Crónicas de um Bravo do Pelotão por Terras Helvéticas

AFP70

Active Member
Boa tarde ao Fórum,

Eis o “preview” da volta realizada ontem.

Há quase dois anos, mais precisamente em 10.10.2016 (ver post 629 da página 32 deste tópico) tentei fazer esta volta, mas tive de abortar devido à súbita mudança do tempo.

Na altura tal como hoje arranquei de “Martigny” a 460 mts e pedalei até “Fully” e daí ao invés de pedalar pela estrada (não há outra alternativa) até ao restaurante de “Chiboz” a 1’330 mts em que temos de vencer imensas paredes com 20 a 30%; optei por apanhar boleia de uma pequena carrinha de 9 lugares (nos fins de semana de Agosto e se houver candidatos (reserva obrigatória)).

Como a carrinha não foi feita parar transportar “biclas” lá tive que convencer o motorista a deixar-me desmontar a roda da frente e tentar encaixar a “bicla” atrás da última fiada de bancos.

Esta foi a primeira vez que amputei a minha fiel amiga :), esta não se queixou mas a minha maior preocupação é que durante a viagem de 30 minutos por estradas sinuosas e mortalmente estreitas, a manete dos travões por uma qualquer razão se pudesse apertar (pastilhas coladas); vai daí toca a meter algo entre as pastilhas, na falta de algo melhor meti uma embalagem vazia de uma barra energética que tinha comido antes ;).

Com esta brincadeira (uso da carrinha), poupei 14 kms de sacrifício e sofrimento durante no mínimo duas horas.

Dados da volta:

- Total kms: 35,5 kms
- Altit. Mínima: 460 mts
- Altit. Máxima: 2’145 mts
- Acumulado de subida: 960 mts, sendo que 880 mts foram conseguidos em apenas 9 kms :)
- Acumulado de descida: 1’795 mts, conseguidos em +/- 17 kms
- Temperatura: entre os 35 e 40°C ;)

Algumas fotos para abertura de apetite.

QLbJ7WF.jpg


MsCZtNM.jpg


H80BiIS.jpg


bGCQ5f5.jpg


D5w5ukH.jpg


i2yMNn9.jpg


nX2JnET.jpg


fYwStxC.jpg


v1ta1Id.jpg


DleixDQ.jpg


ZSw1ImO.jpg


ACGih4y.jpg


wRhgPFe.jpg


tw0CN36.jpg


707RkyB.jpg


WG95U1I.jpg


1exTWGj.jpg


URoyyM5.jpg


uV0CmrV.jpg


yilT7oG.jpg


Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…
 

AFP70

Active Member
No Gerês sentimo-nos apegados a esta terra que chamamos de Pátria…

Mais uma ida a Portugal e mais uma volta organizada pelo amigo Pereira.

Passaram oito anos desde a última vez em que fizemos esta volta. Na altura eramos bastantes, hoje o grupo “Bravos do Pelotão” ficou reduzido a apenas dois elementos que ainda teimam em fazer perdurar a tradição, os outros, bem, vão acompanhado via os “réseaux sociaux” :).

O Pereira na sua incansável vontade de juntar tropas para uma boa volta seguida de um bom repasto, lá conseguiu convencer o Nicolau, o Barros, o Pedro, o Fernando e o Marcelo a participarem. Outros houve ainda que não tendo podido participar vão roer-se de “inbeja” quando virem as fotos ;).

Do meu lado e porque por diversas vezes tentamos agendar uma saída sem êxito, desta vez sempre consegui cruzar agendas e juntar ao grupo o David (mais conhecido aqui no FBTT por davidream) que por seu lado trouxe um grande seu amigo, o Zé.

Dados da volta:

- Total kms: 33,5 kms
- Altit. Mínima: 146 mts
- Altit. Máxima: 826 mts
- Acumulado de subida: 1’350 mts
- Temperatura: entre os 30° e 35°C

A alvorada para mim deu-se pelas 05h45, uma vez que pelas 06h30 tinha o “capitão Pereira” a vir recolher-me no local onde me encontrava a passar uma semanita de férias. Daí toca a rolar até Braga onde as restantes tropas se juntariam para partirmos de seguida para as Pontes do Rio Caldo no Gerês onde a volta arrancaria pelas 08h30.

À hora marcada arrancamos a volta, esta malta não brinca em serviço, mesmo os dois amigos (David e Zé) que se deslocaram desde Amarante :).

O dia prometia temperaturas bem acima dos 30°C, as fotos falarão por si.

Muito haveria para contar acerca das emoções que perpassaram pela minha mente ao longo de toda a volta mas para não vos maçar (sei que literariamente posso ser por vezes bastante maçador ;)), preferi brindar-vos com este pequeno texto do Miguel Esteves Cardoso, que resume um pouco aquilo que sinto acerca da amizade e destes meus amigos do BTT.

“Amigos para Sempre

Os amigos cada vez mais se vêem menos. Parece que era só quando éramos novos, trabalhávamos e bebíamos juntos que nos víamos as vezes que queríamos, sempre diariamente. E, no maior luxo de todos, há muito perdido: porque não tínhamos mais nada para fazer.

Nesta semana, tenho almoçado com amigos meus grandes, que, pela primeira vez nas nossas vidas, não vejo há muitos anos. Cada um começa a falar comigo como se não tivéssemos passado um único dia sem nos vermos.

Nada falha. Tudo dispara como se nos estivera – e está – na massa do sangue: a excitação de contar coisas e partilhar ninharias; as risotas por piadas de há muito repetidas; as promessas de esperanças que estão há que décadas por realizar.

Há grandes amigos que tenho a sorte de ter que insistem na importância da Presença com letra grande. Até agora nunca concordei, achando que a saudade faz pouco do tempo e que o coração é mais sensível à lembrança do que à repetição. Enganei-me. O melhor que os amigos e as amigas têm a fazer é verem-se cada vez que podem.

É verdade que, mesmo tendo passado dez anos, sente-se o prazer inencontrável de reencontrar quem se pensava nunca mais encontrar. O tempo não passa pela amizade. Mas a amizade passa pelo tempo. É preciso segurá-la enquanto ela há.

Somos amigos para sempre mas entre o dia de ficarmos amigos e o dia de morrermos vai uma distância tão grande como a vida.”

Eis parte dos registos do dia 20 fotos + 20 fotos no post seguinte.

Tw5F2rG.jpg


Ikwzq1H.jpg


fN0w1Mu.jpg


EkmUxUu.jpg


QKlFPvk.jpg


zBFoLJY.jpg


ShZZZcY.jpg


P9dbDvn.jpg


HhIi0aL.jpg


k89R1QP.jpg


AulepdK.jpg


K4SGuWV.jpg


djIc3df.jpg


Yms39MW.jpg


QvOXgXK.jpg


viQQ2c6.jpg


NGNg30T.jpg


R8NAwQk.jpg


5V3suL0.jpg


1iqeolx.jpg


Continua a seguir no post 823...
 

AFP70

Active Member
No Gerês sentimo-nos apegados a esta terra que chamos Pátria…

Continuação do post 822…

C8Y5aZN.jpg


MpZVMpb.jpg


2iuxHV9.jpg


XijahUb.jpg


dLkMadT.jpg


jorG9AM.jpg


hSvLGqm.jpg


F2oCcgi.jpg


bcwBJjl.jpg


Zpz0bAR.jpg


HsylUJU.jpg


hCGS4hJ.jpg


8K6Ta4n.jpg


rq7QzGd.jpg


6qDTS6v.jpg


riHpDIh.jpg


Mucuw4P.jpg


2OhkvVn.jpg


mOja4aF.jpg


y4wWInB.jpg


Não poderia acabar este relato sem publicamente agradecer aos meus companheiros o facto de terem esbrizado um pouco do seu tempo, mas amigos a vida é assim mesmo e por norma esta paga-nos sempre a dobrar :).

“Nicolau, continua assim, a mostrar-nos como se faz e qual o caminho a seguir!

Barros, não mudaste, sempre o mesmo com essa simplicidade que te conhecemos!

Pedro, não és dos mais novos, mas tens a maturidade desta malta!

Fernando, homem de poucas palavras e que calado diz quase tudo!

Marcelo, Gerês sob pr’a caral.., espero que tenhas adorado e que esta seja apenas a primeira de muitas!

Zé (de Amarante), não mudes, gostei muito das nossas trocas vivenciais!

David, que nunca te faltem as “Duracell” e a vontade!

Pereira, obrigado pela organização, dedicação, sem ti, não teria tido o mesmo sabor!”

“En guise de conclusion”, deixo-vos o link para o pequeno filme que o David teve a gentileza de fazer e partilhar
https://youtu.be/MlOuYBbqWpY

Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…

P.S: Peço desculpa pela última foto, mas não consegui resistir :)
 

davidream

Active Member
bOAS!
De facto a última foto tem algo de estranho! Umas Asas...:eek: serão do "Pica no chão" que tinhamos á mesa!? :D
Alexandre já trocamos impressões sobre a maravilha que é partilhar este nosso "vicio" com tão boas gentes,
aqui no fórum a ideia tb é um pouco a mesma.Obrigado pela crónica,pela amizade e keep the good work! ;)

Cumps
 

AFP70

Active Member
@moshinho,
Obrigado por seguir e comentar.

@davidream,
De regresso às Terras Helvéticas, confesso que desta vez custou-me muito mais a viagem, talvez sinal de que realmente passei umas boas férias em companhia de muita boa gente :).

Como diria Confucio “Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade”.

Desejo apenas que a cada viagem futura esta sensação de “mal-estar” não aumente, caso contrário terei de cortar com algumas relações ;) isto se desejar continuar por cá com a mesma vontade :).

Aquele abraço,
 

AFP70

Active Member
@mack1,
Obrigado por seguir e comentar.
Sim, o davidream é cá uma “peça”, para além que dois dias antes o homem tinha andado todo o dia de bicla :)
 

davidream

Active Member
bOAS!
Estando de Férias e com a oportunidade de andar de bike com amigos, isto de difícil e complicado não tem nada ;)
Também partilho do sentimento de nostalgia e ansiedade, pois as Férias acabaram e o trabalho vai começar a 1000%
Mas tem que ser,temos que trabalhar para ganhar dinheiro e o poder gastar nas Bicicletas...se é que em entendem :D
Que venha uma nova temporada/uma nova estação com muitas mais coisas para fazer e contar! e novas crónicas para podermos continuar a disfrutar deste nosso cantinho de amena cavaqueira! :p
Cumps!!
 

AFP70

Active Member
Quem pouco dormir regressa a “Mauvoisin”…

Em Agosto de 2017 aconteceu uma situação caricata em relação a esta volta, isto é, apesar de a ter planeado durante a semana somente quando cheguei ao destino e após ter efetuado cerca de 500 mts é que me apercebi que estava a repetir uma volta efetuada um ano antes.

Na altura pensei para comigo que ou estava a ficar senil fruto do avançar da idade ou em fase inicial de Alzheimer, julgo que ao fim de quase 5 anos a dormir apenas 4 a 6 horas por noite é isto que acontece. Desde essa altura que aqui o artista ainda não conseguiu reduzir o ritmo , prenuncio de uma morte anunciada.

Claro está que quando uma pessoa efetua quase 2h30 de viagem para cada lado e isto acontece, a vontade de pedalar vai logo por água abaixo, mas como em tudo na vida temos sempre de ver o lado bom das coisas .

Após “cogitar” um bom bocado constatei que nem tudo estava perdido, tal como na própria vida, pelo que decidi que desta vez iria efetuar a volta em sentido contrário ou seja começaria pelo fim e iria até à “Cabane de Chanrion” a 2’470 mts onde já fui muito feliz. Sabia de antemão que não iria ser pêra doce mas encarei esse sofrimento como que uma forma de me redimir por esta imperdoável falha.

Como já vem sendo costume, deixo-vos este pequeno texto do Miguel Esteves Cardoso, para todos aqueles que como eu ainda acreditam nestas coisas ;).

“Um Segredo de um Casamento Feliz

Desde que a Maria João e eu fizemos dez anos de casados que estou para escrever sobre o casamento. Depois caí na asneira de ler uns livros profissionais sobre o casamento e percebi que eu não percebo nada sobre o casamento.

Confesso que a minha ambição era a mais louca de todas: revelar os segredos de um casamento feliz. Tendo descoberto que são desaconselháveis os conselhos que ia dar, sou forçado a avisar que, quase de certeza, só funcionam no nosso casamento.

Mas vou dá-los à mesma, porque nunca se sabe e porque todos nós somos muito mais parecidos do que gostamos de pensar.

O casamento feliz não é nem um contrato nem uma relação. Relações temos nós com toda a gente. É uma criação. É criado por duas pessoas que se amam.

O nosso casamento é um filho. É um filho inteiramente dependente de nós. Se nós nos separarmos, ele morre. Mas não deixa de ser uma terceira entidade.

Quando esse filho é amado por ambos os casados - que cuidam dele como se cuida de um filho que vai crescendo -, o casamento é feliz. Não basta que os casados se amem um ao outro. Têm também de amar o casamento que criaram.

O nosso casamento é uma cultura secreta de hábitos, métodos e sistemas de comunicação. Todos foram criados do zero, a partir do material do eu e do tu originais.

Foram concordados, são desenvolvidos, são revistos, são alterados, esquecidos e discutidos. Mas um casamento feliz com dez anos, tal como um filho de dez anos, tem uma personalidade mais rica e mais bem sustentada, expressa e divertida do que um bebé com um ano de idade.

Eu só vivo desta maneira - que é o nosso casamento - vivendo com a Maria João, da maneira como estamos um com o outro, casados. Nada é exportável. Não há bocados do nosso casamento que eu possa levar comigo, caso ele acabe.

O casamento é um filho carente que dá mais prazer do que trabalho. Dá-se de comer ao bebé mas, felizmente, o organismo do bebé é que faz o trabalho dificílimo, embora automático, de converter essa comida em saúde e crescimento.

Também o casamento precisa de ser alimentado mas faz sozinho o aproveitamento do que lhe damos. Às vezes adoece e tem de ser tratado com cuidados especiais. Às vezes os casamentos têm de ir às urgências. Mas quanto mais crescem, menos emergências há e melhor sabemos lidar com elas.

Se calhar, os casais apaixonados que têm filhos também ganhariam em pensar no primeiro filho que têm como sendo o segundo. O filho mais velho é o casamento deles. É irmão mais velho do que nasce e ajuda a tratar dele. O bebé idealmente é amado e cuidado pela mãe, pelo pai e pelo casamento feliz dos pais.

Se o primeiro filho que nasce é considerado o primeiro, pode apagar o casamento ou substitui-lo. Os pais jovens - os homens e as mulheres - têm de tomar conta de ambos os filhos. Se a mãe está a tratar do filho em carne e osso, o pai, em vez de queixar-se da falta de atenção, deve tratar do mais velho: do casamento deles, mantendo-o romântico e atencioso.

Ao contrário dos outros filhos, o primeiro nunca sai de casa, está sempre lá. Vale a pena tratar dele. Em contrapartida, ao contrário dos outros filhos, desaparece para sempre com a maior das facilidades e as mais pequenas desatenções. O casamento feliz faz parte da família e faz bem a todos os que também fazem parte dela.

Os livros que li dão a ideia de que os casamentos felizes dão muito trabalho. Mas se dão muito trabalho como é que podem ser felizes? Os livros que li vêem o casamento como uma relação entre duas pessoas em que ambas transigem e transacionam para continuarem juntas sem serem infelizes. Que grande chatice!

Quando vemos o trabalho que os filhos pequenos dão aos pais, parece-nos muito e mal pago, porque não estamos a receber nada em troca. Só vemos a despesa: o miúdo aos berros e a mãe aflita, a desfazer-se em mimos.

É a mesma coisa com os casamentos felizes. Os pais felizes reconhecem o trabalho que os filhos dão mas, regra geral, acham que vale a pena. Isto é, que ficaram a ganhar, por muito que tenham perdido. O que recebem do filho compensa o que lhe deram. E mais: também pensam que fizeram bem ao filho. Sacrificam-se mas sentem-se recompensados. Num casamento feliz, cada um pensa que tem mais a perder do que o outro, caso o casamento desapareça. Sente que, se isso acontecer, fica sem nada. É do amor. Só perdeu o casamento deles, que eles criaram, mas sente que perdeu tudo: ela, o casamento deles e ele próprio, por já não se reconhecer sozinho, por já não saber quem é - ou querer estar com essa pessoa que ele é.

Se o casamento for pensado e vivido como uma troca vantajosa - tu dás-me isto e eu dou-te aquilo e ambos ficamos melhores do que se estivéssemos sozinhos -, até pode ser feliz, mas não é um casamento de amor.

Quando se ama, não se consegue pensar assim. E agora vem a parte em que se percebe que estes conselhos de nada valem - porque quando se ama e se é amado, é fácil ser-se feliz. É uma sorte estar-se casado com a pessoa que se ama, mesmo que ela não nos ame.

(continua no post seguinte (texto demasiadamente longo :))

Eis parte dos registos do dia 20 fotos + 20 fotos no post seguinte (restantes encontram-se na página Bravos do Pelotão, ver crónica Nº091).

DCHPzRT.jpg


KZ95igr.jpg


rdXRvar.jpg


6eWZ5KQ.jpg


9Ykqi1G.jpg


9pXypzL.jpg


gv3AHO4.jpg


BlLMhAu.jpg


TvlzEHx.jpg


QnJtUOi.jpg


lqlhtWI.jpg


xUUWM26.jpg


F7QWvtu.jpg


62RHwX6.jpg


Zs0O0aC.jpg


vQuHcZb.jpg


PEWgvDF.jpg


buj0HsR.jpg


O03pj0I.jpg


Jhp2d4F.jpg


Continua a seguir no post 831...
 

AFP70

Active Member
Quem pouco dormir regressa a “Mauvoisin”…

Continuação do post 830…

Ouvir um casado feliz a falar dos segredos de um casamento feliz é como ouvir um bilionário a explicar como é que se deve tomar conta de uma frota de aviões particulares - quantos e quais se devem comprar e quais as garrafas que se deve ter no bar, para agradar aos convidados.

Dirijo-me então às únicas pessoas que poderão aproveitar os meus conselhos: homens apaixonados pelas mulheres com quem estão casados.

E às mulheres apaixonadas pelos homens com quem estão casadas? Não tenho nada a dizer. Até porque a minha mulher continua a ser um mistério para mim. É um mistério que adoro, mas constitui uma ignorância especulativa quase total.

Assim chego ao primeiro conselho: os homens são homens e as mulheres são mulheres. A mulher pode ser muito amiga, mas não é um gajo. O marido pode ser muito amigo, mas não é uma amiga.

Nos livros profissionais, dizem que a única grande diferença entre homens e mulheres é a maneira como "lidam com o conflito": os homens evitam mais do que as mulheres. Fogem. Recolhem-se, preferem ficar calados.

Por acaso é verdade. Os livros podem ser da treta mas os homens são mais fugidios.

Em vez de lutar contra isso, o marido deve ceder a essa cobardia e recolher-se sempre que a discussão der para o torto. Não pode ser é de repente. Tem de discutir (dizê-las e ouvi-las) um bocadinho antes de fugir.

Não pode é sair de casa ou ir ter com outra pessoa. Deve ficar sozinho, calado, a fumegar e a sofrer. Ele prende-se ali para não dizer coisas más.

As más coisas ditas não se podem desdizer. Ficam ditas. São inesquecíveis. Ou, pior ainda, de se repetirem tanto, banalizam-se. Perdem força e, com essa força, perde-se muito mais.

As zangas passam porque são substituídas pela saudade. No momento da zanga, a solidão protege-nos de nós mesmos e das nossas mulheres. Mas pouco - ou muito - depois, a saudade e a solidão tornam-se insuportáveis e zangamo-nos com a própria zanga. Dantes estávamos apenas magoados. Agora continuamos magoados mas também estamos um bocadinho arrependidos e esperamos que ela também esteja um bocadinho.

Nunca podemos esconder os nossos sentimentos mas podemos esconder-nos até poder mostrá-los com gentileza e mágoa que queira mimo e não proclamação.

Consiste este segredo em esperar que o nosso amor por ela nos puxe e nos conduza. A tempestade passa, fica o orgulho mas, mesmo com o orgulho, lá aparece a saudade e a vontade de estar com ela e, sobretudo, empurrador, o tamanho do amor que lhe temos comparado com as dimensões tacanhas daquela raivinha ou mágoa. Ou comparando o que ganhamos em permanecer ali sozinhos com o que perdemos por não estar com ela.

Mas não se pode condescender ou disfarçar. Para haver respeito, temos de nos fazer respeitar. Tem de ficar tudo dito, exprimido com o devido amuo de parte a parte, até se tornar na conversa abençoada acerca de quem é que gosta menos do outro. Há conflitos irresolúveis que chegam para ginasticar qualquer casal apaixonado sem ter de inventar outros. Assim como o primeiro dever do médico é não fazer mal ao doente, o primeiro cuidado de um casamento feliz é não inventar e acrescentar conflitos desnecessários.

No dia-a-dia, é preciso haver arenas designadas onde possamos marrar uns com os outros à vontade. No nosso caso, é a cozinha. Discutimos cada garfo, cada pitada de sal, cada lugar no frigorífico com desabrida selvajaria.

Carregamos a cozinha de significados substituídos - violentos mas saudáveis e, com um bocadinho de boa vontade, irreconhecíveis. Não sabemos o que representam as cores dos pratos nas discussões que desencadeiam. Alguma coisa má - competitiva, agressiva - há-de ser. Poderíamos saber, se nos déssemos ao trabalho, mas preferimos assim.

A cozinha está encarregada de representar os nossos conflitos profundos, permanentes e, se calhar, irresolúveis. Não interessa. Ela fornece-nos uma solução superficial e temporária - mas altamente satisfatória e renovável. Passando a porta da cozinha para irmos jantar, é como se o diabo tivesse ficado lá dentro.

Outro coliseu de carnificina autorizada, que mesmo os casais que não podem um com o outro têm prazer em frequentar, é o automóvel. Aí representamos, através da comodidade dos mapas e das estradas mesmo ali aos nossos pés, as nossas brigas primais acerca das nossas autonomias, direções e autoridades para tomar decisões que nos afetam aos dois, blá blá blá.

Vendo bem, os casamentos felizes são muito mais dramáticos, violentos, divertidos e surpreendentes do que os infelizes. Nos casamentos infelizes é que pode haver, mantidas inteligentemente as distâncias, paz e sossego no lar.”

ahWACnl.jpg


Nxj4Kaj.jpg


Hh0VsoJ.jpg


HnwpZp9.jpg


2wr3T2L.jpg


6Hs7V4X.jpg


LdY4gFx.jpg


kNwhwVm.jpg


h4owyRp.jpg


WzxoCqf.jpg


havFSB0.jpg


7jeNKAq.jpg


rqtg0MZ.jpg


A7unWPZ.jpg


DSmUtHZ.jpg


8aVQkz7.jpg


aOyUNU8.jpg


IrUsmGl.jpg


xJLIwUw.jpg


iFCKugN.jpg


Pois é companheiros (as), quando cheguei aos 2’360 mts, tive de resignar-me em abandonar, isto porque como constatam na fotografia 26, o trilho deixa de ser ciclável e a partir daí é sempre com ela à mão durante pelo menos 6 kms até atingir a “Cabane de Chanrion”, sem que antes tenhamos de subir até aos 2’630 mts. Foi nessa altura também que encontrei um grupo de caminheiros que acabou por me confirmar aquilo que acabei de dizer.

Dados da volta:

- Total distância – 41,00 Kms
- Altitude mínima – 829 mts
- Altitude máxima – 2’360 mts
- Acumulado subida – 871 mts (em somente 5 kms :))
- Acumulado descida – 1’658 mts

Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…
 

davidream

Active Member
bOAS!
Alex paisagens deslumbrantes como sempre, um pouco de sapiência também ;) folgo em ver que está tudo bem ctg!! Obrigado pela partilha :)
 

AFP70

Active Member
@davidream, ignite, moshinho,

Obrigado pelos vossos comentários.

Confesso que sinto-me lisonjeado por este tópico que dentro em breve fará 8 anos ainda continuar a motivar tantas paixões e quiça “outros tantos ódios ou dores de cotovelo” :)

Para que não vos falte nada e para que continuem com a mesma motivação em visitar, posso afirmar que ainda tenho matéria à data de hoje, para 11 crónicas e 12 reportagens sobre outras saídas.

Como devem ter compreendido este ano tem sido complicado para mim postar tão amiude como antigamente, digamos que esta falta de tempo é o revês de uma promoção a que fui submetido ;)

Enquanto “estes senhores do Forum BTT” não encerrarem o mesmo, continuarei a postar neste tópico. Honestamente não tenho paciência, nem disponibilidade de tempo para andar a postar por outras paragens :)

Bem sei que este espaço está moribundo, mas como todo moribundo que se preze, enquanto houver tipos como eu e outros da mesma estirpe, o espaço não morre, aliás os cliks nest tópico assim o demonstram ;)

Ocasiões e motivos para deixar de publicar não faltaram ao longo destes anos, aliás no decorrer deste ano até tinha defenido para mim mesmo uma data para anunciar o fim deste tópico, mas quem me conhece sabe que não sou um “gajo” que desiste assim tão facilemente.

Como se diz por aqui “ je suis un dur à cuire” e cheguei à conclusão que gosto de escrever, que é o trabalho da pena e esta vontade em partilhar que me faz continuar.

Lamento mas os users deste tópico ainda vão ter de me aturar por um bom par de anos :)

Cumprimentos e sobretudo divirtam-se,
Alexandre Pereira
 

AFP70

Active Member
Sempre que comer um pão pita lembrar-me-ei da “Origem do Mundo”…

Por alturas do meu aniversário no ano passado e tendo ouvido falar do parque “Accrobranche de Ornans”, decidi lá dar um salto na companhia das família.

Habituado a andar nas alturas e precipícios nas montanhas, andar aqui no cimo das árvores não é bem a mesma coisa, digamos que temos de ter boas noções de equilíbrio e não nos deixarmos impressionar muito, mesmo que por vezes, bastantes mesmo, tenhamos a sensação que os cabos de aço irão acabar por nos atirar no vazio. Por vezes em alguns obstáculos aquilo treme por todos os lados.

A minha primeira experiência neste tipo de parques foi nas Terras da Maria da Fonte, como não podia deixar de ser, mais propriamente na DiverLanhoso. Na altura achei o máximo, efetuei o percurso “soi-disant” mais difícil que eles tinham, mas agora compreendo que estava a milhas da realidade :).

Foi também em “Ornans” que fiquei a saber que o pintor Gustave Courbet era originário desta vila. Tendo visitado o museu que foi erigido na sua casa natal, fiquei a conhecer mais alguns dos seus quadros e da sua história, e que história companheiros (as).

Foi aqui que vi a sua “master piece” pintada a pedido do diplomata turco Khalil-Bey e que tanta tinta fez correr, como quando em 1878 o crítico de arte Maxime du Camp escreveu o seguinte:

“Pour plaire à un très riche musulman qui payait ses propres fantaisies au poids de l’or et qui, pendant quelques temps, eut à Paris une certaine notoriété due à ses prodigalités, Courbet, ce même homme dont l’intention pompeusement avouée était de renouveler la peinture française, fit un portrait de femme bien difficile à décrire. Dans le cabinet de toilette du personnage étranger auquel j’ai fait allusion, on voyait un petit tableau caché sous un voile vert. Lorsque l’on écartait la voile, on demeurait stupéfait d’apercevoir une femme grandeur naturelle, vue de face, extraordinairement émue et convulsée, remarquablement peinte, reproduite con amore, ainsi que disent les Italiens, et donnant le dernier lit du réalisme. Mais par un inconcevable oubli, l’artisan, qui avait copié son modèle sur natures avait négligé de représenter les pieds, les jambes, les cuisses, le ventre, les hanches, la poitrine, les mains, les bras, les épaules, le cou et la tête. Il est un mot qui sert À désigner les gens capables de ces sortes d’ordures, dignes d’illustrer les œuvres du marquis de Sade, mais ce mot, je ne puis le prononcer devant le lecteur, car il n’est usité qu’en charcuterie.”

Eis parte dos registos do dia 20 fotos + 16 fotos no post seguinte.

ex9wgbC.jpg


fxQHKKv.jpg


QtwGvrh.jpg


HWnaNeZ.jpg


KT47Cr8.jpg


De48heO.jpg


Kg5Eslx.jpg


sk7XEZX.jpg


TOm9MUB.jpg


AAzpSEC.jpg


qhxyxyG.jpg


XwMhf4a.jpg


d89NmJZ.jpg


2UeMrRC.jpg


MNkeKuc.jpg


cg9LT3z.jpg


aeJJDwD.jpg


nPWrMQV.jpg


CAzbg8A.jpg


FrEBhda.jpg


Continua a seguir no post 837...
 

AFP70

Active Member
Sempre que comer um pão pita lembrar-me-ei da “Origem do Mundo”…

Continuação do post 836…

5bIRgaC.jpg


zu06tiX.jpg


EWxuMIQ.jpg


ZTDSGho.jpg


OuAMAO7.jpg


VNzkpsY.jpg


jk51oVj.jpg


SpwScOd.jpg


3b8m4jZ.jpg


KvYjOZ0.jpg


FwkjqN0.jpg


9jvYfn6.jpg


kVYsEJw.jpg


eKSxpcb.jpg


G9hlQPJ.jpg


8HMUjkL.jpg


Neste mundo regido pelos algoritmos que não conseguem fazer a diferença entre arte e uma imagem hardcore, fiquem sabendo que não sei até quando ficará online a foto 12 do post anterior, isto porque apenas alguns minutos após ter colocado online (alojado), recebi um email informativo que esta seria “erasada” e eu eventualmente expulso. Como eu adoro as novas tecnologias:).

Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…
 

AFP70

Active Member
Na “Barrage de Moiry” descobri a minha nova vocação, “salta montanhas”…

Diz o povo na sua extrema sabedoria que “mais vale só do que mal acompanhado” e acreditem, por vezes é quando um tipo pedala só que se se fazem as mais bonitas descobertas.

Já quase no final de Setembro 2017, e após quase um mês sem pedalar, resolvi dar um salto para os lados da “Barrage de Moiry” a 2’249 mts, em solitário isto porque sabia de antemão que não iria ser uma volta fácil e porque também não sabia que condições climatéricas iria encontrar portanto a ter de sofrer gosto de sofrer sozinho sem prejudicar outrem :).

Quando desenhei o track no Google Earth, pensei que se trataria de uma volta tipo triângulo, isto é, sobe-se de um dos lados e depois desce-se do outro lado; azar o meu, lá em cima quando eu pensava já ter atingido o topo, aguardava-me um “planalto inclinado” se é que se pode chamar assim ;), com algumas paredes de 20 a 25% a subir. A “cherry on top of the cake” foi quando desci dos 2.787 mts aos 2.383 mts aí apanhei com algumas descidas de 38%, confesso que me "bor..i" em algumas partes, mas BTT também é isso.

Para espelhar a minha felicidade, deixo-vos este pequeno texto do Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'.

“Ninguém Tem Pena das Pessoas Felizes

Ninguém tem pena das pessoas felizes. Os Portugueses adoram ter angústias, inseguranças, dúvidas existenciais dilacerantes, porque é isso que funciona na nossa sociedade. As pessoas com problemas são sempre mais interessantes. Nós, os tontos, não temos interesse nenhum porque somos felizes. Somos felizes, somos tontaços, não podemos ter graça nem salvação. Muitos felizardos (a própria palavra tem um soar repelente, rimador de «javardo») vêem-se obrigados a fingir a dor que deveras não sentem, só para poderem «brincar» com os outros meninos.

É assim. Chega um infeliz ao pé de nós e diz que não sabe se há-de ir beber uma cerveja ou matar-se. E pergunta, depois de ter feito o inventário das tristezas das últimas 24 horas: «E tu? Sempre bem disposto, não?». O que é que se pode responder? Apetece mentir e dizer que nos morreu uma avó, que nos atraiçoou uma namorada, que nos atropelaram a cadelinha ali na estrada de Sines.

E, no entanto, as pessoas felizes também sofrem muito. Sofrem, sobretudo, de «culpa». Se elas estão felizes, rodeadas de pessoas tristes, é lógico que pensem que há ali qualquer coisa que não bate certo. As infelizes acusam sempre os felizes de terem a culpa. É como a polícia que vai à procura de quem roubou as joias e chega à taberna e prende o meliante com ar mais bem disposto. Em Portugal, se alguém se mostra feliz é logo suspeito de tudo e mais alguma coisa. «Julgas que é por acaso que aquele marmanjo anda tão bem disposto?», diz o espertalhão para outro macambúzio. É normal andar muito em baixo, mas há gato se alguém andar nem que seja só um bocadinho «em cima». Pensam logo que é «em cima» de alguém.

Ser feliz no meio de muita gente infeliz é como ser muito rico no meio de um bairro-de-lata. Só sabe bem a quem for perverso.

Infelizmente, a felicidade não é contagiosa. A alegria, sim, e a boa disposição, talvez, mas a felicidade, jamais. Porque a felicidade não pode ser partilhada, não pode ser explicada, não tem propriamente razão. Não se pode rir em Portugal sem que pensem que se está a rir de alguém ou de qualquer coisa. Um sorriso que se sorria a uma pessoa desconhecida, só para desabafar, é imediatamente mal interpretado. Em Portugal, as pessoas felizes sofrem de ser confundidas com as pessoas contentes.”

Eis parte dos registos do dia 20 fotos + 20 fotos no post seguinte (restantes encontram-se na página Bravos do Pelotão, ver crónica Nº092).

rTrOUO2.jpg


pHygwB6.jpg


h3UHa1v.jpg


nDtzocN.jpg


bwrVFJU.jpg


LFrzFUB.jpg


w5jUieL.jpg


EHUZG69.jpg


hI96YmK.jpg


uhKq961.jpg


W2oXoHq.jpg


qTVw7F8.jpg


sK2eJ3W.jpg


4rqhlSV.jpg


7CDNJcv.jpg


BOLFooO.jpg


Nszh3Hl.jpg


vEP8pdZ.jpg


czF7Mw6.jpg


My2NDYD.jpg


Continua a seguir no post 839...
 

AFP70

Active Member
Na “Barrage de Moiry” descobri a minha nova vocação, “salta montanhas”…

Continuação do post 838…

2kaF4R7.jpg


SnmmDJb.jpg


sUcyLvu.jpg


rLJEPtC.jpg


5xvOvvE.jpg


9q0i3D7.jpg


UmhKr3q.jpg


3HUurvy.jpg


sqHF3Kv.jpg


5u3jwD6.jpg


07WazIV.jpg


91HjNjf.jpg


L1mTWUQ.jpg


El6zZNu.jpg


b5vv8vD.jpg


1DVJ8Ky.jpg


spKL114.jpg


SqCBCUY.jpg


DPlfxHR.jpg


2BKwCYZ.jpg


Julgo que depois de verem estas fotos compreendem melhor o porquê de não me chatear pelo facto de demorar quase 3h00 a chegar ao local de arranque da volta, tendo esta iniciado pelas 11h00. É preciso gostar mesmo muito de BTT.

Dados da volta:

- Total distância – 48,60 Kms
- Altitude mínima – 491 mts
- Altitude máxima – 2.787 mts
- Acumulado subida – 1.120 mts
- Acumulado descida – 2.615 mts :)

Afim de vos preparar para o que der e vier, termino esta crónica com esta belíssima tirada de Marie Curie "Não importa o que se fez, só importa o que falta fazer."

Cumprimentos betetistas e até à próxima crónica…

Alexandre Pereira
Um Bravo do Pelotão, neste caso sem…
 

davidream

Active Member
bOAS!
Enfim...same old same old :D anda aqui um gajo todo macambúzio por que a metereologia está fusca e as saídas tem sido poucas:(, leva com estas paisagens austeras mas também superlativas e fica ainda mais depressivo!!(Not :D) Inveja será mais o termo.De facto ir/fazer é o melhor remédio!

Abraço Alex ;)
 
Top