[Crónica] Trilhos do Ceireiro - "O Regresso"

SURFAS

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Uauuuuu

Lindo, gostava mesmo de ver um animal desses na natureza e que os tratem bem. E pelo que tenho lido a cabra do "Geres" está de volta, passados mais de 100 anos e fala-se também de Ursos Pardos avistados em 2005 bastante perto do Geres!!

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Talvez seja por isso que querem passar o Parque a Reserva, por um lado é muito bom!!
 

beselga

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No dia 21 de Dezembro de 2010, o primeiro dia de Inverno, estava destinado a mais uma voltinha de bicicleta pelas redondezas. A chuva que caia não me conseguiu demover, assim por volta das 9h30 parti em direcção à Serra dos Buracos. O violento incêndio no Verão de 2009 dizimou a Serra e depois deste triste acontecimento apenas passei por lá duas vezes.

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Com a chuva que tem caído há água por todo o lado. Podia ter passado pela água (ou ter dito apenas que passei uma vez que ia sozinho) mas como ainda tinha os pés secos resolvi passar pelas pedras. Há tanto tempo que já não passava por aqui. Ao subir pelo caminho íngreme e pelas rochas escorregadias veio-me à memória as vezes que por ali passei com a minha mãe e os meus irmãos quando íamos à lenha com a nossa velhinha Burra. Ainda estou a ver Russa, era assim que a tratávamos, com o seu passo lento a descer carregada, os meus irmãos e eu ajudávamos a suster a carroça.

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Esta é uma área que conheço bem pois temos lá muitos terrenos. Lembrei-me que no cimo destas rochas, no meio das fragas havia gilbardeira, uma das plantas que já falei no inicio da crónica.

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Quando era miúdo subi lá muitas vezes para a colher no sentido de se fazerem arranjos florais. Como não tinha a certeza se ainda existia, resolvi subir ao local. Lá estava ela!
Apesar dos vários incêndios que por ali passaram ela ressurgiu sempre das cinzas como a Fénix.

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Andei algumas centenas de metros e tive de parar novamente. Este é um local que tem um valor inestimável para mim pois estas rochas já me salvaram a vida.

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Abandonei o local ainda emocionado e com uma lágrima a querer sair no canto do olho. O incêndio tinha chegado até aqui como se marcasse a partida para a primeira dificuldade do dia. A Serra da Pena não é fácil de transpor pois trata-se de uma subida bastante técnica. Agora já está muito melhor pois em 2008 fizemos aqui uma grande intervenção para melhorarmos o caminho. O objectivo era subi-la sem desmontar da bicicleta.

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Ainda antes de começar a subir encontrei este cogumelo que me fez lembrar os ovos de onde nasciam os Alliens no filme Allien 8º Passageiro e restantes filmes da saga. Devia ter tirado a foto noutra perspectiva.

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Uma das lendas mais populares entre os beselguenses é a existência da Arca da Moira na Serra da Pena. Já por diversas vezes questionamos os mais velhos para nos ensinarem o local exacto da dita Arca. Mas ainda não conseguimos, uma vez que os locais referenciados nem sempre coincidem. Contudo, o local mais apontado é precisamente nesta zona.
Ainda parei e olhei atentamente em meu redor com o intuito de ouvir o som dos pífaros e dos batuques e ver uma bela Moira a executar a dança do ventre de uma forma divinal no meio dos rochedos, mas nada. O único som que ouvi para além do vento era o barulho da chuva a cair no impermeável.

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À medida que subia avistei ao longe qualquer coisa que me chamou à atenção. Parecia-me um menir mas se fosse já alguém o teria descoberto. Para tirar as dúvidas lá fui eu a pé pelo meio do mato até ao local. Depois lá chegar apercebi-me de facto que não era um menir. A Natureza faz cada coisa…

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Com estes acontecimentos acabei por falhar o meu objectivo de subir a Serra da Pena sem desmontar. Fica para a próxima.
Já a pedalar por uma zona mais plana no cimo da serra, resolvi passar por uma zona que onde também já não passava há muito tempo. Ao fim de alguns kms a descer como que guiado pelo GPS apenas parei já num verdadeiro menir. O Menir de Vale de Maria Pais é um dos achados arqueológicos mais significativos da região Centro/Norte de Portugal, para além do menir existem muitas sepulturas antropomórficas nas imediações. Podem googlar na internet para saberem mais sobre o assunto pois vale mesmo a pena uma visita.
Fica aqui uma hiperligação de um dos melhores resultados de pesquisa: http://www.portugalnotavel.com/2010...a-pais-e-sepulturas-antropomorficas-penedono/

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Continuei a descer e fui de encontro ao já nosso bem conhecido Rio Torto. Foi difícil tirar esta foto pois a máquina estava embaciada, e para a limpar lá tive que fazer uma grande ginástica pois só já uma pequena parte dos boxers é que ainda estava seca.

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Depois comecei a subir a Serra do Sirigo (eólicas) pelo lado das Antas. Esta foi a segunda provação do dia. O terreno bastante pesado e com o engrossar da chuva a marcha tornava-se cada vez mais dura e mais lenta. Segui com o olhar fixo no solo mas quando olhava para a frente via as gotas a caírem da pala do capacete, como se fossem as goteiras de um telhado. À medida que ia subindo fui invadido pelo nevoeiro, já se ouvia o barulho das pás das eólicas mas não se conseguiam ver. Só quando já estava quase debaixo delas é que pude avistar estes monstros de metal.

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Depois foi sempre a descer até à Beselga. Nunca pensei dizer o que vou dizer a seguir: foi mais agradável subir do que descer. É que sendo eu um dos apaixonados das descidas tinha tudo para estar contente mas o frio que senti foi muito, a chuva ao bater-me na cara parecia que me crivava todo. Acabada a descida ao chegar à Beselga senti-me logo melhor pois a temperatura ficou mais amena.
Foram cerca de 25kms feitos debaixo de chuva e tirando a parte da descida das eólicas gostei muito deste pequeno passeio. Devo ter um defeito no sistema de “refrigeração” do meu organismo pois não me dou nada bem com o calor mas sinto-me bem em dias de chuva.

Um abraço e até breve!
 
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