O desafio de tentar perceber porque gostamos mais de um video que outro é interessante pois envolve um processo de análise mais extenso que, por exemplo, o mesmo exercício face a uma foto que nos pode acertar nalguma zona do sistema límbico e extrair de lá algum prazer freudiano incompreensível. Começarei por confessar a minha predilecção pelo video do fg. Porquê?
1. Simplicidade. Tal como na culinária prefiro uma boa posta de peixe fresquinho com uma pitada de sal e cuidadosamente assado na brasa a um filete dissecado e afogado nalgum molho francês que lhe camufle a antiquidade. Embora admire as aptidões informáticas que permitem a alguns abusar de truques e efeitos especiais, não valorizo o resultado final.
2. Filmagens. Como me parece óbvio, um filme deve conter filmagens. Para ver um álbum fotográfico prefiro ser eu a desfolhá-lo à velocidade que me apraz e não me ser imposto um ritmo pré-definido. Além disso, valorizo a variedade de ângulos de captação da imagem, a sensação de movimento que dão sobretudo se forem conseguidos de maneira simples (planos apanhados onde o artista curva, panning em que se mantém o figurante relativamente inteiro na imagem e centradinho deixando o fundo mexer-se, etc). É óbvio que uma bullet camera dará essa imagem mas é um pouco "demasiado fácil" para meu gosto e, sobretudo, não deveria dominar o video.
3. Montagem. Aqui acho que poderia ter sido mais caprichada no video fg. Um plano que volta atrás para apanhar mais um figurante será de evitar. Depois de fazer algumas brincadeiras creio que um limite máximo de 4-5 segundos para cada plano seria uma boa regra. Será de evitar passar 20 segundos a mostrar o desfile do grupo sem o intercalar com alguma outra coisa. Neste capítulo da montagem bato palmas à sincronia da música e imagem do video do rahziel embora, como já disse, ache exagerado o virtuosismo tecnicista desse video.
4. Humor. É um ponto delicado pois cada um terá o seu sentido de humor e eu estarei longe de poder definir alguma cartilha nessa área. Uma regra de ouro será, no entanto, a utilização dos malhos. Essa instituição será, com certeza, da preferência da quase totalidade dos espectadores. Sempre o foi nos filmes mudos e no circo.
5. Banda sonora. Outro ponto delicado pois todos somos diferentes nos gostos musicais. Pessoalmente acho que uma banda sonora demasiado épica facilmente se tornará ridícula. Por outro lado, uma banda sonora ridícula facilmente tornará o video num épico. Mais que tudo, a banda sonora deverá aumentar a sensação que o filme deverá transmitir: brincadeira, velocidade, tranquilidade...
6. Duração. Por muito entusiasmado que o autor esteja, deverá sempre poupar o espectador da exaustão. Como na arte de bem comer, deverá o comensal abandonar a mesa ainda com algum apetite.
7. Finalmente, regra número 1: não há regras.