lobo solitario
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O Sábado passado prometia céu azul e temperaturas de congelador. A Protecção Civil aconselhava múltiplas camadas de roupa e abstenção de exercício físico violento. Por isso, vesti o casaquito de lycra por cima da blusa e ala para a Peneda para uma coisa de pequena quilometragem.
As tropas embarcaram cedo com destino a Cabreiro. Apesar de límpido, o dia estava miseravelmente frígido. Tal foi particularmente notório ao abandonar a nave-mãe e montarmos os titânios e carbonos que nos levariam onde o engenho e a força nos permitisse. Cumpriria, na parte que me toca, uma promessa de visitar a Peneda num dia mais fresco. Bom… mais fresco era difícil!
O azimute, em vez de apontar algum ponto cardeal, apontava arrogantemente para cima: dos 150 aos 1300 metros em alguma dúzia de quilómetros. Havia que começar e fizemo-lo lentamente, num ritmo calmo, esperando que houvesse poucas paragens. Após os primeiros 500m de acumulado, saíamos do asfalto para entrar na terra.
O ar gelado descobria entradas insuspeitadas no calçado e dentro de pouco tempo perguntava-me onde, raio, estariam os dedos dos meus pés. Bem tentei imaginar um teclado virtual e ensaiar umas escalas e arpejos com os dedos que faltavam. Debalde. Só lá no alto iria fazer uma pausa para alimento e aquecimento das extremidades congeladas.
Não se pense que foi só sofrimento. A paisagem mais que compensava os pequenos males do corpo com um cocktail para a alma. Ar cristalino, árvores variadas, umas vestidas, outras despidas para o Inverno.
Ausentes estavam os desgraçados eucaliptos, para gáudio meu. A água brincava, qual escultora, fazendo ora estalagmites, ora estalactites, ora alvos lençóis ou estranhas cornucópias de gelo.
Ao fundo, nos vales, os prados em repouso, à espera do Inverno.
A subida revelou-se interessante do ponto de vista humano. O contraste entre a reserva aristocrática do Myrage (uso aqui uma ideia de um outro tipo, que me desculpe) e a loquacidade do Sargento Domingos levou o último a, divertido, comentar, no regresso, esse mesmo contraste: "Como eu ando mais, os outros têm mesmo que me gramar!" "Pois, não te conseguem fugir." respondi-lhe divertido.
Lá no topo, a Titânica estava nervosa, com o gelo a evocar-lhe uma desgraça eminente. Na minha cabeça surgiu uma melodia manhosa. "Celine! então?! por aqui??". À minha frente, o di Caprio olhava apreensivo os icebergs do caminho. "Oh Leonardo! baixa os braços senão não vejo o caminho!".
Havia zonas, normalmente delicadas do ponto de vista técnico que, para além da equação pedra/buraco/rego/degrau, acrescentavam um factor “g” de placas geladas que faziam, ocasionalmente, a traseira falhar a pedalada e desviar-se abruptamente para o lado. Pensava eu que já tinha feito o melhor que esta serra tinha para dar! Guardado está o bocado...
No alto da Peneda prestei, desta vez, mais atenção ao fojo que me indicaram numa crónica recente.
Pelos lados da branda da Aveleira iniciámos o regresso após uma cuidadosa descida de uma calçada que evocou a hipótese de uso de trenós por parte do Máquina de Guerra.
A descida foi mais uma das soberbas descidas da Peneda. Desta feita, a descoberta devo-a ao general Nicolletto que a descreveu em sentido contrário há uns relatos atrás. Fi-la a ritmo mais reduzido pois o frio fazia-me lacrimejar como uma Madalena, reduzindo a já fraca acuidade visual.
Em Sistelo tive, finalmente, a ocasião de ver a casa do Castelo, uma mansão presunçosa que está incrivelmente abandonada. Serão problemas de partilhas?
O regresso, no interior aquecido da nave-mãe, restabeleceu a temperatura interna dos nossos organismos enquanto alguém ficava intrigado pelos meus gostos musicais. O general, esse, ainda foi tomar um extracto rico em cafeína por causa de uma dor de cornos. Terá sido o ritmo lento demais? Eu já só pensava num longo e morno chuveiro.
As tropas embarcaram cedo com destino a Cabreiro. Apesar de límpido, o dia estava miseravelmente frígido. Tal foi particularmente notório ao abandonar a nave-mãe e montarmos os titânios e carbonos que nos levariam onde o engenho e a força nos permitisse. Cumpriria, na parte que me toca, uma promessa de visitar a Peneda num dia mais fresco. Bom… mais fresco era difícil!
O azimute, em vez de apontar algum ponto cardeal, apontava arrogantemente para cima: dos 150 aos 1300 metros em alguma dúzia de quilómetros. Havia que começar e fizemo-lo lentamente, num ritmo calmo, esperando que houvesse poucas paragens. Após os primeiros 500m de acumulado, saíamos do asfalto para entrar na terra.
O ar gelado descobria entradas insuspeitadas no calçado e dentro de pouco tempo perguntava-me onde, raio, estariam os dedos dos meus pés. Bem tentei imaginar um teclado virtual e ensaiar umas escalas e arpejos com os dedos que faltavam. Debalde. Só lá no alto iria fazer uma pausa para alimento e aquecimento das extremidades congeladas.
Não se pense que foi só sofrimento. A paisagem mais que compensava os pequenos males do corpo com um cocktail para a alma. Ar cristalino, árvores variadas, umas vestidas, outras despidas para o Inverno.
Ausentes estavam os desgraçados eucaliptos, para gáudio meu. A água brincava, qual escultora, fazendo ora estalagmites, ora estalactites, ora alvos lençóis ou estranhas cornucópias de gelo.
Ao fundo, nos vales, os prados em repouso, à espera do Inverno.
A subida revelou-se interessante do ponto de vista humano. O contraste entre a reserva aristocrática do Myrage (uso aqui uma ideia de um outro tipo, que me desculpe) e a loquacidade do Sargento Domingos levou o último a, divertido, comentar, no regresso, esse mesmo contraste: "Como eu ando mais, os outros têm mesmo que me gramar!" "Pois, não te conseguem fugir." respondi-lhe divertido.
Lá no topo, a Titânica estava nervosa, com o gelo a evocar-lhe uma desgraça eminente. Na minha cabeça surgiu uma melodia manhosa. "Celine! então?! por aqui??". À minha frente, o di Caprio olhava apreensivo os icebergs do caminho. "Oh Leonardo! baixa os braços senão não vejo o caminho!".
Havia zonas, normalmente delicadas do ponto de vista técnico que, para além da equação pedra/buraco/rego/degrau, acrescentavam um factor “g” de placas geladas que faziam, ocasionalmente, a traseira falhar a pedalada e desviar-se abruptamente para o lado. Pensava eu que já tinha feito o melhor que esta serra tinha para dar! Guardado está o bocado...
No alto da Peneda prestei, desta vez, mais atenção ao fojo que me indicaram numa crónica recente.
Pelos lados da branda da Aveleira iniciámos o regresso após uma cuidadosa descida de uma calçada que evocou a hipótese de uso de trenós por parte do Máquina de Guerra.
A descida foi mais uma das soberbas descidas da Peneda. Desta feita, a descoberta devo-a ao general Nicolletto que a descreveu em sentido contrário há uns relatos atrás. Fi-la a ritmo mais reduzido pois o frio fazia-me lacrimejar como uma Madalena, reduzindo a já fraca acuidade visual.
Em Sistelo tive, finalmente, a ocasião de ver a casa do Castelo, uma mansão presunçosa que está incrivelmente abandonada. Serão problemas de partilhas?
O regresso, no interior aquecido da nave-mãe, restabeleceu a temperatura interna dos nossos organismos enquanto alguém ficava intrigado pelos meus gostos musicais. O general, esse, ainda foi tomar um extracto rico em cafeína por causa de uma dor de cornos. Terá sido o ritmo lento demais? Eu já só pensava num longo e morno chuveiro.