a fundar, mesmo ao lado do local onde o primeiro rei de Portugal se fez sepultar.
Em 1163, um ano depois da sua morte, o Papa Alexandre III canonizou-o; São Teotónio tornava-se assim o primeiro santo português a subir ao altar, sendo recordado sobretudo por ter sido um reformador da vida religiosa nessa Nação nascente que então era Portugal; o seu culto foi espalhado pelos agostinianos um pouco por todo o Mundo. É o santo padroeiro da cidade de Viseu e da respectiva diocese; é ainda padroeiro da cidade de Valença, sua terra natal. É também o Santo que dá nome a um colégio situado em Coimbra, chamado Colégio de São Teotónio.
No concelho de Odemira, a mais extensa freguesia do país recebeu também o nome deste santo. Desta vila, São Teotónio é também o santo padroeiro, sendo as festividades religiosas realizadas anualmente no dia 18 de Fevereiro.)

Acomodámo-nos e depois do reconfortante e merecido duche fomos ao supermercado mais próximo tratar dos mantimentos para o pequeno-almoço do dia seguinte: Pão, fiambre e um litro de compal de pêra.
Jantámos num café sugerido pela nossa “cicerone”, onde sorvemos a já habitual jola como “entrada” e de deglutimos depois um bife com batata frita regado com um vinho verde delicioso e estupidamente gelado…
Tornámos ao albergue, onde descansámos sentados nas escadas das traseiras, telefonemas da ordem!
Apreciava a imponência da serra que crescia diante dos nossos olhos… pensava: já te passei hoje… e fiquei ali breves momentos a “meditar” e a recuperar da longa jornada deste dia… o calor continuava acérrimo! A noite prometia ser muito parecida com a anterior, dormir pouco, desta feita devido ao calor abrasador que se fazia sentir dentro do albergue… Umas peregrinas inglesas, já de certa idade, dormitavam já, juntamente com um outro chinês… As duas alemãs que teriam chegado mais tarde preparavam na cozinha a sua refeição! Conseguiram fazer um refogado de tomate com água… ainda me perguntaram se eu tinha “oil”, mas eu no meu inglês fluente e indiscutível lá lhes disse que não tinha nada!
As moçoilas, depois de cozinharem o seu magnífico repasto, esvaqueiraram-se no jardim frontal do albergue onde alegremente jantaram…
Nós continuamos por ali a vaguear pelo jardim, tirei umas fotos, li os placares expostos no albergue e finalmente decidi ir xonar…
Passaram poucos minutos até que ouvi alguém chamar em inglês, novamente as alemãs! Tínhamos fechado a porta e deixámo-las na rua… desci e abri novamente a porta!
Continuavam deitadas na relva, agora enrroladas nos sacos cama, e uma delas massajava as costas da companheira de jornada… certamente iriam dormir no jardim, pensei!
Estava eu já, finalmente, a entrar no “corredor do sono”, eis que oiço a porta do super quarto de trinta e tal camas a abrir-se… outra vez as alemouas… acordei em sobressalto e demorei uma eternidade a adormecer novamente…
Seis e meia da manhã! Alvorada! Nova etapa se nos propõe…
Pequeno almoço tomado, bikes lubrificadas e com ar nos pneus! Vamos embora, que do outro lado da ponte já é Espanha! A nossa primeira boa acção do dia foi darmos as nossas sobras do pequeno-almoço às alemãs que a esta hora já estavam a cozinhar novamente, desta feita massa…Ofereci-lhes um pão, umas 2 ou 3 fatias de fiambre e o restante sumo! Ficaram agradecidas, claro! No meio de todo o palavreado que utilizaram lá percebi que estavam a agradecer! Desejámo-nos “bon camiño” mutuamente e lá seguimos o nosso e elas o delas! As inglesas continuavam a dormir e o chinês já se tinha feito ao caminho! Nunca mais nos cruzámos com ele…
Passámos a ponte que liga Valença a Tui… e aí está!! SilvaJeans Team além fronteiras! Estávamos em Espanha! Para hoje as etapas somavam quase 100 quilómetros, as perninhas, apesar dos fast na sei quê, não querem a “palha”! Vai ser duro, pensei!
Queríamos ir almoçar a Pontevedra, 56 kms dali. O calor, apesar da hora matinal, já se fazia sentir. Por estradões e subidas, por descidas e single tracks, por alcatrão e pedra, lá nos fomos aproximando do nosso objectivo matinal!
Já eram umas 11h00, já tínhamos reforçado as energias umas quantas vezes, quando se nos depara mais uma descida daquelas: invertida! Mas invertida mesmo… em asfalto preto e quente que certamente queimava… quase que colocado ali propositadamente, a meio da dita, um parque de merendas sombrio e convidativo ao descanso, com uma fonte de àgua, apesar de não muito fresca, mais apetecível que a que tínhamos nos bidons! Parámos sem hesitar e sem dizermos nada um ao outro! Parecia que estávamos em sintonia!
Sentado num dos bancos do parque, um peregrino espanhol espalhava calmamente creme nas suas própria pernas, braços e face… como que a massajar-se! Metemos conversa e ficamos ali por uns momentos a tentar-nos entender e a trocar informações e conversas! Era um peregrino já veterano, era o seu quarto caminho… já o tinha percorrido desde França três vezes, uma das quais de bicicleta! Desta vez, disse, já vinha a caminhar à duas semanas desde Lisboa. Sozinho lá seguiu a sua jornada!
Ficámos mais uns minutos, faltavam ainda uns intermináveis 18 kms para o nosso objectivo matinal… estava complicado!
A subida terminou, lá passámos pelo espanhol novamente: “bon camiño” mutuamente e vamos descer… Lá ao fundo San Simon!
Atravessámos esta localidade por uma ponte antiga, subimos e descemos e voltamos a subir e a descer umas ruelas a fazerem lembrar as do Porto ou de Minde ou dos bairros típicos do Castelo de São Jorge em Lisboa, por exemplo!
Confesso que já dispensava o almoço! Quando finalmente entrámos no localidade, Acabara de dizer ao Consta que na próxima localidade, fosse ou não Pontevedra, encostava para almoçar, nem que comesse apenas barras! Estava mesmo farto de não chegar… Enfim lá perguntámos que terra era aquela… ao que os espanhóis, ali sentados na esplanada da tasca de borda de estrada, responderam: Casa da Pedra! Afinal estavam a responder a outra pergunta que tínhamos feito: restaurante aqui?
Estávamos finalmente em Pontevedra, onde almoçámos no dito restaurante! Umas batatas fritas meio amassadas e oleosas… com umas febras em quantidade suficiente para nos retornar as forças necessárias para a etapa fresca que se avizinhava.
Retomamos o pedal e agora o desejo era novamente tomar um duche e mudar o equipamento! Dirigimo-nos ao albergue local… a senhora espanhola, duma simpatia única e contagiante, ainda antes de nos cumprimentar, disse prontamente que não tínhamos ali lugar no albergue…estava cheio! Respondi-lhe, educadamente, com um “Boa tarde” o mais simpático possível que consegui… Pedi-lhe então, depois, que nos carimbasse as credenciais para atestar que ali tínhamos passado. Mal viu o documento disse num tom ainda mais simpático que o anterior: “Essas crdenciales san falsas!” Tive vontade de a mandar logo para um certo sitio… mas como estava em “fase de contenção de palavras e em processo de interiorização e limpeza de cérebro” desvalorizei! A senhora afinal lá nos carimbou o “papel” e mais uma vez seguimos viagem sem o nosso banho “precioso” de hora de almoço!
Tínhamos pela frente uma etapa a rondar os 40 kms, até chegarmos a Padrón onde iríamos pernoitar.
Passámos por locais belíssimos, singles brutais, caminhos e ruas, ruelas e avenidas, vilas, aldeias, subidas e descidas, quedas de água e riachos, rios e ribeiros. O cheiro aqui é diferente, as terras cheiram diferente, as flores e folhas, os fetos, as silvas!
Passávamos agora por uma subida a fazer lembrar a labruja, menos inclinada, muito menos mesmo, mas lembrei-me dela… pelas pedras e pela teimosia de galgá-las… tal teimosia deu-me direito a gastar mais um crédito, desta feita em terras de “nuestros hermanos” desta feita o amigo Consta tinha acabado de fotografar-me a subir aquelas pedras e ainda não tinha “arrecadado” a maquina, teve ainda tempo de me fotografar no chão!
Final da tarde, já passava das 19H30 em Espanha quando, por fim, avistamos o albergue de Padrón.

(Padrón é um município da Espanha na província da Corunha, comunidade autónoma da Galiza, de área 48,5 km² com população de 9030 habitantes (2007) e densidade populacional de 186,47 hab/km².
Na Idade Média a cidade era conhecida como Iria Flavia.
Padron é, segundo a lenda, o local em que aportou a barca que transportou os restos mortais do Apóstolo Santiago Zebedeu desde o Médio Oriente até à Península Ibérica. A pedra - ou padrão - a que foi presa a barca ainda hoje existe, encontrando-se colocada por baixo do Altar da Igreja de Santiago de Padron. Num monte não muito longe do centro da Vila, do outro lado do Rio Sar, encontra-se um outro lugar de culto a Santiago: a pedra em cima da qual, de acordo com a lenda, Santiago celebrou missa.)

Rotina diária à chegada ao albergue, onde a espanhola por detrás do guiché não largava do telemóvel e gesticulava sem parar… Desconfiei logo que a simpatia por aqui, infelizmente, também não era o ponto forte. Dei por mim a pensar: será algum requisito para ser recepcionista de albergue em Espanha o facto da simpatia ser pouca?
Enfim, lá pagámos os 5€ que nos pediu e dirigimo-nos para o primeiro andar da velha casa que fora transformada em albergue, para nos acomodarmos.
Jantar em Padrón, e xonar… faltava apenas uma etapa para alcançarmos o nosso objetivo principal… estava a cerca de 23 kms de realizar a minha primeira peregrinação internacional, de concretizar e cumprir a minha promessa secreta!
A noite, quente na mesma, foi mais uma sem dormir… o suficiente pelo menos!
Madrugada! Os quarenta e tal peregrinos que descansavam no albergue levantam-se quase em debandada total… acordo com o ruído, apesar do cuidado de todos, e olho para o relógio: 4h30 da matina… xiiii… é noite ainda! Dormir nepias, fico ali a olhar para a rua, deitado, dormitando, até romper qualquer claridade que me desse alento para me levantar e terminar a jornada! Rapidamente o dormitório ficou desnudado de gente… estavam apenas uns 3 ou 4 peregrinos mais preguiçosos talvez, ou mais cansados!
Amanhece finalmente, rotina diária de higiene matinal, e vamos embora! Tomamos o pequeno-almoço num tasco logo abaixo do albergue e seguimos rumo ao objectivo final.
Faltam pouco mais de vinte kms, estou quase lá… umas subidazitas ainda, e umas tantas descidas levam-nos por entre casas e serras! O desejo agora é cada vez maior de ver, nem que seja bem de longe, as torres da Catedral!
Aos poucos as dores de pernas, como que por magia ou milagre, vão desaparecendo, o peso da mochila já não interessa, o selim passou a ser um sofá confortável, as subidas eram agora “comidas” com uma vontade quase incontrolável, o desejo era grande de chegar, grande não! Enorme!
Os derradeiros quilómetros foram quase feitos a voar… pelo menos foi essa a sensação que tive! De repente vislumbro ainda bem longe, as torres da Catedral do nosso destino… fotografo e ligo de imediato à minha mulher para lhe dizer que estava quase, quase, quase a cumprir a minha promessa e objectivo! Seguiu-se o último e brutal single track a descer, brutal mesmo, entre árvores e vegetação, curvas apertadas e degraus, por fim uma zona residencial com uns becos a lembrar, novamente, o fim dos raids de Minde… Cruzamos a linha de caminho de ferro e começamos a subir o ultimo sigle track em terra batida… a jornada fora de estrada estava a chegar ao fim… entravamos agora dentro da cidade, a subir, a agua já era, as forças? Quais forças? Estava apenas com “vapores de combustível”, tinha apertado um bocadito nos últimos kms… Atravessámos a cidade e continuávamos a seguir as setas amarelas que dentro de momentos nos levariam à Praça do Obradoiro, pôr-nos mesmo de frente para a Basílica de Santiago de Compostela…
Momento único… subo os 3 primeiros degraus ainda montado na minha faísca, mas rapidamente salto de cima dela… a vontade de estar ali naquela praça era muita, o sentimento que me invadiu naquele momento já o tinha sentido outras vezes é certo, mas ali o cheiro da manhã quente era diferente… tinha chegado são e salvo, tinha conseguido cumprir o meu desígnio, tinha chegado a Santiago de Compostela!
Muita gente já circulava por ali, uns tinham vindo de bicicleta, outros a pé, de todos os lados, de muitas nações, uns de perto outros de longe! Fotografias e mais fotografias, lágrimas e sorrisos, comoções e emoções fortes!
Permanecemos ali breves minutos, a nossa missão terminaria mais ao lado dali, na oficina do peregrino onde entregaríamos a nossa credencial para que nos fosse concedida a Compostelana, documento oficial que atesta que fomos peregrinos a Santiago e que visitámos o Templo de Santiago.
A preocupação agora era saber como regressaríamos a casa. Deslocámo-nos à oficina do Turismo, onde fomos excelentemente atendidos! A moça explicou-nos calmamente as várias opções que tínhamos para regressar ao Porto! Escolhemos regressar de autocarro!
Apesar do pouquíssimo tempo que ainda dispúnhamos até apanhar o autocarro escolhido que nos traria até Vigo, fiz questão de entrar na Catedral e por uns segundos apenas rezar e agradecer a Deus a ajuda nesta jornada peregrina! Tempo ainda para comprar, ali mesmo na saída do templo, umas recordações para a família e para mim próprio. Não que precise, jamais, de qualquer objecto para me recordar destes três dias intensos de emoções, intensos de bicicleta, intensos de pensamentos, intensos de sensações, intensos de fé, intensos de alegria, intensos de sofrimento, intensos de sacrifício, intensos de falta daqueles que mais amo na vida, intensos de encontro comigo próprio, intensos de pedidos de perdão, intensos…apenas!
O fim da viagem… pois… lá nos metemos a cavalo nas burras durante mais uns minutos até Estacion de camionage…. Para apanhar o tó-carro que nos traria até Vigo, onde esperamos durante 3 jolas e 40 minutos pela ligação ao Porto!
Chegar a casa foi a parte mais intensa destes quase quatro dias fora! Mal abri a porta de casa o Simão parecia doido agarrado ao meu pescoço, ainda suado da ultima tiragem, beijos e abraços…as saudades eram mais que muitas! As primeiras palavras que me disse: “papá! Tive muitas saudades tuas!” e beijava-me incansavelmente! Apertando-me sempre com o seu melhor abraço! Quis saber tudo… e eu lá lhe fui contando de forma ainda mais resumida que esta que agora aqui quase termino… Disse-me ainda que um dia queria fazer esta viagem comigo! Ao que respondi prontamente: Sim. Claro! Um dia quando fores maior vamos os dois ou os três: eu, tu e a mamã!
Para finalizar quero agradecer ao meu amigo e companheiro de viagem pela paciencia e pela companhia. Obrigado Consta!
Um muito obrigado do tamanho do mundo à minha super mulher por me ter “deixado” ir nesta aventura e ter ficado a segurar as pontas da casa e a cuidar sozinha do nosso rebento!
Bem hajam!
Agora sei o que quer dizer:
Não passes pelo caminho, deixa que o caminho passe por ti!

Pedro Madrugo
Peregrino a Santiago de Compostela, 24 a 27JUN2012.
 

viriatodasilva

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Uf!!! Consegui ler tudo até meio, depois foi leitura em diagonal!! Também vou fazer o mesmo no principio do próximo ano, mas a sair de Fatima. Quais os conselhosnque deixas?

Cumps, e quedas suaves,

Ricardo Silva
 

salgado52

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Parabéns pela reportagem,à dois anos fiz essa travessia só que comecei em V.do Conde e o ano passado a Via de la Plata a começar em Salamanca/Santiago/Finisterra/Múxia,foi brutal!!!!!!!

Abraço
 

Rs14

Member
Grande relato!
Percorri esse caminho por duas vezes tal com tu, da Sé do Porto, até Santiago! Ao ler a tua reportagem vieram-me grandes lembranças à cabeça! Da-me vontade de pegar na burra e ir de novo!

Uf!!! Consegui ler tudo até meio, depois foi leitura em diagonal!! Também vou fazer o mesmo no principio do próximo ano, mas a sair de Fatima. Quais os conselhosnque deixas?

Cumps, e quedas suaves,

Ricardo Silva
O principal condimento para esta aventura é espírito e alegria... e pernas claro!! :p Vais fazer em autonomia?
 

Luis Antunes

New Member
Muito bom o relato, então a parte da Labruja, está simplesmente fabulosa, muito bem novamente, desta vez pelo caminho.
 
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