Após dois textos escritos sobre o Campeonato de Maratonas, enviei um para uma revista com a qual irei colaborar e este, coloco-o aqui!
Espero que expresse as emoções desta prova tão especial! Optei por uma crónica. Resultados e opiniões sobre a organização já foram, e bem, relatados aqui!
Montanha Russa Escaldante
Em boa-hora a Vila de Manteigas foi escolhida para palco do Campeonato Nacional XCM e Masters!
Na tarde de sábado, havia uma transfiguração total desta belíssima vila, encaixada no coração da Serra da Estrela, visitada pelo Rio Zêzere, no seu início de galopante percurso e sempre vigiada pelo majestoso Vale Glaciar.
As centenas de pessoas, entre atletas e acompanhantes que deambulavam pelas calçadas serpenteantes, ornadas de habitações de traça antiga e bem preservadas, davam um colorido e um odor a festa! Só um campeonato nacional consegue provocar esta emoção!
Domingo, manhã cedo, adensava-se a paleta de cores, com os atletas equipados, reforçando o dia de primavera que se adivinhava e que, numa euforia de festa, se transformou em cálido dia de Agosto.
Junto à partida, em paisagem que se confunde com as de calendário provenientes da terra dos chocolates, os atletas eram colocados em espaços bem organizados, antecessores da partida, de acordo com a placa que os identificava e as idades respectivas.
Cheirava a um misto de paz e de ansiedade!
Dada a partida, estavam abertas as hostilidades! Era a marcação em cima! Cada qual tentava, ou escapar ao adversário directo, ou a não o deixar fugir! Esta discrepância de comportamentos é a essência da competição! Saudável! Levada ao exagero, será o “mato ou morro!”
O sonho ia-se materializando, ou desvanecendo, à medida que os quilómetros “não passavam”! Iam passando, muito lentamente, na fogueira das subidas e vertiginosamente, nas vertentes inclinadas que alguns chamam descidas, e outros, simplesmente caminhos para o abismo se a técnica for palavra vã! Lindo! E, perigoso!
Mais lindo e entusiasmante, muito mais pretendido e viciante! Era o delírio!
As trocas de lugares, mais pareciam um vira minhoto do que uma dança de roda beirã! Ora agora vais tu, ora agora estou eu! Era assim que se revezavam os atletas, consoante o seu ADN atlético tenha características de downer, ou de trepador! Tomavam uns a dianteira porque descem…muito! Os teimosos da subida, esses marcavam a vítima e esperavam pela escalada recheada de graus celcius para os colocar no seu lugar e demonstrar que os gramas retirados das bikes, associados às séries repetidas em treinos de esperança, iriam colocar a verdade dos factos!
Mas, como tudo o que sobe desce, a dança repetia-se sob o olhar atento e matreiro da serra, esperando pela exaustão e impaciência!
Passava a pista junto à meta! Ora cá está! Por hoje acabou!
Lá ficaram alguns!
Contas feitas às desistências que se observavam, ruminava-se a ideia se o tal, ou os tais, teriam abandonado, ou, teimosamente, iam a gozar do rendimento investido na primeira parte e rumavam ao seu Olimpo, fosse qual fosse o lugar em que estavam! Outra vitória havia! Terminar!
Naquele carrossel interminável, nova corrida, nova viagem! A segunda parte era irmã da primeira! As sensações eram as mesmas, acrescidas do enorme cansaço que nos devorava!
Mas, como depois da tempestade, a bonança não tarda, uns quilómetros em pleno Vale Glaciar, fizeram as delícias de quem gosta de velocidades vertiginosas! Setenta quilómetros por hora!
Tal qual o Zêzere que nos acompanhou, por oito reconfortantes quilómetros, visitámos Manteigas, numa chegada onde se descarregaram as emoções restantes! Sentimento de dever cumprido e julgamento das nossas capacidades!
Para o ano, há mais!