Crónicas de um Bravo do Pelotão por Terras Helvéticas

RTC

Super Moderador
Boas Alexandre!

Já de regresso de terras helvéticas, quero aqui agradecer a tua ajuda ao meu pedido dias antes de partir.
Resta-me dizer-te que correu tudo bem e foram 6 dias fantásticos aí pelas tuas bandas. ;)

Agora já sei descrever tudo o que imaginava quando vinha aqui ler as tuas crónicas. A Suiça é fantástica para pedalar!
Além do Grand Raid Cristalp, tive oportuinidade de fazer mais alguns quilómetros na zona de Martigny e no lago Champex. Que luxo de trilhos meu Deus! Para recordar! Já tenho saudades. :D
De carro aproveitei para ir a Geneve, Lausane, Sion, Montreux e o seu Castelo de Chillon, Verbier (partida do Grand Raid), Barragem de Mauvosin e regressei por Chamonix.

Abraço
René
 

AFP70

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Boas René,

Apraz-me saber que correu tudo bem e que acima de tudo te divertiste e apaixonaste pela Suiça, eheheh…

Ainda na sexta-feira passada andei por Crans-Montana e recordei-me de ti (apanhei um flyer alusivo à prova do Grand Raid Crisalp).

Conto andar também por Verbier ainda antes das primeiras quedas de neve, a ver vamos…

Quanto à ajuda “de rien” e quem precisar é só entrar em contacto.

Vamos ter direito a crónica dessa aventura?

Um abraço e até qualquer dia aqui na Schweiz ou quiçá em Portugal, ;)
Alexandre Pereira
 

AFP70

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Au “Barrage de la Grande Dixence” mandam os que lá estão…

Em conversas de café tinha ouvido falar da barragem de “Grande Dixence”, após pesquisas na net descobri que se trata em 1º lugar da barragem construída à mais alta altitude e em 2º lugar porque é a mais alta barragem de betão do mundo (285 mts). A título de curiosidade (o saber não ocupa lugar), na sua base mede cerca de 193 mts de largura e no topo cerca de 15 mts, tendo demorado 8 anos a ser construída.

Sendo um curioso (no bom sentido) por natureza, logo tratei de programar um track que me conduzisse a esse monstro da engenharia. Em pesquisas no Google Earth constatei que a única forma de aceder era via estrada alcatroada (quem acompanha estas crónicas sabe o prazer que tenho em rolar no alcatrão eheheh…, sendo que este está para mim como a água benta para o diabo).

No caso em apreço era impossível ultrapassar esta vicissitude, pelo que lá defini um trajeto que me levaria desde “Sion” 491 mts até uma zona acima da barragem 2.455 mts e se ainda tivesse pernas poderia eventualmente rolar até ao extremo do “Lac de Dix” (cerca de 14 kms na ida e volta).

Arranquei de Lausanne pelas 07h45 e às 09h00 encontrava-me em “Sion”. A minha fiel amiga é que não gostou lá muito da posição (azeitou, quero dizer azedou mas depois passou-lhe, eheheh…). Aproveitei para visitar o castelo e arredores, meter conversa com alguns transeuntes que como sempre me achavam “maluquinho” por andar a subir escadas com a bicla ao ombro. Com estas e outras acabei por sair com destino à barragem por volta das 10h30.

Quando idealizei o track sabia de antemão o que me aguardava, mas nunca pensei que fosse penar como penei e acreditem que já passei por algumas ao longo destas aventuras.

A temperatura iria andar nos 20 a 25ºC, mas quando passamos a barreira dos 1.000 mts, nota-se que já estamos a caminhar para o Inverno, pois em muitas ocasiões (zonas não expostas ao sol) senti o frio típico destas altitudes (de cortar).

À medida que subia ia-me apercebendo que talvez esta não tenha sido a melhor altura do ano para realizar esta volta, mas como sabem daqui para a frente vai ser sempre a piorar, aliás há cerca de uma semana caíram as primeiras neves nesta zona.

Os primeiros 13 kms se bem que a custo lá se foram fazendo, mas associando a isso o calor que se fazia sentir e o facto de rolar em alcatrão (não se aprende nada, parece que estamos a pedalar em seco), começou a atravessar-me o pensamento a ideia de fazer meia-volta.

A ânsia de chegar lá acima era superior a essa vontade e enquanto cogitava lá ia “ruminando” essa guerra que se agudizava a cada quilómetro efetuado.

Para acalmar o espírito e porque o esforço me turvava o pensamento, fixei-me o objetivo de ir até aonde visse pela primeira vez a barragem. Quando cheguei a esse ponto e porque desistir não faz parte (julgava eu) do meu vocabulário decidi prosseguir. Aliás prossegui porque fiquei descontente com as fotos tiradas à barragem (maldita névoa), isto é, as mesmas não deixavam ver a grandiosidade da obra (quero sempre o melhor para os leitores, eheheh…).

Se até aqui achava que tinha penado então daqui para a frente não vou comentar. Pedalei, pedalei, pedalei até que aos 1.806 mts e perante o facto de ter de realizar ainda 7 kms para vencer um desnível de 645 mts, resignei-me a fazer meia volta e regressar à base.

Samuel Johnson disse certa vez "A mente realmente firme, verdadeira, é a que pode abarcar tanto as coisas grandes como as pequenas" e não posso estar mais de acordo, pelo que decidi que tinha chegado a minha hora.

Uma vez que desci pelo mesmo trajeto utilizado aquando da subida deixei que o gozo da descida me inebriasse, vai daí e sem pedalar, somente no “embalanço” acabei por fazer parte daqueles loucos que ultrapassaram a velocidade dos 70 kms/hora. A dada altura o conta kms marcou 73,5 e a piada reside no facto de em muitos locais passar por placas que proibiam velocidades superiores a 50 à hora, eheheh…

Não menciono este feito para me sentir melhor mas sobretudo para sensibilizar que se um percalço acontece a estas velocidades não há material ou corpo que aguente (verdade seja dita, esteve para acontecer numa curva mais apertada com gravilha nos bordos). É por estas e por outras que fujo da estrada.

Eis parte dos registos do dia… (restantes encontram-se na página Bravos do Pelotão, ver crónica Nº030).

A caminho de “Sion” (ponto de partida desta aventura, 491 mts) no Inter-regional (IR). A minha fiel companheira é que não gostou lá muito de ser transportada tipo um animal que vai para abate. Deixa lá amiga, são ossos do ofício.
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Pormenor de uma rua de Sion. A sua origem remonta aos Celtas “Sédunes”. Em 1788 um violento e grandioso incêndio destruiu a cidade por completo.
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“Le Château de Tourbillon” (9º da coleção), construído no Séc.XII a 660 mts. Durante centenas de anos foi deixado ao abandono no seguimento do incêndio de 1788, pelo que muitos nativos utilizaram as suas pedras para construírem casas. (O mesmo aconteceu nas Terras da Maria, a tal a da Fonte). “Sion” possui 4 castelos, construídos em épocas diferentes.
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Como o castelo está construído num penedo, este é o único acesso (em muito mau estado diga-se de passagem provocada pela erosão). Levei a companheira ao ombro uma vez que se optasse por prendê-la cá em baixo, talvez somente encontrasse o esqueleto no regresso.
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“La Basilique de Valère” também chamada de “Château de Valère”. Esta construção foi erigida a 621 mts e fica na colina oposta à do “Château de Tourbillon” e a sua origem remonta também ao Séc.XII. O papa João Paulo II visitou este monumento em 1984.
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Mais uma foto de pormenor. Pena as obras de conservação. Como já devem ter reparado nunca mostro fotos dos interiores dos monumentos, isso prende-se com dois fatores, um é o custo de cada visita e o outro é que aos fins-de-semana a grande maioria encontra-se encerrada ao público, para além de que a minha fiel amiga não gosta de ficar sozinha (tem um pavor aos amigos do alheio, eheheh…)
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Porta de entrada do “Château de Tourbillon”.
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Mais uma de pormenor e como se constata apenas ficaram as paredes.
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Tempo de regressar. Naquele monte lá ao fundo também se encontra um castelo (fica para uma próxima), pois tenho uma missão a realizar.
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A minha fiel companheira insistiu. Como é ela que manda fiz-lhe a vontade embora ache que no meio deste quadro, ela é “o elo mais fraco”.
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Imaginem esta foto com as montanhas cobertas de neve.
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Um último adeus à “La Basilique de Valère”. Sorry mas não deu para mandar cortar os dois cabos.
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A caminho do meu destino final “Le Barrage de Grande Dixence” a 2.455 mts.
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Esta zona do “Vallais” é uma zona que se dedica sobretudo à produção de vinho sendo “Sion” a terceira região vinícola da Suíça. Nesta zona produzem-se vinhos feitos a partir de 23 castas de brancos e 13 de tintos.
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Segundo o plano inicial no regresso iria passar acolá do outro lado do vale, mas nem sempre o planeado acaba por acontecer, eheheh…
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O meu destino final ao fundo (onde a cor começa a clarear).
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Bonito fontanário. Água muito boa como não podia deixar de ser.
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Achei interessante a igreja de “Hérémence” (1.248 mts).
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As famosas “Pyramides d’Euseigne” também conhecidas por “Cheminées des fées” são monumentos naturais com cerca de 20 e tal mts de altura e que resultam de vários milhares de anos de erosão e recuo dos glaciares (desde a era glaciar). Normalmente no topo de algumas encontramos penedos perfeitamente equilibrados. Nesta foto a estrada atravessa a pirâmide.
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No meio da foto encontramos “La Maya” a 2.821 mts e do lado direito o “Becs de Bosson” a 3.110 mts. Tinha planeado regressar daquele lado, passando por aquelas aldeias a meia encosta, mas tal não foi possível.
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Sempre a subir. O meu destino encontra-se por detrás daquele vale ao fundo.
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Claro que muito gostaria de ter encontrado caminhos de terra, mas nesta zona era impossível.
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“Just for the record” porque este caminho não levava a lado nenhum.
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Para os amantes de caminhadas a zona promete.
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No início julguei tratar-se de uma visão, mas como vim a constatar e tal como cantava Madonna, ainda me encontra a “miles away” do destino.
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Deste ponto ainda tinha de subir cerca de 13 kms. Não esquecer que venho a “ruminar” há mais de 10 kms o meu regresso à base.
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A barragem de Grande Dixence em todo o seu esplendor. Apoderou-se de mim uma sensação de desilusão, pois a neblina existente não deixava transparecer a sua grandeza. Afinal é a maior barragem de betão do mundo (285 mts) e construída à maior altitude. Na base mede 193 mts e no topo 15 mts de largura e o seu lago perfaz 5 kms. Demorou cerca de 8 anos a construir.
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Aqui é visível o teleférico que nos conduz ao topo da barragem. Não tive oportunidade de ir lá acima uma vez que do ponto em que me encontrava constatei que ainda tinha de vencer 7 longos e penosos kms e cerca de 700 mts de acumulado. Dado o estado em que me encontrava tive de me resignar a regressar. “Sheet happens” e por vezes não adianta ter uma boa mente se o corpo não corresponde.
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Esta fotografia não é minha assim como as próximas três, mas coloquei para terem ideia do que tinha ainda que vencer. As fotografias anteriores foram tiradas a uma altitude de 1.806 mts, isto é 500 mts antes do início de todas aquelas curvas no fundo da foto.
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285 mts de altura é qualquer coisa…
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Quiçá um dia terei o prazer desta vista…
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Um pequeno comparativo entre a altura da barragem e a torre Eiffel.
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A caminho da base.
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Ao fundo do lado esquerdo da foto (verde) pensei tratar-se de um campo de golfe (muito em voga nesta zona)
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Afinal (o verde) eram apenas campos de cultivo (n culturas) numa zona de planalto. Este pessoal recorda-me os antigos colonos na época do faroeste porque conquistaram terras onde parecia ser impossível a vida. Reparem na distância que separa essa zona da aldeia.
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Um dia talvez ande por aqueles lados, mas não vai ser hoje.
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Muitas das aldeias atravessadas eram típicas com os seus “chalets” de madeira e os seus telhados de ardósia.
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Qualquer encosta é aproveitada para a vinha. Aquelas cores azuis são redes que os agricultores colocam por cima das vinhas para impedir a entrada e debique da passarada.
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Uma vista de “Sierre”.
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Hum…, estranho, esta zona é-me familiar.
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Esta foi a volta mais dura efetuada até hoje tanto no plano físico como mental, mas mesmo assim acabei por realizar cerca de 53 kms. O acumulado de subida foi de 1.487 mts isto para 26,5 kms de subida.

Tentei compensar a minha “falta” com a introdução de quatro fotos (que não são da minha autoria) para que tenham uma ideia do porquê da minha decisão e do que perdi.

Mesmo assim e como sempre valeu a pena o esforço tendo servido de treino para a minha participação na 2ª Maratona do Gerês a realizar em 07.10.2012 (ver post 64 no tópico de promoção do evento[/URL]).

Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…
 

salgado52

Active Member
Viva Alexandre,não à hipótese,posso estar com o astral completamente de rastos,mas cada vez que leio as tuas crónicas e vejo as respectivas fotos,fico logo outro,porque será?És um sortudo,claro que fazes por isso,quanto pessoal está por aí que possivelmente nunca curte nada desses loucos lugares.

Abraço
 

Jocas22

Active Member
mais uma vez, 5 estrelas.

Já pensaste em trocar a maquina fotografica por uma camara HD, e venderes como documentários :cool: Logo mais na RTP "Pedalar pela Suiça com o Bravo do Pelotão" :D
 

alferes

Member
Olá Alexandre!

Nem sempre “posto” aqui, no entanto, vou seguindo as tuas crónicas, as quais, são sempre interessantes e trazem algo culturalmente novo, aqui ao fórum.

Apraz-me saber que vais conseguir, este ano, participar na 2ª Maratona do Gerês! Por lá nos encontraremos, pois também já tenho a minha inscrição efetuada e paga.

Tenho a dizer-te que este fim de semana (sábado 08/09) pedalei para esses lados. Com alguns amigos do pedal, efetuamos a volta n.º14- Pedra Bela, do cardápio dos Bravos do Pelotão (www.bravosdopelotao.com). Constatei que percorridos 10,5 km o gps marcava um acumulado de subida de cerca de 850 m; é caso para relembrar, como já foi dito, por muita gente que por lá pedalou: “No Gerês, quando sobe, sobe! Quando desce, desce!”. A temperatura rondava os 28º C, no entanto, não é algo a que não estejamos habituados! Foi bom voltar à Pedra Bela e não só!

Parabéns por mais uma excelente crónica! Por vezes, a razão tem que falar mais alto que o coração… É preciso saber desistir!

Um abraço e até breve.
 

AFP70

Active Member
Olá Salgado52,

Acredito que não seja do Guaraná, eheheh…

Agora mais a sério, estas crónicas tratam de temas factuais e sendo o amigo um fiel seguidor e comentador, apelo a que se porventura as mesmas no futuro se tornarem demasiado extensas na sua leitura e exaustivas nos pormenores de descrição mo transmita sem qualquer tipo de pudor (afinal não nos conhecemos há dois dias).

Como dizia Séneca o filósofo "O importante é viver bem, não viver por muito tempo; e muitas vezes vive bem quem não vive muito."

Um abraço,
Alexandre Pereira

P.S: Este ano a 2ª Maratona do Gerês faz parte da sua agenda?
 

AFP70

Active Member
Boas Jocas22,

Apesar do empeno ainda deu para escrever e documentar a preceito.

Claro que vontade não me falta em adquirir um equipamento dessa natureza, mas neste momento ainda me encontro à procura de “patrocinador”, pelo que os CHF não abundam. Para colmatar essa situação optei por apostar em formação o que me deixa algum tempo livre para suprir as necessidades dos leitores deste fórum, eheheh…

A RTP à semelhança de muitos canais no mundo prefere os programas “bling bling” cor-de-rosa, pelo que quiçá mais tarde talvez um livro de memórias como “legacy” aos descendentes. Até já imagino os meus eventuais netos a comentarem: “O meu avô era um gajo de **** madre…”.

Cumprimentos,
Alexandre Pereira
 

salgado52

Active Member
Viva Alexandre,tinha já efectuado uma inscrição numa maratona aqui na zona mais o meu amigo Belmiro,como entretanto ele decidiu não querer marcar presença e como no ano passado estivemos presentes aí no Gerês e adorámos,amanhã vou falar com ele e se ele alinhar faço logo as inscrições.

Quanto ás tuas crónicas nunca serão extensas e muito menos exaustivas,pois infelizmente crónicas com a qualidade das tuas não se encontram amiúde.

Abraço

JAndrade
 

AFP70

Active Member
Amigo Alferes,

Houve um tipo (não vou mencionar nomes, mas sabes a quem me refiro) que me disse certa vez “Na vida não devemos somente fazer coisas razoáveis mas também todas as outras”.

Ainda não te tinha manifestado a minha ida ao Gerês, mas agora está confirmado a não ser que à última da hora surja um eventual “patrocinador”.

Que saudades da volta 14, da 7 e de todas as realizadas no Gerês e arredores (bons tempos), mas “if God wills” encontrar-nos-emos dia 07.10, pois nesse dia todos os caminhos levam lá.

No que toca ao Gerês é como dizes pelo que quem pensar rolar em alta montanha na Suíça que vá treinando no Gerês, eheheh…

Um abraço, fica bem…
Alexandre Pereira
 

AFP70

Active Member
Obrigado JAndrade.
É sempre bom saber.
Quiçá não nos encontramos no Gerês.

Aquele abraço ;),
Alexandre Pereira
 

osodrac

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Ora Viva, sendo um leitor assíduo destas crónicas,em que o início se parece com os prefácios de alguns livros :), já algum tempo que andava para aqui passar a comentar a dar-te os parabéns pelo gosto e oportunidade que tens e que dás a muita gente em ler e ver estas aventuras e paisagens magníficas! Crónicas do género apenas podem vir de alguém com gosto enorme pelo que se faz!
Obrigado e parabéns! José.
 
Last edited:

AFP70

Active Member
Boas José,

Obrigado por seguir e parabéns pela decisão tomada de comentar.

Eu próprio faço um “mea culpa” pois também por vezes não comento excelentes tópicos abertos aqui no Fórum, daí que entenda o desalento que por vezes ataca os responsáveis de alguns tópicos.

Sempre regi a minha existência pela máxima de dar mais do que receber daí ter criado este tópico de forma a partilhar tal como menciona estas magníficas paisagens, aliás a página Bravos do Pelotão foi criada desde a sua génese com esse intuito.

Sendo este um espaço dedicado a todos aqueles que nutrem esta paixão (BTT e mundo das biclas), seria normal que houvesse uma maior participação por parte dos diferentes users, mas como isso não sucede a minha “missão” é fomentar essa mesma participação, eheheh…

Um abraço and keep following ;),
Alexandre Pereira
 

AFP70

Active Member
Do cimo do “Eggishorn” vi o glaciar de Aletsch…

Eram 05h00 da manhã quando o despertador tocou. Ainda com ar de poucos amigos resolvi tomar um duche para ver se despertava. Enquanto a água me refrescava a moina, revi mentalmente todas as etapas agendadas para esta minha aventura em alta montanha.

Sempre em busca de novas sensações e na prossecução do objetivo de ultrapassar a barreira dos 3.000 mts sem ajuda de qualquer equipamento especial, tinha planeado uma visita ao “Eggishorn” a 2.926 mts. Para quem desconhece, esta montanha dá acesso ao maior glaciar da Suiça, o “Glaciar de Aletsch”, inscrito no património mundial da UNESCO, com os seus 23,6 kms de comprido e uma largura superior a 1,5 kms em quase toda a sua extensão.

Pelas 06h20 arranquei de Lausanne com destino a “Fiesch” (1.049 mts), onde cheguei por volta das 09h00, tendo mudado de comboio em “Brig”. Eram 09h48 quando cheguei à estação do “Eggishorn” a 2.869 mts (utilizei 2 teleféricos). Quem pretender efetuar esta aventura deve contar com mais de 7 horas perdidas em deslocações (uma aberração, mas vale mesmo a pena conforme poderão ver pelas fotos).

O dia não podia estar melhor, muito sol e temperaturas acima dos 20ºC isto se não esquecermos que estamos perto dos 3.000 mts.

O track delineado perfazia 18 kms e pelas minhas contas (6 horas de caminhada) deveria chegar a “Riederalp” (1.925 mts) por volta das 16h00, onde apanharia o teleférico que me conduziria à estação de “Mörel”, iniciando aí o meu regresso a Lausanne.

A dificuldade do trilho, associada à beleza das paisagens e a vontade de querer aproveitar o momento em cada instante, fizeram com que começasse desde o início a acumular um atraso significativo em relação ao planeado.

Como dizia a minha avó “…o que não se pode alterar, alterado está…”, pelo que a partir de certa altura, limitei-me a “enjoyar the sights” e a esquecer por completo o que tinha agendado, afinal não sabia quando teria novamente oportunidade de regressar a este local.

O certo é que com esta brincadeira (Carpe Diem) somente pelas 16h00 cheguei a “Bettmerhorn”, perto dos 2.700 mts. Daí era visível o meu destino final (1.925 mts), mas ainda me encontrava a 5 kms de distância e cerca de 2h30 de caminhada na melhor das hipóteses. Pelos meus cálculos e caso optasse por realizar esta parte final, chegaria a Lausanne por volta das 24h00.

Após um longo período de reflexão e enquanto me deleitava com as vistas, optei por abortar a minha aventura a partir deste ponto, tendo-me enfiado na primeira cabine do teleférico.

Eis parte dos registos do dia… (restantes encontram-se na página Bravos do Pelotão, ver crónica Nº031).

Após mais de 3h30 de viagem (2 comboios e 2 teleféricos) cheguei à base do “Eggishorn” a 2.869 mts. Para atingir o cume que fica ainda a 2.926 mts estavam previstos 30 min, tal é a beleza do cenário.
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Chegados a “Fiesch” (estação de comboio a 1.049 mts) temos de apanhar 2 teleféricos. O 1º conduz-nos até “Fieschralp” a 2.212 mts e o 2º conduz-nos desse ponto até à estação do “Eggishorn” a 2.869 mts. Ambos os teleféricos possuem uma capacidade superior a 100 pessoas. Uma vez que o dia prometia todos os cm2 estavam ocupados, daí não ter conseguido tirar quaisquer fotografias do seu interior. Parecíamos sardinhas enlatadas. Em caso de avaria, nem quero pensar na resolução.
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Bonita panorâmica dos diferentes glaciares existentes na zona assim como várias montanhas acima dos 4.000 mts. A preto o trajeto delineado no Google Earth, +/- 18 kms.
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A minha boleia que me conduziu da aldeia de “Fieschralp a 2.212 mts“ (ao fundo da foto) à base do “Eggishorn a 2.869 mts”. Do lado esquerdo da foto temos mais uma “Via Ferrata” para os amantes de sensações fortes, que como sabem somente pode ser efetuada com material especial.
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Junto à estação do teleférico temos esta “cabane” onde podemos efetuar uma pausa para beber ou comer algo. D’aqui temos umas vistas divinais sobre os dois lados da montanha.
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O monstro “Glaciar de Aletsch” com os seus 23,6 kms de comprido e com uma largura superior a 1,5 kms em quase toda a sua extensão. É o maior glaciar da Suíça com uma superfície de 120 km2 e foi classificado como património mundial da humanidade pela UNESCO. A montanha mais alta que se vê ao fundo é o “Monch” com os seus 4.107 mts.
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O caminho que me conduziria ao ponto mais alto 2.926 mts. Aqui e em várias partes do trajeto o mínimo deslize paga-se com a própria vida (nada de novo para o Je). É impressionante a forma como foi construído este caminho (pedras com várias toneladas movimentadas em espaços tão pequenos).
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Esta foto foi tirada a mais de 2.900 mts e daqui podemos ver por onde o meu trilho me conduzirá [extremidade do lago (2.367 mts) do lado direito da foto e aquela pequena caverna junto ao glaciar (2.294 mts) do lado esquerdo da foto], sabendo que após chegar ao extremo do lago irei utilizar aquele caminho que aparece a meia encosta (junto aquelas manchas de verde). Apostei comigo próprio que conseguia descer aquela escarpa no final do trilho com os meios existentes (ver próximas fotos).
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Um último adeus ao glaciar de “Aletsch”. Ainda não foi desta que ultrapassei a barreira dos 3.000 mts, mas estive perto 2.926 mts. No final do caminho e para atingir a entrada do glaciar (pequena caverna), terei de vencer um desnível de quase 100 mts com a ajuda de cabos de aço e escadas em ferro.
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Regresso à base para iniciar o meu périplo propriamente dito. O início da descida far-se-á pelo lado esquerdo da foto. Um espetáculo não concordam?
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Dentro de algumas horas estarei a passar por cima daquele mar de pedras (+/- 500 mts a transpor). Não se deixem enganar pela perspetiva uma vez que todas aquelas pedras resultantes da erosão da montanha pesam algumas toneladas.
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O trilho levar-me-á do outro lado da montanha ao fundo.
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Passarei junto aquela cabine e prosseguirei trilho adiante. Em toda a zona devemos estar sempre em alerta ao mínimo ruído, não vá surgir do nada uma avalanche de pedras (Rolling Stones, eheheh…).
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Ao fundo o glaciar de “Fiescher” com os seus 16 kms de comprido e a montanha que se vê vestida de branco é o “Fiescherhorn” a 4.049 mts.
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Lago “Märjelesee” a 2.360 mts. Hoje em dia este lago tem um comprimento máximo de 500 mts para 45 mts de profundidade, mas no séc.XIX (1882) tinha mais do dobro do comprimento. Esta diminuição do tamanho é ocasionada pelo crescente degelo e recuo do glaciar (aquecimento global). Quando tirei esta foto apercebi-me da existência de um pequeno aglomerado de casas abandonadas.
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“Eggishorn” visto da extremidade do lago. Quase 600 mts de desnível vencidos.
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O tal aglomerado de casas abandonadas “Märjelen”. Talvez servissem de apoio aos pastores.
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A caminho da entrada da caverna que dá acesso ao interior do glaciar.
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Não, não é a caverna do Ali Babá! O aspeto negro da superfície resulta da poluição verificada na Terra. Aquela parte mais escura atrás não é terra mas sim moreias (acumulação de rochas e sedimentos).
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Sem equipamento à altura é um pouco difícil fazer parte deste grupo, mas admiro a coragem.
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Ao fundo o meu destino final. O trilho de subida é o superior. Para não estragar a foto, resolvi não assinalar a vermelho 3 pessoas que se encontravam no início desse trilho (na zona mais clara, pedras largas).
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Em qualquer parte do mundo cabra é cabra. Desconheço se uma cabra Suíça é tão boa como uma cabra Portuguesa, mas os entendidos na matéria lá terão a sua opinião, eheheh…
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No fim do trilho e tal como imaginava aguardava-me uma experiência única. Tive de vencer cerca de 100 mts de desnível para 350 mts de caminhada com a ajuda de cabos (situação parecida com uma via ferrata). Aqui a adrenalina esteve no pico. (sensações do ca . . . . o)
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Já falta pouco…Assinalei a vermelho uma pessoa para terem uma ideia da dimensão da gruta.
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À entrada da gruta, isto é a cerca de 5 mts. Em caso de queda do bloco de gelo não era essa distância de segurança que iria impedir a minha caminhada para os anjinhos. Por vezes fazemos coisas que a própria razão não entende (impulsos do momento).
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Até à próxima Ali Babá!
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Já do outro lado. Assinalado a vermelho o local inicial da minha descida ao encontro da gruta. Desta forma compreendem melhor o porquê da subida dos níveis de adrenalina.
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A partir d’aqui aguardavam-me cerca de 3 horas de caminhada. Faz-te ao caminho Man…
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Por vezes virava-me para analisar a distância percorrida. Sabe sempre bem.
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Eis-me chegado ao famoso mar de pedras (+/- 500 mts) a transpor. Por incrível que pareça o trilho estava devidamente assinalado com setas vermelhas pintadas nas pedras. No inverno mesmo com a ajuda de um GPS a tarefa deverá ser impossível. Aqui ocorreu uma situação que me deixou perplexo. A ½ caminho passou por mim um casal, ele com uma cadeirinha às costas transportando uma criança de 3 anos e ela em final de gravidez (uma barriga do tamanho de…). Nunca tinha visto tamanha irresponsabilidade, mas enfim… Caminhar no monte mesmo com crianças ou grávida é uma coisa, mas aqui é de uma estupidez de bradar aos céus.
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Após o mar de pedras (2.483 mts). Veem ao fundo aquela mancha na montanha junto ao glaciar provocada pela nuvem, pois, foi donde vim.
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Após o mar de pedras a subida era muito mais íngreme, tive inclusive de efetuar algumas paragens intermédias. São 2 kms a subir para vencer cerca de 300 mts de desnível.
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Sempre em frente e sem alternativas.
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Aquele curso de água que se vê na montanha tem perto de 5 kms de comprimento e forma-se a partir do degelo das neves do “Aletschhorn” a 4.193 mts.
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Ao longe dir-se-ia uma nave espacial, no entanto trata-se da estação de ”Bettmerhorn” a quase 2.700 mts. Possui museu, restaurante, esplanada, etc…
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Achei interessante o conceito, isto é, mediante o aluguer de uns “headphones” podemos ouvir música e poemas em 4 línguas enquanto admiramos as vistas.
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Ao longe naquele vale, o meu destino final “Riederalp” a 1.925 mts. Eram 16h00 e pelas informações ao meu dispor, ainda demoraria cerca de 2h30 a efetuar o percurso. Após alguns cálculos cheguei à conclusão que somente por volta das 24h00 chegaria a casa (tinha-me levantado às 05h00). Vai daí e após 13,5 kms de caminhada e um longo período de reflexão, resolvi abortar a aventura, apanhando neste local o teleférico de regresso.
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O meu novo destino “Bettmeralp” a 1.950 mts.
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No interior do teleférico. 700 mts de desnível é qualquer coisa.
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No, no estamos en España. Estos sí, son toros de verdad.
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À semelhança de outras voltas realizadas em alta montanha, esta ficará sem dúvida gravada na minha memória, tal era a beleza das paisagens e o facto de nos sentirmos tão pequenos, tão insignificantes perante a grandeza do cenário.

Uma vez que dentro em breve começaram a cair as primeiras neves, esta foi a minha última aventura a estas altitudes (a cereja no top of the cake, eheheh…) e para se poder andar acima dos 3.000 / 3.500 mts torna-se necessário a utilização de material de alpinismo.

Como diz o adágio popular “o futuro a Deus pertence” mas nunca recuo ou recuso um bom “challenge”, a ver vamos…

Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…
 
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quileptor

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..Brutal!!! :)

- só uma questão - a zona de descida, com cabo de aço, é feito com arnês e longes , ou é para se ir apoiando à mão??

Parabéns pelo report!!
 

AFP70

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Boas quileptor,

Obrigado por seguir.

Como não tenho material de escalada (arneses, cordas, cintas, botas com grampões, etc…), nesta e noutras aventuras aplico a lei do “desenrascanço”.

Para garantir segurança deve-se aplicar o arnês com cinta ao longo dos diferentes cabos de aço que vão surgindo. Uma vez que caminho sempre em solitário, acredite que quando se chega ao ponto de “no return”, tenho mesmo de aplicar esta metodologia. Muitos considerarão um “suicídio”, mas até agora tenho-me dado bem (até quando, não sei, eheheh…)

Um abraço,
Alexandre Pereira
 

salgado52

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Viva Alexandre,presumo que esteja a fazer 2 anos que chegas-te a "Terras Helvéticas" fazes referência (esta ficará sem dúvida gravada na minha memória) a esta última epopeia,pergunto eu,então e todas as outras,felizmente que a nossa memória não é limitada pois a tua já está e de que maneira bem repleta,mas sempre com muito espaço para o que vem a seguir.
Bom então parece que vai ser desta,o Gerês espera por nós,vamos lá a ver se o S.Pedro nos vai dar tréguas,pois este último domingo em Barcelos,foi um percurso para "duros" tal a quantidade de laminha à disposição.

Abraço e boa viagem
 
Boas

Amigo Alexandre, mais uma crónica espetacular que nos apresentas. Estas fotos metem respeito e a ousadia/coragem para transpôr tais obstáculos não estão à altura de qualquer um.

Cumprimentos
 

AFP70

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Olá JAndrade,

Há datas que nos marcam para a vida e realmente o dia 15.11.2010 é uma delas (data em que “fui obrigado” a abalar de Portugal).

“À semelhança de outras voltas realizadas em alta montanha, esta ficará sem dúvida gravada na minha memória,…”

Ainda tinha mais umas coisas planeadas em “alta montanha” para este ano, mas terei de protelar para o ano (queda de neve nos próximos tempos), isto se porventura ainda me encontrar por cá já que o novo “patrocinador” teima em não dar sinais de vida, eheheh…

Tenho acompanhado o rescaldo dos 5 cumes e realmente esta prova parece “amaldiçoada” no que toca a condições climatéricas. Julgo que somente há cerca de 2 ou 3 anos é que esteve um dia fantástico. Já tinha visto o seu comentário e realmente não foi fácil. Parabéns pelo feito (chegar ao fim) e continue assim, a disfrutar sempre que possível.

Em princípio encontramo-nos no Gerês e acredito que S.Pedro a partir de agora entrará em “abstinência”, eheheh…

Um abraço e vamos conversando…
Alexandre Pereira
 
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