[Crónica] Um dia muito molhado

indy

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Lembram-se daquela campanha da Nike, "Enjoy the weather"? Gostava muito de um dos vídeos onde apareciam três atletas africanos a correr à chuva, seguindo o curso da água no solo. Vá-se lá saber porquê, logo eu que detesto apanhar chuva. Imagino que aquilo devia fazer muito sentido... visto na televisão, com a lareira ao lado.

Já às 9:00 da manhã, com 6º de temperatura e a chover torrencialmente, a minha visão da coisa muda radicalmente. Foram estas as condições que encontrámos este Sábado ao chegar a Salamonde. Infelizmente tenho esta tendência para me dar com gente parva, que não gosta de dar o braço a torcer, e na primeira trégua pluvial lá arrancámos encosta acima.

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Mas tenho de admitir que, mesmo não gostando da tal chuva, esta dá uma beleza especial às cores de Outono

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Tínhamos para este dia planeado revisitar a nossa velha amiga Vaca. Nesta foto é possível ver o Óscar a "trincar" um pedaço (tostado) da dita:

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Com a aproximação da cota dos 1000m o cenário era este:

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Chegados ao final desta escalada fomo-nos abrigando do forte vendaval atrás dum enorme rochedo de granito, enquanto reagrupávamos. Aproveitei para fotografar a nova montada do Óscar enquanto avaliava até que ponto é que aquele aço seria resistente à oxidação.

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Lá arrancámos de novo. A chuva apareceu de novo em força. Agora tínhamos chuva, frio, nevoeiro e vento. Condições óptimas para o desenvolvimento de fungos.

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Se as condições por ali eram aquelas, imagine-se na cota dos 1300m. No Talefe já rapámos frio em dias primaveris pelo que achámos melhor manter-nos "cá por baixo" e seguir em direcção a Zebral pela, apelidada pelo Major, "2ª Circular da Cabreira", um estradão largo em terra que contorna a montanha aquela cota. A paisagem é interessante, com o vale à nossa esquerda e a imponente encosta ascendendo do lado direito. Parei para fotografar a cascata onde, com outras temperaturas, já me refresquei com a família ou amigos.

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Resolvemos então improvisar uns trilhos. A coisa ao princípio até correu bem. Toda a gente conseguiu ter a agilidade ou discernimento suficiente para não escorregar e partir um osso na rocha molhada. Os caminhos eram interessantes...

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...só que não tinham saída!

Gerou-se a discussão: eu queria voltar para trás e procurar uma alternativa, o Major queria avançar pelo meio do mato, o Óscar dizia que havia uma estrada a poucas centenas de metros e o Tico sugeriu que utilizássemos um canal de irrigação. Acabou por vencer esta última proposta, com o meu voto de vencido, que me recusava a mergulhar na água profunda as minhas esferas recentemente lubrificadas.

Mas eles lá foram, "tchec tchec tchec", com os pedais a bater na água, enquanto eu seguia pela beira do canal com a bicicleta às costas, resmungando. Desses acontecimentos já não tirei registo fotográfico pois entretanto a minha velha máquina já sofria do fenómeno de condensação na lente.

Com algum esforço e intuição do Óscar (coisa rara!) lá conseguimos atingir uma estrada. Mesmo assim ainda arriscámos fazer mais uns trilhos mas desta vez sem contratempos. Pelo meio a aparição dum boneco empalado à porta duma casa exibindo o "the finger" a quem passava fez-nos pensar se não seria uma mensagem d'O Criador para o Major (private joke).

Regressámos ao ponto de partida, molhados e gelados, com as minhas pobres articulações a susurrarem-me que, se pretendo sentir o apelo da natureza, é preferível ficar-me pelas obras de Jack London. À tarde o crepitar da lenha na lareira teve outro sabor.

Mais fotos aqui.
 

Vanderbike

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indy said:
Lá arrancámos de novo. A chuva apareceu de novo em força. Agora tínhamos chuva, frio, nevoeiro e vento. Condições óptimas para o desenvolvimento de fungos.

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Há uma ou duas semanas atrás, num dia também propicio há demência, surgiu um género que julguei só sobreviver no regaço da Nora.....

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A meu lado, um ser mal alimentado babava com um olhar rodopiado. Num ápice lançou a unha e colheu o dito fungo...

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Confesso não ser um profundo conhecedor do reino animal, mas pela voracidade aplicada na trinca do fungo chamaria a esta subespécie, de Fungão ou então fungoso..

Consta que no Bico do Corno também os ditos florescem em quantidade , aguardo a invasão por uns quantos ás terras do rio Coura.

Cumprimentos
Vanderbike
 

proque

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citação de indy:

Gerou-se a discussão: eu queria voltar para trás e procurar uma alternativa, o Major queria avançar pelo meio do mato, o Óscar dizia que havia uma estrada a poucas centenas de metros e o Tico sugeriu que utilizássemos um canal de irrigação. Acabou por vencer esta última proposta, com o meu voto de vencido, que me recusava a mergulhar na água profunda as minhas esferas recentemente lubrificadas.

Mas será que não existem cadeias de comando aí pelo Norte?

Cá para mim Major é Major, a menos que haja por aí um posto superior. :D
 

ET

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indy said:
Infelizmente tenho esta tendência para me dar com gente parva, que não gosta de dar o braço a torcer, e na primeira trégua pluvial lá arrancámos encosta acima.

Indy, eles não estarão a pensar o mesmo? :mrgreen:

ET
 

350plus

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indy said:
...e na primeira trégua pluvial lá arrancámos encosta acima.

Estão a ficar moles. :lol: Da última vez que se andou à chuva por terra limianas a arrancada foi mesmo feita sob o pior dilúvio possível, enquanto um Major nos expulsava de sua casa em voz de comando. É como diz o Proque, a cadeia de comando está a perder a sua importância. :)
 

jorgegt

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Estes tipos são mesmo malucos :twisted:..............mas confesso que só assim se consegue grandes passeios :wink:
Agora vamos esperar a intervenção do Major, o Lobo solitário :mrgreen:.............talvez venha um video " qui ça " :D
 

lobo solitario

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Porque é que um tipo, antevendo momentos desagradáveis, não toma a atitude mais razoável?
Não sei. Embora não seja um tipo com fé (religiosa) acho que tenho, de vez em quando, uma espécie de fé…zada. Se calhar o tempo melhora. Se calhar foi só um chuveiro. Já aconteceu…
Por outro lado, há os outros. OS OUTROS. Eles medem-nos as fraquezas e rapidamente atacam se as deixamos à mostra. Tal qual uma matilha indisciplinada, ladramos, rosnamos, soltamos as hormonas e… fazemos meeeerda.
Finalmente, há as limitações na disponibilidade para andar de bicicleta. Esperamos pelo fim-de-semana, fazemos dezenas de quilómetros, sonhamos com o dia que nos espera e, quando chega o momento de arrancar… dúvidas. Tanto investimento… e agora? Agora tem que ser.

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Bonito, não é?
O factor lareira bem pode dar alguma fantasia romântica a estas coisas mas, in loco, não evita que a face gele e nos arrisquemos a paralisar o sétimo par. Algum dia ainda apareço de boca ao lado.

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Chuva sem tréguas. Eu bem chingava o criador e os seus santos e acólitos, mas nada. Ela continuava a cair. Mais à frente, recebi uma mensagem lá de cima e resignei-me. Não iam mudar os planos meteorológicos por muitos impropérios esganiçados que eu lançasse.

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Depois de descermos para altitudes menos agrestes o passeio pareceu entrar nos eixos com temperaturas mais amenas e uns caminhos divertidos.

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Mas as divindades conspiravam e ofereceram-nos mato… e um canal com mais água. É claro que é nestas situações de crise que as personalidades imperfeitas de alguns de nós transbordam: uns não têm juízo e fogem militarmente ao consenso; outros melindram-se e reagem como sabemos, ficando indygnados; outros ficam entusiasmadíssimos com a caricata situação, perdem o Tino, acabando a sangrar e com um pneu furado.

Valha-nos ao menos a lareira, as proteínas animais e o tinto do Douro.
 

Phalhas

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Repito aqui o que escrevi na crónica do Alvão mas acrescentando que sei o que é sair da casa do Lobo Solitário sentido o céu a cair-me em cima, e em pleno Verão.

Prometo voltar mas sem chuva, eheh.


Está tudo doido.

Estes gajos do norte não têm melhoras. Desta não me criaram qualquer sentimento de inveja e ainda bem que moro bem longe, senão lá o meu nick seria recordado mais uma vez: - "és um phalhas".

Sou mesmo um menino.

"eu gosto é do Verão, passear com a prancha na mão..."


Obrigado, um espectáculo.

Abraço e continuem.

Rui
 

Dézinho

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Não ficava nada bem da minha parte se não comentasse aqui, logo eu que gosto tanto de um bom passeio bem relatado, venho dar com este 5 estrelas, mais água, menos água, estão de parabéns :clap:

Obrigado pela partilha, fiquei com o teclado molhado :drool:

Mandem sempre :wink:
 

jmoniz

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Então as proteínas à lareira, foi assim como digamos... uma espécie de cimeira da concertação, o Douro tinto serviu para selar o bélico pacto. eh eh eh
A "Vaca" apesar de mais velha e queimada, continua a fazer das suas.

JM

lobo solitario said:
O factor lareira bem pode dar alguma fantasia romântica a estas coisas mas, in loco, não evita que a face gele e nos arrisquemos a paralisar o sétimo par. Algum dia ainda apareço de boca ao lado.
Valha-nos ao menos a lareira, as proteínas animais e o tinto do Douro.
 
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