lobo solitario
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24 de Abril de 2010
Quando pensamos num Imperador, Rei, Presidente, Primeiro-Ministro, esquecemos que quem manda poderá não ser essa figura mas alguém que, na sombra, o manipula ou o influencia: um Sir Humphrey qualquer ou, numa versão portuguesa, um Godinho qualquer. No CEVA temos presidente mas pensava eu que quem mandava era um tipo alto, de temperamento difícil. Constato que, na sombra, um espírito maquiavélico disfarçado de lince ibérico dá cartas. No final, o tal de temperamento difícil dá a cara e lê as outras cartas, as do IGEOE e do GE. Foi este último quem me enviou uma missiva que virou do avesso os planos do fim de semana e me “forçou” a aturar 200 macacos montados em bicicletas das mais variadas espécies. Pensei: “se não vou, fico a roer-me ao ler os relatos dos acontecimentos que vierem a ter lugar”. É como se o Hergé anunciasse que iria fazer mais um livro e o Tintin perguntasse ao capitão Haddock se queria fazer parte dele ou não. Imagine-se a cara do tipo ao ler a história fantástica que tinha tido lugar e ele perdera. “Tonnerre de tonnerre. Mille millions de mille sabords.”. É claro que, ao convidar o Capitão, o Tintin teria de o aturar...
O arranque teve lugar cerca das nove, na zona deprimida do costume. Talvez por ritual, talvez por hábito, os primeiros metros destinaram-se a salpicar a montada de lama antes de entrar nos caminhos rolantes: estradas, ruas, estradões, ciclovias. As primeiras (muitas) dezenas de quilómetros evidenciaram um Senhor Ribeiro pujante, a imprimir um ritmo forte no andamento. Só mesmo recorrendo a uma vozinha gemente se conseguiu segurar o animal para o convencer a meter calorias em Mondim de Basto. Mesmo aí, ele quase se recusava a ingerir a sopinha. Ao vê-la, no entanto, não resistiu e abarbatou-se ao prato destinado ao Senhor Óscar, entretido a confidenciar ao telemóvel, em altos berros, os seus segredos sexuais com a Princesa. O repasto foi excelente. Além da magnífica sopa com feijão, comeu-se uma deliciosa sandes de fígado de cebolada. Um convite a um ataque de gota a meio da noite.
De Mondim iríamos rodear o saiote da Senhora da Graça e atacar a subida mais à frente, em direcção a Vilar de Ferreiros, novamente a um ritmo infernal que as raposas velhas ou matreiras se recusaram a aceitar. Finalmente entrávamos na terra e chegávamos ao estradão já muito visitado que permite aceder à Senhora da Graça. Aqui dirigimo-nos em sentido oposto, apontando para Macieira e, depois, para Alvadia. Não querendo apontar o dedo a ninguém, apenas informo que houve quem tivesse tido um momento de fraqueza. Numa atitude sem precedentes (pelo menos no CEVA), o feroz guia resolveu poupar o sofredor às agonias do empeno, dando-lhe tempo para se recompor, uma asneira que haveria de pagar caro mais tarde. Retomou-se o caminho e, em Alvadia, foi a minha vez de sugerir o caminho a seguir. Tratava-se de uma alternativa mais fácil de ligação de Alvadia aos estradões das eólicas que passava por Lamas. Sendo eu um bandalho, não consegui segurar um àparte sobre fazer-se, finalmente, um pouco de BTT, para variar. Algum neurónio recôndito tinha armazenado a frase em estado puro após ouvi-la num passeio anterior. O efeito foi o de um ataque de alergia: hipersensibilidade imediata. Poderia dizer que me arrependi, mais a mais porque tinha decidido não tecer qualquer opinião ou crítica ao trajecto traçado. Mentiria: soube-me bem, achei divertido...
A subida ao estradão era, para meu gosto, interessante: tecnicamente simples mas requerendo algum esforço. O timing também foi perfeito: apanhou-me num momento de melhor forma. Subi por ali acima com o velho guia Indy atrás. Lá em cima ainda me perguntou se tinha imprimido um ritmo forte porque gostava da subida ou se queria apenas empenar o colega ET. Menti e disse-lhe que o ritmo tinha sido apenas ditado pelo prazer da subida. Depois de alguns metros de saibro saímos à direita para uma descida mais complicada que já não fazia há anos. Alguém se lhe tinha referido, no passado distante, como rolante, indispondo outro que, obviamente, não concordou com a adjectivação. Apesar da concentração necessária para fugir às pedras, o Indy resolveu iniciar um diálogo comigo, que seguia na frente. Parei para ouvir o que ele dizia e dar-lhe a cortesia de uma resposta. Nem me lembro do tópico. Arranquei e, na primeira pedalada, o pé enrola-se numa erva qualquer. Um pequeno tombar, sem mais consequências que um raspar de canela no corpo da Vanessa, proporcionou um bom momento de satisfação aos meus colegas. Consta que o Senhor Tico terá gravado a graciosa peripécia.
Descemos sem mais percalços até ao vale, junto à aldeia da Gralheira. Era aí que tínhamos decidido separarmo-nos: os que haviam aceite as enxergas em Jales seguiriam enquanto eu e o Senhor Óscar rumaríamos directamente para Vila Pouca onde o conforto hoteleiro nos aguardava. No entanto, a visão do desafio de subir a outra encosta foi demais para mim. Com o Senhor Óscar a dizer que me seguiria aos confins do inferno, encetámos a subida: um caminho saibroso empinado que nos fez bufar. Treinávamos para o PUF-PUF. A subida era daquelas em que ninguém pára apenas porque não quer ser o primeiro a dar parte de fraco. Assim, todos continuam até ao talefe mais próximo, com o coração na boca e a arfar dolorosamente. Junto ao meco, o nosso guia sentou-se para se alimentar. É curioso como um acto tão singelo se pode transformar num instrumento de guerrilha psicológica quando aplicado de forma conveniente em determinados indivíduos. Não falarei mais sobre esse assunto sob pena de vir a sofrer, no futuro, alguma retaliação.
Uma vez no topo, foi só rolar até Campo de Jales onde os organizadores nos aguardavam e nos felicitavam pelo êxito da missão. Após a complicada equação de nos porem em Vila Pouca para um banho e de regresso a Campo de Jales para as libações da noite, a solução da qual devo agradecer ao Senhor Zé, primo do Senhor ET, passou-se à acção mandibular. Em ambiente festivo, fez-se muita filosofia barata e aproveitei para lançar uns chistes, aqui e ali, ao nosso guia, completamente gratuitos, é certo, pois a ele devíamos o sucesso da missão, baseada numa criteriosa (e ao que consta, muito longa) selecção de trajectos que, pela sua lisura, nos permitiram chegar sem qualquer empeno ao destino e, na manhã seguinte, arrancarmos frescos para o PUF10. A partir de certa altura já nem me lembro do teor das conversas mas a imagem seguinte deverá esclarecer o leitor.
25 de Abril de 2010
Tinha dormido lindamente e sentia-me bem. O Senhor Óscar, radiante com as conquistas quilométricas do dia anterior, também se confessava surpreso com a falta de dores musculares. Graças à amabilidade do Senhor Luís, lá nos pusemos atempadamente no planalto de Jales para a tarefa do dia. A visão daquela pequena multidão angustiava-me. Após o arranque, não sabia onde me colocar: na retaguarda? na frente? a meio? O meu problema é a dificuldade de gerir espaço. O espaço sonoro é demasiado intenso, um matraquear de baboseiras, discussões técnicas, grosserias variadas, entremeada de urros descabidos por parte de alguns, por vezes volumosos, convivas. Retiro das conversas que me chegam aos ouvidos que a maior parte dos colegas ciclistas tem uma vida sexual tão activa que me deixa deprimentemente complexado. Claro que há excepções que vão desde discussões geo-estratégicas da economia mundial até à marcação de encontros entre tipos vestidos de lycra. O espaço físico, ocupado com colegas de tão variados rendimentos físicos e capacidades técnicas torna-se-me confuso. Avanço? Não avanço? Aguardo para ser o último? Atiro-me por ali sem juízo? Acho que tentei todas as possibilidades. Devo ter chateado alguns, de vez em quando. Peço desculpa. Apesar de tudo, vi-me, uma ou outra vez, entusiasmado com a acrescida dificuldade técnica de uma subida entupida de ciclistas caminhantes. Apesar de ter perfeita consciência da futilidade da competição desde que se inventou o funcionalismo público, dei por mim a caprichar no meu rendimento nas subidas mais complicadas. É claro que quando, ufano, sorria com a minha conquista de mais um lugar no pódio, passava a voar por mim mais um atleta. Agora, restrospectivamente, ponho-me a pensar nos tipos que, de lenço branco feitos noivas, nos conduziam qual rebanho bem comportado: só me lembro de os ver passar para a frente, descansados, confiantes, oferecendo apoio psicológico aos mais carentes. Alguns, a meio de uma subida em que eu arfava custosamente, atendiam calmamente o telemóvel ou outro aparelho fónico e combinavam pontos de encontro. Senti-me ovelha negra em mãos de pastores transmontanos.
Como conheço pouca gente deste espaço, acabei por limitar as conversas às que tive com os meus companheiros do CEVA (acho que até tentavam evitar-me, dadas as brincadeiras do dia anterior) e com os pinocos, rapazes folgazões e apreciadores de aventuras. Devo manifestar a minha admiração (ou, talvez, incompreensão) ao pintudo em SS. Bem que o vi "sofrer", com os bofes de fora, a meio de algumas das subidas terminais...
Visitámos os lugares milenares onde os romanos punham os indígenas a cavar, na procura de um veio dourado. À procura de uma veia saborosa sentaram-se, nos meus braços e pernas, uma data de insectos voadores cujas probóscides furaram delicadamente a minha cútis dando origem a uma data de borbulhas comichentas. Conforme as horas avançavam, notava-se nalguns dos folgazões um ar de desespero. Eu próprio, habituado a gerir o meu ritmo e tempo, começava a estar irritado com os reagrupamentos. Pensava: "é deixá-los aí...". Apesar de tudo, portei-me bem. Obediente, esperei sempre que tal foi solicitado. Preciso de uma dose de reforço anual da vacina para encontros de BTT.
Apesar destas palavras, os trilhos são magníficos e merecem uma segunda visita, certamente mais introspectiva. Ficam algumas imagens. Incapaz de ser registado foi o calor humano dos nossos anfitriões. Bem hajam.
Quando pensamos num Imperador, Rei, Presidente, Primeiro-Ministro, esquecemos que quem manda poderá não ser essa figura mas alguém que, na sombra, o manipula ou o influencia: um Sir Humphrey qualquer ou, numa versão portuguesa, um Godinho qualquer. No CEVA temos presidente mas pensava eu que quem mandava era um tipo alto, de temperamento difícil. Constato que, na sombra, um espírito maquiavélico disfarçado de lince ibérico dá cartas. No final, o tal de temperamento difícil dá a cara e lê as outras cartas, as do IGEOE e do GE. Foi este último quem me enviou uma missiva que virou do avesso os planos do fim de semana e me “forçou” a aturar 200 macacos montados em bicicletas das mais variadas espécies. Pensei: “se não vou, fico a roer-me ao ler os relatos dos acontecimentos que vierem a ter lugar”. É como se o Hergé anunciasse que iria fazer mais um livro e o Tintin perguntasse ao capitão Haddock se queria fazer parte dele ou não. Imagine-se a cara do tipo ao ler a história fantástica que tinha tido lugar e ele perdera. “Tonnerre de tonnerre. Mille millions de mille sabords.”. É claro que, ao convidar o Capitão, o Tintin teria de o aturar...
O arranque teve lugar cerca das nove, na zona deprimida do costume. Talvez por ritual, talvez por hábito, os primeiros metros destinaram-se a salpicar a montada de lama antes de entrar nos caminhos rolantes: estradas, ruas, estradões, ciclovias. As primeiras (muitas) dezenas de quilómetros evidenciaram um Senhor Ribeiro pujante, a imprimir um ritmo forte no andamento. Só mesmo recorrendo a uma vozinha gemente se conseguiu segurar o animal para o convencer a meter calorias em Mondim de Basto. Mesmo aí, ele quase se recusava a ingerir a sopinha. Ao vê-la, no entanto, não resistiu e abarbatou-se ao prato destinado ao Senhor Óscar, entretido a confidenciar ao telemóvel, em altos berros, os seus segredos sexuais com a Princesa. O repasto foi excelente. Além da magnífica sopa com feijão, comeu-se uma deliciosa sandes de fígado de cebolada. Um convite a um ataque de gota a meio da noite.
De Mondim iríamos rodear o saiote da Senhora da Graça e atacar a subida mais à frente, em direcção a Vilar de Ferreiros, novamente a um ritmo infernal que as raposas velhas ou matreiras se recusaram a aceitar. Finalmente entrávamos na terra e chegávamos ao estradão já muito visitado que permite aceder à Senhora da Graça. Aqui dirigimo-nos em sentido oposto, apontando para Macieira e, depois, para Alvadia. Não querendo apontar o dedo a ninguém, apenas informo que houve quem tivesse tido um momento de fraqueza. Numa atitude sem precedentes (pelo menos no CEVA), o feroz guia resolveu poupar o sofredor às agonias do empeno, dando-lhe tempo para se recompor, uma asneira que haveria de pagar caro mais tarde. Retomou-se o caminho e, em Alvadia, foi a minha vez de sugerir o caminho a seguir. Tratava-se de uma alternativa mais fácil de ligação de Alvadia aos estradões das eólicas que passava por Lamas. Sendo eu um bandalho, não consegui segurar um àparte sobre fazer-se, finalmente, um pouco de BTT, para variar. Algum neurónio recôndito tinha armazenado a frase em estado puro após ouvi-la num passeio anterior. O efeito foi o de um ataque de alergia: hipersensibilidade imediata. Poderia dizer que me arrependi, mais a mais porque tinha decidido não tecer qualquer opinião ou crítica ao trajecto traçado. Mentiria: soube-me bem, achei divertido...
A subida ao estradão era, para meu gosto, interessante: tecnicamente simples mas requerendo algum esforço. O timing também foi perfeito: apanhou-me num momento de melhor forma. Subi por ali acima com o velho guia Indy atrás. Lá em cima ainda me perguntou se tinha imprimido um ritmo forte porque gostava da subida ou se queria apenas empenar o colega ET. Menti e disse-lhe que o ritmo tinha sido apenas ditado pelo prazer da subida. Depois de alguns metros de saibro saímos à direita para uma descida mais complicada que já não fazia há anos. Alguém se lhe tinha referido, no passado distante, como rolante, indispondo outro que, obviamente, não concordou com a adjectivação. Apesar da concentração necessária para fugir às pedras, o Indy resolveu iniciar um diálogo comigo, que seguia na frente. Parei para ouvir o que ele dizia e dar-lhe a cortesia de uma resposta. Nem me lembro do tópico. Arranquei e, na primeira pedalada, o pé enrola-se numa erva qualquer. Um pequeno tombar, sem mais consequências que um raspar de canela no corpo da Vanessa, proporcionou um bom momento de satisfação aos meus colegas. Consta que o Senhor Tico terá gravado a graciosa peripécia.
Descemos sem mais percalços até ao vale, junto à aldeia da Gralheira. Era aí que tínhamos decidido separarmo-nos: os que haviam aceite as enxergas em Jales seguiriam enquanto eu e o Senhor Óscar rumaríamos directamente para Vila Pouca onde o conforto hoteleiro nos aguardava. No entanto, a visão do desafio de subir a outra encosta foi demais para mim. Com o Senhor Óscar a dizer que me seguiria aos confins do inferno, encetámos a subida: um caminho saibroso empinado que nos fez bufar. Treinávamos para o PUF-PUF. A subida era daquelas em que ninguém pára apenas porque não quer ser o primeiro a dar parte de fraco. Assim, todos continuam até ao talefe mais próximo, com o coração na boca e a arfar dolorosamente. Junto ao meco, o nosso guia sentou-se para se alimentar. É curioso como um acto tão singelo se pode transformar num instrumento de guerrilha psicológica quando aplicado de forma conveniente em determinados indivíduos. Não falarei mais sobre esse assunto sob pena de vir a sofrer, no futuro, alguma retaliação.
Uma vez no topo, foi só rolar até Campo de Jales onde os organizadores nos aguardavam e nos felicitavam pelo êxito da missão. Após a complicada equação de nos porem em Vila Pouca para um banho e de regresso a Campo de Jales para as libações da noite, a solução da qual devo agradecer ao Senhor Zé, primo do Senhor ET, passou-se à acção mandibular. Em ambiente festivo, fez-se muita filosofia barata e aproveitei para lançar uns chistes, aqui e ali, ao nosso guia, completamente gratuitos, é certo, pois a ele devíamos o sucesso da missão, baseada numa criteriosa (e ao que consta, muito longa) selecção de trajectos que, pela sua lisura, nos permitiram chegar sem qualquer empeno ao destino e, na manhã seguinte, arrancarmos frescos para o PUF10. A partir de certa altura já nem me lembro do teor das conversas mas a imagem seguinte deverá esclarecer o leitor.
25 de Abril de 2010
Tinha dormido lindamente e sentia-me bem. O Senhor Óscar, radiante com as conquistas quilométricas do dia anterior, também se confessava surpreso com a falta de dores musculares. Graças à amabilidade do Senhor Luís, lá nos pusemos atempadamente no planalto de Jales para a tarefa do dia. A visão daquela pequena multidão angustiava-me. Após o arranque, não sabia onde me colocar: na retaguarda? na frente? a meio? O meu problema é a dificuldade de gerir espaço. O espaço sonoro é demasiado intenso, um matraquear de baboseiras, discussões técnicas, grosserias variadas, entremeada de urros descabidos por parte de alguns, por vezes volumosos, convivas. Retiro das conversas que me chegam aos ouvidos que a maior parte dos colegas ciclistas tem uma vida sexual tão activa que me deixa deprimentemente complexado. Claro que há excepções que vão desde discussões geo-estratégicas da economia mundial até à marcação de encontros entre tipos vestidos de lycra. O espaço físico, ocupado com colegas de tão variados rendimentos físicos e capacidades técnicas torna-se-me confuso. Avanço? Não avanço? Aguardo para ser o último? Atiro-me por ali sem juízo? Acho que tentei todas as possibilidades. Devo ter chateado alguns, de vez em quando. Peço desculpa. Apesar de tudo, vi-me, uma ou outra vez, entusiasmado com a acrescida dificuldade técnica de uma subida entupida de ciclistas caminhantes. Apesar de ter perfeita consciência da futilidade da competição desde que se inventou o funcionalismo público, dei por mim a caprichar no meu rendimento nas subidas mais complicadas. É claro que quando, ufano, sorria com a minha conquista de mais um lugar no pódio, passava a voar por mim mais um atleta. Agora, restrospectivamente, ponho-me a pensar nos tipos que, de lenço branco feitos noivas, nos conduziam qual rebanho bem comportado: só me lembro de os ver passar para a frente, descansados, confiantes, oferecendo apoio psicológico aos mais carentes. Alguns, a meio de uma subida em que eu arfava custosamente, atendiam calmamente o telemóvel ou outro aparelho fónico e combinavam pontos de encontro. Senti-me ovelha negra em mãos de pastores transmontanos.
Como conheço pouca gente deste espaço, acabei por limitar as conversas às que tive com os meus companheiros do CEVA (acho que até tentavam evitar-me, dadas as brincadeiras do dia anterior) e com os pinocos, rapazes folgazões e apreciadores de aventuras. Devo manifestar a minha admiração (ou, talvez, incompreensão) ao pintudo em SS. Bem que o vi "sofrer", com os bofes de fora, a meio de algumas das subidas terminais...
Visitámos os lugares milenares onde os romanos punham os indígenas a cavar, na procura de um veio dourado. À procura de uma veia saborosa sentaram-se, nos meus braços e pernas, uma data de insectos voadores cujas probóscides furaram delicadamente a minha cútis dando origem a uma data de borbulhas comichentas. Conforme as horas avançavam, notava-se nalguns dos folgazões um ar de desespero. Eu próprio, habituado a gerir o meu ritmo e tempo, começava a estar irritado com os reagrupamentos. Pensava: "é deixá-los aí...". Apesar de tudo, portei-me bem. Obediente, esperei sempre que tal foi solicitado. Preciso de uma dose de reforço anual da vacina para encontros de BTT.
Apesar destas palavras, os trilhos são magníficos e merecem uma segunda visita, certamente mais introspectiva. Ficam algumas imagens. Incapaz de ser registado foi o calor humano dos nossos anfitriões. Bem hajam.