RELATO DE UM EMPENO NO EXTREME XURES GERES
Nem sei por onde começar esta tentativa de rescaldo, talvez se começar pelo principio não é má ideia (esta foi inteligente).
Á UM ANO ATRAS
Tudo isto começou á cerca de um ano num domingo depois da volta pela serra da Arrábida, estava eu a almoçar, quando sou surpreendido por uma reportagem no canal 2 sobre uma maratona no Gerês. Será escusado dizer que marquei logo no meu calendário a participação no ano seguinte, influenciei uns quantos amigos e lá fomos nós (Fernando Duarte, Vitor Pires, João Sanona e Angelino).
SEXTA-FEIRA DIA 1-9-06
Saímos da Quinta do Conde na sexta-feira a seguir ao almoço, chegamos a Lobios por volta das 19h30m, ainda estava-mos a 30 km de Lobios já íamos a ver o monte de Sta. Eufémia (onde estão as antenas), digo eu para o companheiro e amigo de viagem Fernando Duarte, “amanhã de certeza absoluta que vamos subir esta porra” (bem dito, bem certo), chegados a Lobios, fomos deixar as malas e fazer o registo na estalagem As Termas (bom e barato a cerca de 4km de Lobios) mesmo de frente para a praia fluvial do Rio Caldo (tem este nome porque tenho a impressão que existe umas nascentes em que a água sai a ferver das rochas), que local edilico. Voltamos a Lobios para jantar e levantar os dorsais, com os restantes companheiros de aventura que ficaram hospedados em Entrimo, acabado o jantar (carne grelhada com salada e “pouca” batata frita), xixi cama que o dia seguinte adivinhava-se no mínimo memorável .
SABADO DIA D 2-9-06
5 da manhã toca o despertador está na hora de comer as 400g de massa que trouxe de casa, volto a deitar-me.
7 da manhã toca novamente o despertador, hora de acordar e tomar o pequeno almoço (300g de cerelac e umas tostas com doce), escolher o equipamento a usar (eu levo para todas as provas aonde vou sempre equipamentos para o firo, calor e chuva, independentemente da altura do ano, gajo prevenido vale por dois), depois de escolhido o equipamento e fazer a ultima vésturia na minha montada, fomos ao encontro do Quim (um dos “Gatos” de Azeitão) e outro companheiro do BTT clube de Azeitão do qual não me lembro do nome, que estavam hospedados na mesma estalagem que nós.
Fomos até ao local da partida de Bike, tomando pelo caminho um “café solo”, quando chegamos a Lobios já o burburinho da anciadade da partida se fazia sentir como se o rufar de uma bateria se tratasse, e ainda faltava 1h15m para a partida. Local onde surpreendentemente encontrei companheiros de outras pedaladas onde a troca de comprimentos e desejos de boa sorte foi uma constante, faltava 15m para a partida já o aglomerado junto á meta era grande, discurso da ordem do Ramiro a aconselhar calma e prudência nas descidas porque eram longas, duras e muito técnicas, e as ultimas explicações da sinalização, seguindo-se o discurso da praxe do Alcaide de Lobios.
ALÈLUIA FOI DADA A PARTIDA.
Saí com o pessoal da frente (ao Km 5 já levavam 1Km de avanço, grupo onde estava o Vitor Pires), os primeiros 2km foi em alcatrão subir (uma das constantes), depois entramos num estradam até ao km 17 foi sempre a subir (o João Sanona decidiu abalar nesta subida), subida esta que fez logo a primeira selecção, logo de seguida uma descida (a outra constante) no mesmo piso até ao km 28, ou seja onde os mais destemidos (o meu caso) puderam “enrolar punho”, ainda tentei trazer na minha roda o Fernando Duarte e o Helder (companheiro que conhecemos na noite anterior ao jantar), eles tiveram juízo e não me acompanharam, eu consegui ganhar cerca de 6 lugares nesta descida e alcançar o João Sanona que tinha furado e já tinha a câmara de ar substituída (20m atrás estava outro companheiro também tinha furado) arrancamos os dois passados 500m estávamos no primeiro controle e abastecimento (este salvo erro foi em Portugal, se não foi tínhamos passado por Portugal atrás a aquando da descida).
Depois do primeiro controle havia a separação dos 100 e 60km para os 40km, escusado será dizer que os de 40km era descer , os 100 e 60km a subir e que subida era “só” até ao Coto de Sta. Eufémia (aquele que no dia anterior eu disse ao Fernando Duarte “amanhã de certeza absoluta que vamos subir esta porra”), estranhamente na descrição do percurso vem 1600m de altitude, mas na altimetria vem pouco mais de 1000m, qual está correcto ainda não sei, mas mais tarde vou vereficar qual das duas alturas está correcta (se alguma estiver), isso também para agora não interessa nada o que interessa é que esta subida custou como o carago, mais ou menos a meio desta subida o João Sanona voltou a abalar por ali cima, eu passei mais 2 ou 3 companheiros de jornada até ao Coto Sta. Eufémia, a cerca de 300 m deste acontece o primeiro aspecto negativo desta prova, dou de caras com o bacano que vai em primeiro e ele a descer em altíssima velocidade, esta parte do percurso deveria ser alterada de alguma forma, que isto de no mesmo estradam sem balizamento a meio (tipo como se faz nas provas de atletismo) existir uma prova com dois sentidos é muito perigoso, felizmente não aconteceu nenhum acidente, mas que podia ter acontecido podia, como eu não tinha visto nenhuma seta de mudança de direcção (aspecto muito positivo), decidi continuar até ao alto decisão que se mostrou a mais correcta, existindo neste ponto o 2º controle, mas quando cheguei lá a cima deparei com um cenário digno de um quadro dos grandes mestres, não consigo passar para palavras o que se deparou perante os meus olhos, só visto, cheirado, ouvido e sentido é que se percebe o que eu e os restantes companheiros sentimos lá em cima, servindo este ponto também para refrescar e restabelecer as forças para o que se adivinhava de seguida.
Passado este ponto voltava-se pelo mesmo estradam, agora a descer (nesta altura ia em 21º), virando-se á esquerda para uma das partes mais duras senão a mais dura de toda a prova, a descida dos calhaus do tamanho de tijolos, aqui a técnica para ultrapassar estes obstáculos era deixar as suspensões trabalharem (como é que material aguenta tanto), eu já não me lembro da distancia percorrida mas que foi muito tempo em cima de calhau foi, de repente passa a ser estradam com uns regos da água fundos como o raio eu vinha a “galgar mato com o punho enrolado” a mandei um voo prá ai de uns 3 a 4 metros (sorte a minha tinham acabado os calhaus uns metros antes), fiquei com um hematoma na coxa esquerda e umas escoriações pelo braço e perna esquerda, deu para montar logo de seguida e continuar a galgar mato, uns 100m á frente o primeiro furo, com a descarga de adrenalina a que eu momentos antes tinha sido sujeito, parti a agulheta do pipo (desculpas, na realidade estava a entrar em tilt de ver todos os que anteriormente eu tinha passado a passarem por mim), lá pus outra câmara de ar com mais calma e então lá pude voltar enrolar punho, por uma das zonas mais interessantes do percurso no meio da densa vegetação tendo sido este o cenário até ao Rio Caldo onde se juntavam novamente os companheiros dos 40km, estava então localizado o 3º controle, abastecimento e banhos para quem quisesse amandar-se á água.
Saindo deste controle entravasse na Via Romana, e passava-se pela localidade Vilameá de Riocaldo, aldeola com ruas estreitas e empinadas com as casas em pedra de granito, tomava-se então estrada nacional que vai de Rio Caldo para Lobios +\- 4 km para antigir o final dos 40 e 60km e 4º controle para os duros e destemidos que se aventuraram para os 100km.
Começa aqui o meu sofrimento e da maior parte dos participantes. +\- ao km 70 começo com arrepios de frio com o sol a pino como estava era sinal de insolação para minha sorte estava uma levada de água cristalina correr ao meu lado foi como se me tivesse sadio o Euromilhões, refresquei-me e arranquei mas tinha um furo lento dei á bomba que já não tinha câmara de ar extra, o que tive se fazer de 10 em 10 minutos, de referir que era a subir do km 60 ao km 73 com algumas arvores pelo caminho mas sinceramente desde desta altura até ao fim o empeno foi de tal maneira grande que a minha memória dos locais e das distancias ficou alterada da realidade, lembro-me com clareza de uma descida e subida em calhaus ovais no meio de uma floresta densa e misteriosa como a do Senhor dos Anéis, uma autentica parede de alcatrão que teve de ser feita á mão, paredes em calhaus que nunca mais acabavam, ao km 95 só faltava cerca de 3km para o fim uma parede de rocha maciça que mais parecia a muralha da China, o single track final com lama e a entrada triunfal na recta da meta a onde a alegria de conseguir concluir esta prova foi tão grande que tenho ego lotado durante os próximos tempos ainda para mais tendo feito +\- o 35º posto final com cerca de 7h30m de prova. Para conseguir fazer tudo isto tive a preciosa ajuda do companheiro de Marinha Grande com uma Fox das novas na frente, por me ter desenrascado uma câmara de ar, quando a minha disse já não quero mais, aos habitantes de uma localidade da qual eu não sei o nome quando nós passamos bateram palmas e panelas com as quais deram nova alma para podermos continuar, á senhora no abastecimento e controle por volta do km 85 que com a sua simpatia ajudou a suportar o insuportável, as possas de água nos ribeiros pela serra a dentro que serviram de elixires da juventude perdida, á descida sem pedra já não a que km isso foi mas que foi a única, á água fresca que brotava de um tronco de uma arvore seca, e finalmente ao meu companheiro e amigo FERNANDO DUARTE que nos fomos a ajudar mutuamente nos últimos 25km a suportar o insuportável e a cruzar a meta ao mesmo tempo.
JANTAR
Do jantar só tenho a dizer foi simplesmente divinal, fomos poucos os que fomos ao jantar proposto pela organização, não sabem o perderam, aquilo foi entradas de folhados, salada russa, pimentinhos verdes assados, queijo, fiambre, salame italiano, chouriço e claro presunto, sopa, lombo assado no forno, frango no churrasco, entrecosto grelhado, acompanhados de batata e salada, sobremesas era tanta a variedade e quantidade que até deu para vir passear na Av. da meta oferecer ao pessoal que por ali andava, a bebida a parte que mais interessa aos Prós como eu e o DOC, que posso dizer era vinho espanhol e cerveja espanhola ou seja valia pouco para ser simpático, mas o que faltou em qualidade sobejou em quantidade (só um Pró não chega, faltou lá o DOC para me ajudar).
CONCLUSÃO
Pontos positivos:
- Sinalização bem feita
- Simpatia do pessoal das assistências
- Terminar em cerca de 7h30m, +\- no 35º lugar
- Calor das populações sempre com uma garrafa de água fresca na mão ou uma palavra de incentivo
- A dureza extrema do percurso
- Por ultimo mas não o ultimo a beleza estonteante do local
Pontos negativos:
- O cruzamento de percursos em sentido contrario
- O arrancar de placas supostamente pelos participantes da frente.
- Faltava pelo menos visível alguém da organização nos pontos mais perigosos ou sinalização a avisar do perigo.
Finalmentes:
- No domingo fomos almoçar ao Capa Negra comer umas divinais francesinhas.
- Aconselho a quem não bate bem da mona a ir a esta prova porque simplesmente é “A PROVA A QUE PELO MENOS UMA VEZ NA VIDA TODA GENTE TEM DE FAZER”
- Pró ano estou lá outra vez para testar até aonde vai a minha capacidade de sofrimento.
PARA OS QUE LÁ ANDARAM
Ó ELSA LARGA O MOÇO
Paulo Lopes