Desculpem lá o testamento...
Vou pegar parcialmente numa resposta que dei anteriormente noutro tópico sobre a minha visão relativamente a este assunto.
Sem ter testado por mim outros tamanhos de roda que não o 26 não vou criticar o seu comportamento efectivo, mas adoptando uma postura céptica acho estranho que em quase 40 anos de história de Btt, em particular no inicio em que houve tantas experiências inclusive com rodas 29, e nem haviam na altura suspensões o que daria vantagem às rodas 29, ninguém tivesse percebido as supostas vantagens deste tamanho de roda acabando por apostar num tamanho "errado"...
Então "estranhamente", e após milhões e milhões de bicicletas já produzidas de repente acham que 26 já não é bom... A mim cheira-me mais a uma tentativa de criar uma nova moda para convencer os Bttistas a gastar dinheiro numa nova bicicleta quando muitos não planeavam mudar de "montada" tão cedo.
Mas se a roda 29 ainda pode ter vantagens dada a diferença significativa de tamanho, a 27,5 já me soa a ridículo. Isto é, a 26 já não é boa porque o 29 é que é "baril". Agora o 29 afinal já não é bom - pelos vistos e pelo que tenho lido há muita gente arrependida de ter comprado esta roda e muitos outros que não o admitem - mas os fabricantes não vão dizer que o 26 é afinal o ideal porque senão já não vendem bicicletas novas com tanta frequência. Portanto inventam o 27,5 para convencer os desiludidos da roda 29 a comprar outra, e os que têm roda 26 e se sentem excluídos das novidades porque têm reticências sobre o 29 a fazer parte do "movimento".
Honestamente, tirando atletas de competição que treinam todos os dias e notam todos os pequenos pormenores e detalhes quem é que nota diferença por uma roda ter mais 1.8cm de raio?... Aposto que se trocassem às escondidas as rodas a 90% do pessoal aqui por umas 27,5, faziam 50km e nem davam por ela...
Como já assisti a tantas modas no Btt desde 1996 adoptei uma postura céptica em relação às novidades que os fabricantes tentam impingir sobre os praticantes.
Vejamos o caso do aluminio vs o cromoly. O peso de um quadro de gama baixa ou mesmo média (nem falo em gamas superiores) entre os dois materiais é relativamente pequeno. Talvez umas duzentas gramas. Numa bicicleta de 12kg, essa 200g são 1.7% do peso total... Se aumentarmos a diferença, isso significa que uma bicicleta de aço será 2% mais pesada que uma de alumínio. E isto numa parte não móvel da bicicleta que pouco afecta o desempenho.
Como o cromoly é bastante mais barato que o aluminio em termos de matéria prima e de produção, em especial o alumínio 6061 que requer o cozimento em estufas a várias centenas de graus após a soldadura, não me admirava que com a diferença de preço fosse possível equipar uma bicicleta de aço com equipamento ligeiramente superior, o que reduziria a diferença de peso final e dava uma maior durabilidade dos componentes.
No entanto o aluminio, para além de ser mais desconfortável que um quadro de aço, sofre muitíssimo mais de fadiga pelo que os quadros de aluminio têm um tempo de vida bem mais curto que os de aço. Ora, durante os anos 90 a grande loucura era o alumínio e todos os que podiam comprar uma bicicleta neste material faziam-no. Era "mais leve", os tubos grossos eram mais "fixes", e as marcas conseguiam decorações mais vistosas com tubos mais largos. Resultado, em relativo pouco tempo tinham um quadro partido e tinham que comprar outro. Lucro$ para as marcas. Isto é, embora o alumínio tenha algumas vantagens sobre o aço, também tem algumas desvantagens significativas. Mas como a malta estava servida de quadros de aço tinha que ser convencidos a comprar novas bicicletas.
Mesmo no aço o marketing é forte. Por exemplo as bicicletas com tubos da Reynolds ou da Columbus, são olhadas com devoção e desejo. Segundo umas coisas que li recentemente, a diferença entre os tubos destas marcas e o cromoly genérico é verdadeiramente negligenciável. No entanto o "hype" criado à volta destas marcas permite vender bicicletas. Do estilo:
- Epá tens uma bicicleta de aço?...
- Tenho mas não é um aço qualquer, é um Reynolds!
- WOW, isso é uma 'ganda máquina!
Por exemplo, a minha Kona Lava Dome de 1996 (aço Tange) é mais leve que muitas bicicletas actuais de aço com tubos Reynolds. Se lhe mandasse colocar um suporte para travão de disco, este quadro de gama média, ficaria com o mesmo peso que estas bicicletas de tubos de gama alta.
Resumindo, as vantagens da passagem de 26 para 27,5 serão negligenciáveis. Se houver vantagens serão apenas sentidas por atletas profissionais em que por vezes ganham provas em sprint por centímetros. Eventualmente o pessoal mais fanático e que pratique quase ao nível competitivo também note essa diferença. Para os restantes utilizadores as diferenças serão de mínimas a nulas. Excepto no peso da carteira.
Posso ser olhado um pouco como um "velho do Restelo", mas sabendo que o Btt é um campo onde a moda e a vaidade reinam, e onde a compra de novidades e de materiais exóticos apenas para exibição é comum e onde muitos nem tiram 50% de rendimento do material normal, as marcas têm assegurado uma avalanche de vendas com estas novas modas.
Nem me admira que a produção de material para a roda 26 seja quase descontinuada de forma a forçar quem não vê vantagem na mudança a ter que se render. Até daqui a 6 ou 7 anos, em que há-de de surgir um craque patrocinado por uma marca em queda de vendas a dizer que afinal as rodas 26 são mesmo melhores por causa de uma "nova" tecnologia qualquer, e convencerem o pessoal a comprar tudo de novo...