Já há por aí alguns tópicos sobre esse assunto, pelo que vou só dar uma pequena achega da minha experiência.
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Primeiro há que pensar no tipo de acabamento que pretendes obter. Se o quadro vai ser pintado não faz sentido decapar quimicamente. Basta mandar decapar mecanicamente com projecção de esferas de vidro, dar primário, regularizar e pintar.
Caso pretendas limpar o quadro para ficar em cru ou envernizado, o processo é muito mais moroso.
No meu caso foi este o procedimento:
- Lavagem completa do quadro. Como se fosse para fotografar! É importante não haver lixo e porcarias nas próximas fases.
- Desmontagem completa. Remoção de rolamentos. Remoção de casquilhos e caixas de direcção caso existam.
- Passagem com escovilhão grosso pela pintura, de forma a facilitar a penetração do decapante. Não é preciso esgravatar muito, basta só deixar a superfície mais arranhada.
- Colocação, por zonas, de uma generosa camada de decapante. 2 a 3mm. Tem de ficar mesmo empastado. O decapante em gel não escorre muito por isso podes colocar à vontade.
- Colocar um plástico por cima da peça que está a ser decapada para retardar a evaporação dos solventes do decapante.
- Aguardar entre alguns minutos até algumas horas até começar a existir alteração da superfície. A tinta começa a ficar enrugada.
- Com uma escova com dentes de plástico duros (há escovas de tapetes assim) remover a camada de tinta já solta. Realizar este trabalho em cima de um plástico que deverá ser deitado fora com as devidas precauções. Caso não tenha saído a tinta toda, voltar a aplicar mais uma camada de decapante e repetir o processo.
- Depois do máximo de tinta removida com o decapante, lavar as peças com água bem quente e sabão para remover todos os restos de decapante. Lavar com especial atenção todos os orifícios, nomeadamente os furos onde aperta a grade de bidão uma vez que o decapante escorre lá para dentro.
- A partir daqui depende do tipo de acabamento pretendido e do estado do metal.
- Tenho algumas pontas de esfregão da Dremel que utilizo para os restos de tinta que não saíram com a decapagem.
- Utilizo depois lixa de pano 220 nos locais em que é necessário mais desbaste e lixa 400 nos restantes por forma a obter um resultado de abrasão regular. A lixa de pano molda-se ao quadro e se utilizares movimentos tipo polir sapatos, vais conseguir um trabalho fluído e mais rápido do que se usares pequenos quadrados de lixa. Os indicadores e os polegares vão sofrer particularmente nesta fase já que são a única forma de pressionar a lixa contra o metal nas zonas mais sinuosas...
- A lixagem deve ser sempre feita com calma e em degraus de grão consistentes. Como o raiado da lixagem é muito similar no alumínio, só irás dar conta que tens riscos demasiado profundos quando chegares à lixa 600 ou 1000. E para corrigir nessa fase, terás de fazer tudo de novo. Assim, mais vale ir com calma.
- A não ser em casos muito pontuais como já referi acima, utilizo apenas lixagem manual. Isto permite dosear melhor a quantidade de material removido e evita erros irreversíveis que, com o entusiasmo da lixagem mecânica, podem existir. Obviamente que isto se aplica a quadros de bicicleta em que utilizar uma lixadora orbital não é nada prático pela quase ausência de área de trabalho para uma ferramenta dessas. Por outro lado utilizar a mão e um esfregão abrasivo, permite acompanhar muito melhor as curvas do quadro e das soldas.
- A duração desta fase de lixagem é muito variável, dependendo do estado do quadro e do efeito final pretendido, mas normalmente é um processo que consome longas horas para que fique um trabalho bem feito. Na presença de pancadas significativas na superfície, deve-se avaliar se o tempo gasto e o material que é necessário remover para sua regularização são exequíveis. Pode ser desesperante perder 1 hora a tentar "apagar" uma depressão com 1mm às custas de remover material a toda a volta...
- Depois de ter tudo regularizado a grão 400, vai se subindo na escala: 600, 800 e finalmente 1000. A partir do 500 já convém ser lixa de água pela facilidade com que desliza pela superfície e porque a pasta que entretanto se forma, ajuda o efeito de abrasão. O surgimento de resultados ajuda a amenizar a seca do trabalho.
- Se pretenderes um verdadeiro polido podes ir até ao 1200 em lixa e depois usar boinas de pano para polir o alumínio. O efeito é espectacular, mas a duração desse aspecto espelhado é limitada e o trabalho que dá para atingir o espelhado perfeito é gigantesco.
- Se quiseres envernizar, o quadro terá de ir para o pintor de preferência no mesmo dia em que termines o teu trabalho para que não comece a oxidar e deite por terra todo o esforço.
Isto é basicamente o que fiz. Haverá certamente outras formas e até materiais mais específicos para determinadas tarefas. No entanto a minha ideia foi gastar o mínimo de dinheiro possível, capitalizando sempre que possível a minha mão de obra, que é de borla.
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Durante o manuseamento do decapante é essencial a utilização de umas
luvas de borracha e
óculos de protecção, minimamente resistentes. As luvas de limpeza do Pingo Doce, servem perfeitamente e são baratas. O decapante, quando em contacto com a pele causa queimaduras químicas que não se sentem até ser tarde demais, ou seja, até já te faltar um pedaço de pele... Quanto aos óculos, um modelo razoável dura anos e pode salvar um dos nossos sentidos mais preciosos!
Deve existir sempre um balde com água por perto para lavar de imediato qualquer salpico que possa saltar para a pele durante a escovagem.
Na lixagem é
imperativo a utilização de
óculos e de um
respirador. Não é uma máscara daquelas dos chineses nem das hospitalares nem mesmo uma máscara "das boas" com elásticos. Um respirador impede, de forma muito mais eficaz, a inalação de partículas de alumínio que são altamente prejudiciais à saúde.
Em termos de material de trabalho: Kit de polimento por 10 euros, decapante a partir de 8 euros, acessórios dremel por 2 ou 3 euros, toneladas de lixas de pano por 70 centimos a folha.... A infindável paciência que é preciso para este tipo de trabalho: não se compra.
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As fotografias vão aparecendo espalhadas em várias fases do processo e a maior parte já coloquei nos primeiros posts. Mas não tenho de todas as fases da lixagem. As evoluções são tão graduais e subtis que só há uma diferença significativa e realmente visível entre extremos distantes do processo. Pelo meio tudo é alumínio riscado!
E pronto, já vai longo este desvio ao tema principal do tópico...