A GNR não te ia chatear por dá cá aquela palha (...)
Não vou comentar o presente caso, mas posso contar um em que a GNR me veio chatear "por dá cá aquela palha" numa clara arbitrariedade e com graves sinais de incompetência.
Numa das viagens que fiz de bicicleta parei para almoçar, e entretanto reparei que um casal estrangeiro que também ia de viagem com as bicicletas pois estavam carregadas de alforges como a minha, e pararam a umas dezenas de metros de mim numa área ajardinada junto a uma rotunda. Como estava a fazer a viagem de algumas centenas de quilómetros sozinho decidi ir ter com eles para conversar um pouco.
Essa rotunda tinha daqueles painéis publicitários e portanto faziam uma espécie de muro entre a rotunda e o passeio, e este ficava mais estreito pelo banco de jardim que estava nesse passeio e onde no sentamos para comer.
Na hora de decidir onde colocar as bicicletas, e para não bloquear a passagem das pessoas pelo passeio (embora ninguém tivesse passado por lá o tempo todo) decidimos pôr as bicicletas encostadas à parte de trás do banco de jardim que estava relvada mas não tinha qualquer forma de barreira ou sinal a indicar para não se pisar a relva.
Estávamos então a comer e a conversar quando um jipe da GNR passa na rotunda e pára imediatamente
dentro da rotunda. Saem de lá dois GNR que se dirigem a nós. O mais velho (na casa dos 50) começa logo por dizer que não podíamos estar ali, e que as bicicletas não podiam estar paradas naquele local e que tínhamos que as levar para outro local. Tudo isto num tom altamente autoritário.
Como o casal era alemão e não percebia nada do que ele estava a dizer, expliquei que colocamos as bicicletas ali porque precisávamos de um local para almoçar, que ali havia um banco de jardim à sombra e que colocámos as bicicletas na parte de trás do banco para não impedir a passagem das pessoas pelo passeio. Nada disto foi de valor para ele que cada vez mais irritado e autoritário passou a exigir que levássemos as bicicletas dali para fora. Entretanto o GNR mais jovem começou a mostrar alguns sinais de desconforto apesar de se manter em silêncio.
Quando questionei para onde as poderíamos levar disse que se quiséssemos ficar ali sentados teríamos que estacionar as bicicletas dentro da rotunda (isto é na faixa de rodagem!) e encostada ao painéis publicitários. Sim, leste bem, colocar as bicicletas dentro da faixa de rodagem, ao que eu comecei a responder que não se podia pôr as bicicletas num local daqueles já começando a perder o tom cordial que tentei sempre manter. Nesta altura o GNR mais jovem interveio e dirigiu-se ao colega dizendo-lhe que nós não podíamos pôr as bicicletas naquele local. Para mim o GNR mais velho estava a tentar montar uma armadilha para depois nos poder multar ou até prender...
O GNR mais velho ficou um bocado surpreendido com o comentário do colega e ao sentir-se em cheque começou a mostrar-se mais agressivo. Como eu já previa que aquilo ainda ia acabar na esquadra comigo a ser espancado, pois a postura do GNR caminhava nesse sentido, disse aos turistas alemães, que continuavam sem perceber o que se passava de errado, que o melhor era procurarmos outro local para almoçar. Acabámos por ter que sair de um local à sombra, com o almoço a meio, para procurar ouro sitio onde parar e os GNR foram-se embora.
Como não vimos nenhum local apto pois todos os bancos eram em zonas ajardinadas como aquela em que estávamos e já cansados e enervados, acabamos por entrar num terreiro de uma escola primária daquelas antigas que tinha daqueles grades baixinhas de cimento e inexistente em grande parte, para nos sentarmos num banco de pedra que lá estava debaixo do sol abrasador do interior do Algarve no inicio de Setembro. Expliquei o que se tinha passado aos turistas que se mostraram incrédulos, acabando por dizer que onde estávamos até seria uma infracção mais grave que a do jardim, se é que onde estávamos configurava qualquer tipo de infracção pois até hoje não vejo que infracção estavamos a cometer.
Para mim, este é um caso de total arbítrio, de total abuso de autoridade, de falta de empatia humana e um terrível serviço prestado ao país pela imagem com que os turistas ficaram da nossa guarda. Mesmo a nível internacional a GNR constava nessa altura todos os anos dos relatórios da Amnistia Internacional como uma força policial violenta com casos muito mediáticos de crimes cometidos por alguns dos seus membros.
Por isso não sei o que se passou neste caso pois não estava presente, mas posso garantir-te que há policias e guardas que cometem graves abusos de autoridade de forma completamente irracional.