Bom, sendo assim, chegou a minha vez de rescaldar este evento e como pedalei muito escrevo proporcionalmente...
No ano passado fiz o SRP 160 pela primeira vez e, por vários motivos oportuna e amplamente debatidos quase até à exaustão em sede própria, não foram de forma alguma alcançadas as minhas expectativas. Este ano ponderei muito bem se voltaria a Serpa mas a verdade é que no mesmo dia em que abriram as inscrições regularizei a minha participação no evento para não pensar mais no assunto. No entanto, confesso e reconheço que em relação a esta prova as minhas referências, à partida, não eram as melhores. E foi com este espírito que me fiz à estrada na sexta-feira em direcção a Serpa e se é verdade que eu estava decidido a fazer novamente a ultra nem que chovessem canivetes não é menos verdade que as picaretas que nesse dia caíram em Sintra abalaram as minhas convicções...
Cheguei a Serpa pelas 18.00 debaixo de forte chuvada e muito agradado fiquei com a organização e eficiência na entrega dos dorsais. Eu, pessoalmente, não faço 500 Km de carro para ter direito a um saco com queijos e enchidos, jerseys, t-shirts ou outros souvenirs. No meu saco existia um dorsal, duas abraçadeiras de plástico, uma senha de refeição e, por mim, desde que a prova se realizasse estava tudo bem. Fui então informado que, devido a uma ribeira que oferecia perigo a quem se atrevesse a atravessá-la, a quilometragem inicialmente prevista seria ligeiramente encurtada. Neste ponto, parece-me que a organização esteve bem e pior seria nada terem feito e serem depois obrigados a pescar alguém em Vila Real de Santo António.
No que respeita ao SRP 80 não me pronuncio, mas sei bem que se, eu por mero acaso, me tivesse proposto fazer essa distância e me viessem dizer que afinal faria apenas metade não ficaria nada contente...
Voltando ao SRP 160: a partida a horas é de louvar e a simpatia nas ZA também. Como nestas coisas quem vai para o mar avia-se em terra eu levei comigo óleo para chuva mas não pude deixar de verificar que andava muita gente a cravar o precioso líquido porque, sendo um bem escasso, esgotou-se rapidamente nas assistências. No que respeita a alimentação deixei tudo por conta da organização e não levei absolutamente nada, à excepção de 1,5 l de água no camel. Passei o dia a água e a pastéis de feijão intercalados com algumas bananas. Penso que poderia haver mais fruta à disposição da rapaziada porque mais do que isto já são mordomias a mais e a malta depois fica mal habituada... Apesar de não gostar, esperava encontrar barras energéticas durante o percurso.
No que respeita às marcações - grande falha em 2009 - nada tenho a apontar. Enganei-me uma única vez por culpa minha e mesmo sem GPS vim dar a SERPA sem problemas. As minas de São Domingos foram para mim, em termos de paisagem edificada, a grande surpresa deste evento: nunca lá tinha estado e as fotos que tinha visto não davam a entender a grandeza do local. Fiquei também muito impressionado com aqueles cursos de água que serpenteavam entre as instalações mineiras e que pareciam cheios de betadine. Imagino que aquela água não esteja contaminada...
Em termos de pedaladas própriamente ditas, que é para isso que aqui estamos, tenho a dizer que nunca na minha vida me tinha atrevido a atravessar - sem desmontar - profundidades de água destas grandezas. Não sei se era o Guadiana ou não mas numa das travessias, logo após uma descida em estradão, só meti as minhas rodas na água porque já lá estavam a passar 3 ou 4 malucos. Caso contrário, se não visse que dava para fazer a travessia não sei qual seria o plano B... A corrente ainda era considerável e parecia que tinha parte da bike e das pernas dentro de uma máquina de lavar. Difícilmente o melhor dos lavadores de corrente teria deixado a minha transmissão a brilhar tanto... Noutras travessias - com a bike levada em ombros - a água chegava-me à cintura e eu nem sou dos mais baixos do pelotão. Da lama e do barro já muito se disse e falou mas nunca mais me vou esquecer daquele charco de barro cinzento, já perto do final, que parecia querer ficar-me com os sapatos. A aproximação a Serpa fez-se a bom ritmo junto com um companheiro de Linda-a-Velha e, já mesmo a queimar a meta, ainda deu direito a sprint com mais um miúdo que ainda trazia reservas para pedalar mais uns quilómetros...
Estive meia-hora à espera para lavar a bike mas acabei por desistir porque a fila pura e simplesmente não andava para a frente. É verdade que uma mangueira é pouco para tirar tanta lama mas o pessoal também não facilita nada. Se a rapaziada se tivesse limitado a fazer uma lavagem sumária - deixando os requintes para trabalho de casa - a coisa teria corrido melhor. Acabei por me fartar e desistir sem lavar a bike. Tomei um belo banho e enchi a barriga antes de regressar a casa. Faltou apenas o café para manter a pestana aberta e encontrar o caminho de volta à serra de Sintra!...
Antes de terminar e para que conste: cada vez mais é para mim mais difícil ver lixo ser atirado por quem segue à minha frente. Desta vez levei com metade de um gel na cara. Qualquer dia faço uma loucura e depois não digam que eu não avisei...
Tudo isto apenas e só para dizer que desta vez valeu bem a pena ter ido a SERPA castigar o corpo...
P.S. - cafealbino: sejas tu quem fores, és capaz de me explicar porque raio foste tu indicar neste rescaldo um link para fotos de um grupo de pessoas que tu não conheces e que nem sequer respeitam ao SRP 2010?... Ficas a saber que essas fotos são do SRP 2009 e que a malta já tem fotos mais recentes. Mais valia teres-te ficado pela abertura deste rescaldo e não teres inventado mais nada. Enfim...