Grandes heróis das pedaladas,
O Douro Bike Race é um evento fantástico. O puro espírito do BTT e a beleza cénica das paisagens juntas numa aventura dura, cheia de adrenalina e um prazer doloroso que se transforma em euforia quando chega ao fim.
Este é o rescaldo da minha primeira participação, nos 90km da 2ª etapa. Podia contar-vos os pormenores do costume, das marcações, do secretariado, do single-tracks, mas, prefiro contar-vos que a experiência foi definitivamente uma das melhores da minha vida.
E o dia começou cedo, saí do Porto pelas 6h para estar bem cedo em Amarante, onde já não ia desde os tempos de infância numa das excursões da escola primária.
Manhã fresca, mergulhada no nevoeiro, prenúncio de um dia quente e solarengo.
Are you ready? Of course I am ready!!! Não penso noutra coisa desde o início do Verão, nas minhas saídas de bike para treinar as pernas e o corpo. Afinal, nunca tinha aceite o desafio de fazer 90 Km de uma só vez.
E valeu o esforço, elas, as pernas, suportaram a dureza do percurso, da longa, interminável, subida em que já nem vale a pena olhar para o que aí vem, apenas manter a concentração e a cadência dos pedais, um atrás do outro, nessa dança intima entre o nosso corpo e a bicicleta.
Lá em cima, no topo, a ausência do ruído da civilização, apenas o dos pneus a galgar os quilómetros, o vento a fazer girar as pás dos gigantes moinhos de vento.
O D.Quixote não teve uma vista assim tão grandiosa e imponente.
Esta é também a história fantástica de um cão, um rafeiro castanho claro, sem coleira, que sonhou um dia ser ciclista. Sem bicicleta, mas entusiasmado pelos homens e mulheres de equipamentos garridos, meteu-se ao caminho e acompanhou-nos, pelo menos até o perder de vista no 2º abastecimento onde todos ficamos estupefactos. O bicho bebeu água, alguém lhe tentou dar de comer alguma coisa, talvez um gel com cafeína, e ele partiu a toda a brida, seguindo os ciclistas que por esta altura já avistavam ao longe no horizonte o Monte Farinha e o Santuário da Sr.ª da Graça.
Subir é duro, mas tudo o que sobe, também tem que descer, e meus amigos, este DBR teve descidas fantásticas a exigir técnica, nervos de aço e bom senso para desmontar e levá-la pela mão sempre que necessário.
A travessia do rio refrescou os pés e as pernas e deixou ouvir que "isto agora só sobe mais um pouco e depois é sempre a direito pela extinta linha do comboio". E...foi.
Entrei na ciclovia com uma sensação de alívio. Agora, era continuar num ritmo certo e constante. Por esta altura, eu que já não me cruzava com nenhum ser humano ia para 20 km, e consegui ouvir os pensamentos daqueles com quem me cruzei, no seu passeio de sábado à tarde. Porque é que estes tipos fazem isto? A resposta, eu dava-a vezes sem conta, a cada quilómetro que passava. Eu faço-o para me sentir vivo.
Avistei ao fim de algum tempo um companheiro de jornada épica e emparelhamos, numa solidariedade que só os ciclistas compreendem e a que chamam "ir na roda", para finalizar este dia duríssimo.
Parabéns à organização, vê-se logo que só podia ser feito por pessoas que vibram com o BTT e têm uma experiência enorme nestes eventos além fronteiras. A minha homenagem aos homens e mulheres, que num arremedo de loucura, coragem e capacidade de sofrimento ímpar enfrentaram os 3 dias de provação épica. Para o ano, eu tentarei de novo, mas desta vez para vos fazer companhia em todo percurso do DBR 2012!