[Crónica] Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Cannondalefty

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Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Lobos Solitários Btt era um bom nome para o grupo! Mas não foi para dizer isto k respondi..

Tive a ver as vossas reportagens fotográficas e agradou-me bastante saber k há iniciativa de fazer um passeio, k para mim é o Sonho de qualquer Betetista k se preze e que aguente muitos kilometros a pedalar.. Um percurso k qualquer um k tenha em mente fazer os caminhos de Santiago Internacionais(eu falo pelo Francês), devia fazer aki em PORTUGAL... Enquanto pedalava por montes espanhóis, lembrava-me k no norte de Portugal encontramos igualmente lindas ou ainda mais belas paisagens do que na terra de nuestos hermanos! Ja tive oportunidade de andar por essas zonas e na esperança de o tornar a repetir pergunto: será k me posso juntar a vós neste passeio? a data já está confirmada?

Abraço
 

lobo solitario

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Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

As squaws de certos guerreiros índios prenderam-nos dentro das tendas e estão aferrolhados neste fim de semana próximo. Infelizmente, no fds seguinte, tenho uma doença chamada trabalho. Assim, mantenho um convite aberto para sábado, dia 8, para quem quiser experimentar a Rota. Partida às 8h30 do lugar de Pombal, Turiz, concelho de Vila Verde (coordenadas 41° 37'44.61" N 8° 27'25.97" W no Google Earth em anexo).
 

Myrage

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Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Ainda sou jovem, mas gostava de chegar aos 80 anos a festejar "Rota do Homem".

Bom Passeio.

MY
 

Cannondalefty

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Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

O lobo anda mto calado!
Ainda deve estar amedrontado por causa de uns ditos caçadores de javali..k o ameaçaram!

:lol: :lol: :lol:
 

lobo solitario

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Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

A Rota do Velho, 8 de Novembro de 2008


Quando contei às minhas filhas que tinha marcado um encontro pela internet com gajos de calções de lycra, elas olharam-me reprovadoramente mas nada disseram. Já conhecem o velhote e muitas vezes o avisaram...
O convite tinha falhado junto às tribos inimigas-de-peito, ficando os índios enroscados com as suas squaws. Apenas um jovem militar compareceu na formatura, no chuvoso sábado de manhã de 8 de Novembro. Foi uma decisão estranha pois o bom-senso faz com que nenhum major queira fazer flexões, na parada, junto a um jovem recruta. Perde-se o ascendente que a idade confere ao tipo dos galões que não consegue, obviamente, competir com a frescura da juventude. De facto, esta questão da idade foi rapidamente trazida à conversa quando já rolávamos em direcção ao monte de S. Pedro de Fins. Perguntava-me o meu parceiro: “Então, ainda trabalha?”. Fiz-lhe notar que ainda “nem 50” tinha feito, era ainda cedo para a reforma. Já lá mais para o fim, retomava o tema confessando-se agradavelmente surpreendido por haver gente “com a minha idade” a fazer trajectos grandes como o que nesse dia se fez. É claro que para mim, um tipo com metade da minha idade é alguém como eu era há uns dias atrás. Já para ele, o cota com o dobro da idade é alguém em que ele um dia, num futuro distante, quiçá numa outra galáxia, se transformará... A franqueza do meu parceiro não deixava de me admirar. Comentando eu o cómico da situação de ser alcunhado Major e nem à tropa ter ido, respondia ele que já sabia da história mas que não me achava com cara de militar mas sim de ditador. Condoía-se, inclusivamente, das imaginárias torturas que eu, supostamente, faria aos meus alunos. Heil de mim...

A conversa decorria amena e a companhia revelava-se agradável. O ritmo lento e sem paragens convinha-me naquele dia frio e húmido e com uma centena de Km para fazer. Descemos do monte de S. Pedro de Fins para apanhar a Via Nova e começou, então, a parte mais difícil. Trazia a bicicleta de reserva, com uma suspensão meio desregulada (constatei a posteriori que uma das câmaras pneumáticas estava sem ar) e, aliada a uma azelhice particularmente exuberante nesse dia, fazia-me progredir com dificuldade nos troços mais técnicos da Geira. Quanto às descidas mais pedregosas, desistia imediatamente de as fazer ao ver o brilho maligno do granito molhado a convidar-me para um passeio aos esses. Quanto ao meu colega, trepava e descia qual cabrito endiabrado, na sua “lefty”. Fez-me lembrar outro “cabra manca” que já me tinha acompanhado noutra incursão à Geira.

Na Geira, tivemos um encontro peculiar. Uma vintena de caçadores, espaçados cada 50 metros ao longo do caminho, aguardava a possível investida de um javali acossado pelos mastins. Alguns dos caçadores mandavam-nos passar rapidamente antes que chegasse a besta, outros diziam para seguirmos lentos e vigilantes e, finalmente, outros ordenavam-nos que fôssemos dali embora pois a Geira estava fechada para a montaria ao javali. Todos exibiam munição de calibre impressionante e, alguns, munição militar. Ofendidos com o sentido de posse dos caçadores pela “nossa” Geira, lá avançámos sem danos. Silenciosamente, torci pelo javali.

À frente cruzámo-nos com os cavalos que se julgavam em sua casa e que, lentamente, nos davam passagem.

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sgtdam6.jpg


Desanimado com a minha performance e com o orgulho mirrado, lá prossegui penosamente até chegarmos a Covide onde parámos para almoçar. A paragem ao frio não me fez muito bem, ficando com aquela sensação de pré-contractura nos músculos da perna sempre que fazia mais esforço. Felizmente a subida asfaltada até Brufe é suave e, com uma boa gestão de esforço, lá consegui re-aquecer os músculos de modo a evitar as cãimbras. Ao passar pela barragem de Vilarinho, lá avistei umas árvores conhecidas que combinam as suas cores lusas. Desta feita, a bandeira parecia pintada por um Seurat ou um qualquer outro pointiliste do século XIX.

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Lá no cimo a paisagem era deprimentemente cinza. O meu parceiro enumerava os seus conhecidos nesta área: Cagaréus, Bicigodos, Ferrão... só me pareceu não ir muito com a cara de uns tipos da capital! Contava das suas participações nas mais diversas provas. Aaahh, se eu tivesse lido o CV antes de marcar este passeio... teria escapado de um bom empeno.

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Chegámos a Santo António de Mixões da Serra sem paragens e, sem parar, continuámos. Na crista do monte que nos levaria a Portela do Vade começou a chover. Assim que atingimos o topo da estrada que desce directamente para Pico de Regalados, uma via “escapatória” que tinha tomado com o Indy há uns meses atrás, sugeri ao meu companheiro a possibilidade de a tomar. Li-lhe no olhar uma recriminação surda pelo que logo argumentei, atabalhoadamente: “Mas também não é preciso. Até nem está a chover muito. Podemos perfeitamente continuar...”. Vesti o capote e lá seguimos pelo meio da névoa e da chuva. As descidas tornavam-se castigadoras com a suspensão muito dura. No final, desisti de fazer a trialeira que desce o flanco do monte pois quase não se via dois palmos à frente dos olhos. Lá em baixo, o tempo melhorou pois deixávamos os estratos nebulosos e entrávamos nos vales.

O regresso foi feito por estradões não tendo eu sugerido qualquer outra escapatória de asfalto com medo de qualquer reprimenda. As subidas já se faziam mais sofridamente mas, enquanto eu arfava penosamente por ali acima, o meu companheiro atendia as chamadas da sua namorada. Lá da frente, trazidas pelo vento, ouvia as palavras “amorzinho”, “beijinhos”, “depois ligo que agora estou a descer o monte...”.

Cheguei a casa cansado. Vou mesmo ter que deixar de marcar encontros pela internet com gajos vestidos com calções de lycra...
 

Cannondalefty

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Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

"A Rota do Velho, 8 de Novembro de 2008"

Este Lobo Solitário(..mais vale só k parado..) :wink: com uma vida k não lhe permite entrar em mtos treinos durante a semana, faz ver a mtas ovelhinhas vestidas de lobos k não se torna pretexto para não pedalar por percursos duros, medonhos e com largas kilómetragens ao fim de semana.. Que lhe faz despertar o Ego do seu Espírito Jovem! :clap: :clap:

A volta não seria nada do que eu não estaria à espera, talvez esperasse mais, mas, o tempo e o estado do terreno invocavam algum respeito.. Continuo a salientar k para mim aquela zona é do melhor k temos cá em Portugal..

Resta-me Agradecer esta oportunidade de acompanhar a "fera".. e esperar por repetir a dose! :yeah: :yeah:

"O convite tinha falhado junto às tribos inimigas-de-peito, ficando os índios enroscados com as suas squaws"... E peço ás tribos k não falhem a sua comparência para a próxima, senão o "velho lobo" fica atormentado pelo monólogo durante as subidas! :lol:

Abraço
 

floopi

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Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

O "Major no seu melhor", felizmente que a chuva, o frio e a paragem para o almoço não deram mais que uma simples "sensação de pré-contractura nos músculos da perna"  :roll: e que permitiu ao Major e ao "Lobo disfarçado de cordeiro" (o major tem mesmo de começar a fazer uma leitura prévia dos CV dos estranhos vestidos de lycra com quem se encontra) seguirem a bom porto e em direcção ao conforto dos seus refugidos sem terem de se escapar por uns e outros caminhos menos dignos...

E digo mais, imaginem que o nobre lobo tinha vestido a pele de javali nesse mesmo dia :shock:
Chumbos no c* de uns e outros que se acham donos e senhores daquilo que foi criado para todos, a bela da natureza... :mrgreen:
 

cagaréu

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Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

lobo solitario said:
O meu parceiro enumerava os seus conhecidos nesta área: Cagaréus, Bicigodos, Ferrão...

...o Major a comandar o sargento Domingos conhecido pelos amigos como "Máquina de Guerra"... Grande reportagem :yeah:

Parabens por mais uma aventura
 

lobo solitario

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Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

cagaréu said:
conhecido pelos amigos como "Máquina de Guerra"...

Essa informação já vem tarde demais... The damage is done!
Vou ter que investir mais no intel...
 

indy

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Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Tenho reparado que as últimas incursões do Canis Lupus por estas latitudes têm tido desfechos dolorosos... no orgulho :lol: Estava prestes a apelida-la com um Némesis...

Apesar de me julgar familiarizado com o sentido da expressão, mas não querendo falhar, resolvi tentar confirmar o seu significado. Durante esse processo vi-me confrontado com o seguinte texto:

"Tudo que se eleva acima da sua condição, tanto no bem quanto no mal, expõe-se a represálias dos deuses. Tende, com efeito, a subverter a ordem do mundo, a pôr em perigo o equilibrio universal e, por isso, tem de ser castigado, se se pretende que o universo se mantenha como é."

Interessante. Profético.
A gente vê-se daqui por uns dias... se não chover! :mrgreen:
 

lobo solitario

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Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Bolas. Eis que os guerreiros já exibem as suas pinturas de guerra. Bem me pareceu ter ouvido os tantans quando passei outro dia na A3.
A esta não fugirei eu, que ainda tenho algumas sobras de orgulho para queimar...


PS: encontrei esta versão mais recente do quadro de Alfred Rethel, uma cópia encomendada para oferecer a um tal Pedro Nemésio

nmesisuz4.jpg
 

Ferrão

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Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Mais uma crónica com a dureza habitual mas desta vez com companhia diferente, o Domingos "máquina de guerra", com quem já pedalei algumas vezes e de facto a boa disposição é uma constante, tal como a força nas pernas. Havemos de repetir os 5 empenos lá para Março, que à semelhança da "Rota do Homem" também faz um ano.
Quanto ao Major, continuo sempre à espera destas deliciosas crónicas e quem sabe de um dia o encontrar pelos "rebanhos" da região.
 

luis_bike

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Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Também passei na Geira com mais 11 amigos de Famalicão no passado sábado dia 8 de Novembro.

Quando lá passamos só nos cruzamos com 3 caçadores, mas ainda tinham as armas dentro dos sacos, e ao longe aproximava-se um grupo com uns 15 elementos que nos aconselharam a sairmos dali que ía haver uma caça ao Javali.

Também paramos em covide para comer umas sandes no café da aldeia; eram umas 12:30.
Junto ao café vimos uns parentes do Javali, porcos vietnamitas; por sinal bastante engraçados.

Depois de Covide fomos em direcção ao S. Bento e fizemos a subida por terra (e que subida) para a Santa Isabel, descendo de seguida para a Abadia. Fazendo depois a ligação até à Ponte do Porto, local de onde tinhamos partido.

No nosso caso foram 68km com mais de 1500m de acumulado.

Quanto à Geira, foi a segunda vez que lá passei. Da primeira vez passei com um calor infernal (VIA XXXV – SB08 http://www.forumbtt.net/index.php/topic,40003.0.html) e tinha adorado, mas desta vez com frio e o percurso molhado ainda gostei mais.

LB
 

lobo solitario

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Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Realmente vimos os rodados marcados nalguns pontos e na zona dos caçadores deixámos de os ver. Ainda pensei que vos tivessem desviado. Por pouco, ter-nos-íamos cruzado convosco. Talvez numa próxima incursão.
Rui
 

jorgegt

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Re: Rota do Homem (de Vila Verde a Vilarinho das Furnas)

Estou realmente admirado por descobrir num relato de um passeio do ilustre "Lobo solitário", falarem de Mike Portnoy dos Dream Theatre um grande Baterista que admiro muito, não fosse eu um aprendiz de baterista :mrgreen:
:back2topic:
Realmente devo dizer que quando pedalo ao ritmo de Mike Portnoy, tambem empeno pela certa é muita batida, ou deva dizer, muita pedalada :twisted:
 

lobo solitario

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A mensagem no telemóvel era de alguém que se oferecia para me acompanhar num passeio qualquer. Quem seria? O número era-me desconhecido mas... que se lixe: aceitei o convite e marquei para as 9h00 em Turiz.
Afinal, minutos depois de enviada a resposta vem a clarificação. Tratava-se do nosso segundo, o Máquina de Guerra, aparentemente dono de novo aparelho de telecomunicação. Ofereci-me para o apanhar no Pico de Regalados onde se regalava na companhia da sua namorada.
A manhã estava fria mas, finalmente, seca. A convexão térmica era como uma tampa na fumegante panela de lareiras acesas.

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O plano era pouco ambicioso. Tinha oferecido à Titânia uma corrente nova e não sabia se esta estava a gosto da sua dentadura. Assim, queria montá-la delicadamente em estradas de fraca pendente e de piso liso.
Apontámos para a capela de S. Julião, mesmo à vista. Conforme avançava, verificava a perfeita saúde da minha montada e cedo nos propusémos a subir até mais ousadas altitudes. A paisagem era estimulante e a flora brilhava no seu dourado outonal.
Uma faia exuberante,

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outra faia dourada,

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muito carvalho ainda bem vestido e reflexos púdicos da nudez de plátanos.

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Jorrava água por tudo quanto era caneiro ou bica.

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No alto, depois de passarmos por Santo António de Mixões da Serra, fômos cumprimentados pelas fragas

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e seus habitantes.

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Com a companhia de tão valente soldado, não tive escapatória senão visitar Cutelo e dar-lhe a provar certos rebuçados que outros ainda desconhecem...

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Em boa velocidade seguimos para a barragem de Vilarinho das Furnas e, depois de cruzar o Campo do Gerês, pôs-se a hipótese de um regresso pela Geira. Se tivesse ido só, talvez tivesse optado, pusilânime, por um asfalto indolor. A companhia não estava pelos ajustes e em boa hora acedi a acompanhá-lo pelo caminho que ele (e de certo modo, também eu) considera dos melhores trilhos de BTT. Apesar da muita água, a tracção era boa e adorei o apimentado das rampas, o crocante da pedraria e a velocidade do grande final, já com o aproximar de Amares.

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A companhia foi variada: uma montaria ao javali, uma equipa montada em duas rodas (um deles, distraído, cortou-me a linha de ataque da rampa e fez-me molhar a pata na poça, facilitando o regresso pois não mais evitei as águas) e as donzelas locais.

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Apesar do dia curto, foi o passeio cumprido em tempo diurno, na totalidade dos seus 90 Km. Uma continência agradecida ao meu companheiro.

Este vosso Major.
 

Ferrão

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Mas que grande dupla.
Major e sargento juntos, provavelmente em prospecções para fazer a folha a algum recruta incauto que por aí apareça.
Mais umas bonitas fotos com a respectiva prosa de qualidade a acompanhar.
Gostei.
 

lobo solitario

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Ferrão said:
provavelmente em prospecções para fazer a folha a algum recruta incauto que por aí apareça.

Mas que tipo mais desconfiado. Juro que só pensámos numas francesinhas com os amigos e, talvez, um passeiozito para esmoer...
 
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