Au “Barrage de la Grande Dixence” mandam os que lá estão…
Em conversas de café tinha ouvido falar da barragem de “Grande Dixence”, após pesquisas na net descobri que se trata em 1º lugar da barragem construída à mais alta altitude e em 2º lugar porque é a mais alta barragem de betão do mundo (285 mts). A título de curiosidade (o saber não ocupa lugar), na sua base mede cerca de 193 mts de largura e no topo cerca de 15 mts, tendo demorado 8 anos a ser construída.
Sendo um curioso (no bom sentido) por natureza, logo tratei de programar um track que me conduzisse a esse monstro da engenharia. Em pesquisas no Google Earth constatei que a única forma de aceder era via estrada alcatroada (quem acompanha estas crónicas sabe o prazer que tenho em rolar no alcatrão eheheh…, sendo que este está para mim como a água benta para o diabo).
No caso em apreço era impossível ultrapassar esta vicissitude, pelo que lá defini um trajeto que me levaria desde “Sion” 491 mts até uma zona acima da barragem 2.455 mts e se ainda tivesse pernas poderia eventualmente rolar até ao extremo do “Lac de Dix” (cerca de 14 kms na ida e volta).
Arranquei de Lausanne pelas 07h45 e às 09h00 encontrava-me em “Sion”. A minha fiel amiga é que não gostou lá muito da posição (azeitou, quero dizer azedou mas depois passou-lhe, eheheh…). Aproveitei para visitar o castelo e arredores, meter conversa com alguns transeuntes que como sempre me achavam “maluquinho” por andar a subir escadas com a bicla ao ombro. Com estas e outras acabei por sair com destino à barragem por volta das 10h30.
Quando idealizei o track sabia de antemão o que me aguardava, mas nunca pensei que fosse penar como penei e acreditem que já passei por algumas ao longo destas aventuras.
A temperatura iria andar nos 20 a 25ºC, mas quando passamos a barreira dos 1.000 mts, nota-se que já estamos a caminhar para o Inverno, pois em muitas ocasiões (zonas não expostas ao sol) senti o frio típico destas altitudes (de cortar).
À medida que subia ia-me apercebendo que talvez esta não tenha sido a melhor altura do ano para realizar esta volta, mas como sabem daqui para a frente vai ser sempre a piorar, aliás há cerca de uma semana caíram as primeiras neves nesta zona.
Os primeiros 13 kms se bem que a custo lá se foram fazendo, mas associando a isso o calor que se fazia sentir e o facto de rolar em alcatrão (não se aprende nada, parece que estamos a pedalar em seco), começou a atravessar-me o pensamento a ideia de fazer meia-volta.
A ânsia de chegar lá acima era superior a essa vontade e enquanto cogitava lá ia “ruminando” essa guerra que se agudizava a cada quilómetro efetuado.
Para acalmar o espírito e porque o esforço me turvava o pensamento, fixei-me o objetivo de ir até aonde visse pela primeira vez a barragem. Quando cheguei a esse ponto e porque desistir não faz parte (julgava eu) do meu vocabulário decidi prosseguir. Aliás prossegui porque fiquei descontente com as fotos tiradas à barragem (maldita névoa), isto é, as mesmas não deixavam ver a grandiosidade da obra (quero sempre o melhor para os leitores, eheheh…).
Se até aqui achava que tinha penado então daqui para a frente não vou comentar. Pedalei, pedalei, pedalei até que aos 1.806 mts e perante o facto de ter de realizar ainda 7 kms para vencer um desnível de 645 mts, resignei-me a fazer meia volta e regressar à base.
Samuel Johnson disse certa vez "A mente realmente firme, verdadeira, é a que pode abarcar tanto as coisas grandes como as pequenas" e não posso estar mais de acordo, pelo que decidi que tinha chegado a minha hora.
Uma vez que desci pelo mesmo trajeto utilizado aquando da subida deixei que o gozo da descida me inebriasse, vai daí e sem pedalar, somente no “embalanço” acabei por fazer parte daqueles loucos que ultrapassaram a velocidade dos 70 kms/hora. A dada altura o conta kms marcou 73,5 e a piada reside no facto de em muitos locais passar por placas que proibiam velocidades superiores a 50 à hora, eheheh…
Não menciono este feito para me sentir melhor mas sobretudo para sensibilizar que se um percalço acontece a estas velocidades não há material ou corpo que aguente (verdade seja dita, esteve para acontecer numa curva mais apertada com gravilha nos bordos). É por estas e por outras que fujo da estrada.
Eis parte dos registos do dia… (restantes encontram-se na página
Bravos do Pelotão, ver crónica Nº030).
A caminho de “Sion” (ponto de partida desta aventura, 491 mts) no Inter-regional (IR). A minha fiel companheira é que não gostou lá muito de ser transportada tipo um animal que vai para abate. Deixa lá amiga, são ossos do ofício.
Pormenor de uma rua de Sion. A sua origem remonta aos Celtas “Sédunes”. Em 1788 um violento e grandioso incêndio destruiu a cidade por completo.
“Le Château de Tourbillon” (9º da coleção), construído no Séc.XII a 660 mts. Durante centenas de anos foi deixado ao abandono no seguimento do incêndio de 1788, pelo que muitos nativos utilizaram as suas pedras para construírem casas. (O mesmo aconteceu nas Terras da Maria, a tal a da Fonte). “Sion” possui 4 castelos, construídos em épocas diferentes.
Como o castelo está construído num penedo, este é o único acesso (em muito mau estado diga-se de passagem provocada pela erosão). Levei a companheira ao ombro uma vez que se optasse por prendê-la cá em baixo, talvez somente encontrasse o esqueleto no regresso.
“La Basilique de Valère” também chamada de “Château de Valère”. Esta construção foi erigida a 621 mts e fica na colina oposta à do “Château de Tourbillon” e a sua origem remonta também ao Séc.XII. O papa João Paulo II visitou este monumento em 1984.
Mais uma foto de pormenor. Pena as obras de conservação. Como já devem ter reparado nunca mostro fotos dos interiores dos monumentos, isso prende-se com dois fatores, um é o custo de cada visita e o outro é que aos fins-de-semana a grande maioria encontra-se encerrada ao público, para além de que a minha fiel amiga não gosta de ficar sozinha (tem um pavor aos amigos do alheio, eheheh…)
Porta de entrada do “Château de Tourbillon”.
Mais uma de pormenor e como se constata apenas ficaram as paredes.
Tempo de regressar. Naquele monte lá ao fundo também se encontra um castelo (fica para uma próxima), pois tenho uma missão a realizar.
A minha fiel companheira insistiu. Como é ela que manda fiz-lhe a vontade embora ache que no meio deste quadro, ela é “o elo mais fraco”.
Imaginem esta foto com as montanhas cobertas de neve.
Um último adeus à “La Basilique de Valère”. Sorry mas não deu para mandar cortar os dois cabos.
A caminho do meu destino final “Le Barrage de Grande Dixence” a 2.455 mts.
Esta zona do “Vallais” é uma zona que se dedica sobretudo à produção de vinho sendo “Sion” a terceira região vinícola da Suíça. Nesta zona produzem-se vinhos feitos a partir de 23 castas de brancos e 13 de tintos.
Segundo o plano inicial no regresso iria passar acolá do outro lado do vale, mas nem sempre o planeado acaba por acontecer, eheheh…
O meu destino final ao fundo (onde a cor começa a clarear).
Bonito fontanário. Água muito boa como não podia deixar de ser.
Achei interessante a igreja de “Hérémence” (1.248 mts).
As famosas “Pyramides d’Euseigne” também conhecidas por “Cheminées des fées” são monumentos naturais com cerca de 20 e tal mts de altura e que resultam de vários milhares de anos de erosão e recuo dos glaciares (desde a era glaciar). Normalmente no topo de algumas encontramos penedos perfeitamente equilibrados. Nesta foto a estrada atravessa a pirâmide.
No meio da foto encontramos “La Maya” a 2.821 mts e do lado direito o “Becs de Bosson” a 3.110 mts. Tinha planeado regressar daquele lado, passando por aquelas aldeias a meia encosta, mas tal não foi possível.
Sempre a subir. O meu destino encontra-se por detrás daquele vale ao fundo.
Claro que muito gostaria de ter encontrado caminhos de terra, mas nesta zona era impossível.
“Just for the record” porque este caminho não levava a lado nenhum.
Para os amantes de caminhadas a zona promete.
No início julguei tratar-se de uma visão, mas como vim a constatar e tal como cantava Madonna, ainda me encontra a “miles away” do destino.
Deste ponto ainda tinha de subir cerca de 13 kms. Não esquecer que venho a “ruminar” há mais de 10 kms o meu regresso à base.
A barragem de Grande Dixence em todo o seu esplendor. Apoderou-se de mim uma sensação de desilusão, pois a neblina existente não deixava transparecer a sua grandeza. Afinal é a maior barragem de betão do mundo (285 mts) e construída à maior altitude. Na base mede 193 mts e no topo 15 mts de largura e o seu lago perfaz 5 kms. Demorou cerca de 8 anos a construir.
Aqui é visível o teleférico que nos conduz ao topo da barragem. Não tive oportunidade de ir lá acima uma vez que do ponto em que me encontrava constatei que ainda tinha de vencer 7 longos e penosos kms e cerca de 700 mts de acumulado. Dado o estado em que me encontrava tive de me resignar a regressar. “Sheet happens” e por vezes não adianta ter uma boa mente se o corpo não corresponde.
Esta fotografia não é minha assim como as próximas três, mas coloquei para terem ideia do que tinha ainda que vencer. As fotografias anteriores foram tiradas a uma altitude de 1.806 mts, isto é 500 mts antes do início de todas aquelas curvas no fundo da foto.
285 mts de altura é qualquer coisa…
Quiçá um dia terei o prazer desta vista…
Um pequeno comparativo entre a altura da barragem e a torre Eiffel.
A caminho da base.
Ao fundo do lado esquerdo da foto (verde) pensei tratar-se de um campo de golfe (muito em voga nesta zona)
Afinal (o verde) eram apenas campos de cultivo (n culturas) numa zona de planalto. Este pessoal recorda-me os antigos colonos na época do faroeste porque conquistaram terras onde parecia ser impossível a vida. Reparem na distância que separa essa zona da aldeia.
Um dia talvez ande por aqueles lados, mas não vai ser hoje.
Muitas das aldeias atravessadas eram típicas com os seus “chalets” de madeira e os seus telhados de ardósia.
Qualquer encosta é aproveitada para a vinha. Aquelas cores azuis são redes que os agricultores colocam por cima das vinhas para impedir a entrada e debique da passarada.
Uma vista de “Sierre”.
Hum…, estranho, esta zona é-me familiar.
Esta foi a volta mais dura efetuada até hoje tanto no plano físico como mental, mas mesmo assim acabei por realizar cerca de 53 kms. O acumulado de subida foi de 1.487 mts isto para 26,5 kms de subida.
Tentei compensar a minha “falta” com a introdução de quatro fotos (que não são da minha autoria) para que tenham uma ideia do porquê da minha decisão e do que perdi.
Mesmo assim e como sempre valeu a pena o esforço tendo servido de treino para a minha participação na 2ª Maratona do Gerês a realizar em 07.10.2012 (ver
post 64 no tópico de promoção do evento[/URL]).
Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…
Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…